68

Não contes os dias que passam

conta antes os milénios que te precederam

e depois põe os césares a refogar.

Antes os deuses finge venerar

com o riso iluminando a face

e as buzinas a arrear.

E a todos os contrários te entregues

moderando e excedendo nos actos.

Valerá a pena sermos pacatos?

69

Que sei do ócio, assim de repente?

Que é melhor não pensado, nem prensado

porque de pensamento semente.

Não está frio nem quente.

(estas são as montanhas,

estas minhas montanhas que andam para aqui)

Ociosos sejamos,

ciosos sujemos.

Erigindo monólitos!

As pedras são ásperas quando beijadas.

As estórias deitam-se

e dormem a sesta.

Cá estamos dormidos. Quem nos interroga?

70

Não há actos simultâneos:

tu e eu nunca fomos contemporâneos,

e é diverso o tempo em que vivemos.

Também não há actos dessíncrones:

não há nada que não se cruze

em tempos embora desfasados.

Da obscuridade nascemos

na inactualidade perecemos!

Ficamos metafisicamente estacionados!

Ficamos intermitentemente entalados?