A Fortuna me faz em aguarrás
o grão engenho pago a cada bago,
e a prudência afogo no bagaço
sem que deixe solto ponto ou traço.
Os desgostos me vão levando
(que já nem em mim próprio mando)
ao rio do negro esquecimento:
o eterno sono é emparedado em cimento
e a ressurreição em frondosa estrada,
embora a Ilusão seja mais forte que o Nada
Mas tu, dá-me um frio que cumpra,
ó rainha, a minha quota parte,
nesta sociedade de anónimos accionistas
com coristas treinadas em revistas.
E o que quero à nação minha,
se ser minha é já pagar um preço,
é que se vista ao avesso
e avance sem nenhum adereço!
Não mais irei cantando cruéis façanhas
que a voz enrouquece nas entranhas.
Que cante mais quem tenha força
ou dentadura sólida como a morsa!
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