GALATEIAS & MEDUSAS / Rhizostoma aldrovandi
PEDRO PROENÇA (TEXTOS) & R.-P. LESSON (IMAGENS)
27-09-2003 www.triplov.com
Previous Home Next

rhizostoma_aldrovandi

A quem não chega a antiga Sereia
nem do alaúde escuta o som bendito
está reservado o infortúnio do grito
dentro de sua própria ameia.
Será sacramento ou ressentimento?
Será fortuna ter um pé-de-meia?
Que responda negativamente a deia
que os espumosos sentimentos incendeia!

Despertando os alegres apetitos,
no profundo Reino que é a Carne,
(pois mesmo o Verbo que fez tudo
nela se mudou em carnaval e entrudo)
esses nus, heróicos e aflitos
nela procuraram em vão os infinitos
que a vida ao cabo é de gritos
(exalados e examinados por peritos)
embora encastrada de chalaças
que as Musas dispersam plas praças.

Cantava a bela consonância sincopada,
e cos acentos bem transcritos,
que pelos altos paços do contraponto
naturais melodias escondem os apitos.

Suaves vão soando e suando
em Ideias iguais, nos Corpos diferindo
os instumentos que ressacam na memória
e os que passaram (definitivamente) à história.

Vêm fundo a um tempo diáfano, conformando
não singelos ou aos pares, mas em bando.
Vêm para a vida como para um saque
e são tão incontidos quanto um traque.

Pobre é quem se dá facilmente por vencido
e do Amor só prova o esturgido.
Tenho pena do sublime tão disforme
que oculta a natureza brava, súbita, enorme.

E já me farto do Estio e suas baratas:
há que passar pelo trabalho
no Reino Outono que dá cartas
e se recusa a ser atalho
para o recolhimento terno
com que nos defendemos do Inverno.