PEDRO PROENÇA
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11-05-2004

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65

 

Que um deus obreiro me abrase

e uma freira se case.

 

Ao nem se mostrar ou esconder

fica o melhor para ver.

 

Nem sob impuros disfarces

ou travestismos lilases.

 

Faça-se meu o seu teatro

sair do húmido godé.

 

Uma verdade de la palisse .

Já aqui não está quem a disse…

 

66

 

Agora que são fluidos os ritos chineses,

agora que a angústia tem os dentes afiados,

agora que as crianças crescem nos canteiros

acendem-se isqueiros.

 

E os deuses tocam numa orquestra sinfónica

ao serrarem nos seus instrumentos de corda

uma peça do Charles Ives.

 

São entreactos e não músicas verdadeiras

dizem os melómanos de ocasião.

 

São poucos os que provaram lembranças.

Tinham dentes a mais.

 

Não te iludas com o esquecimento

mesmo civilizações sepultadas há milénios têm mais uma oportunidade.

 

Os esquecidos estão a obrar

no vento áspero do Sahara.

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67

 

Se se faz inviolável

o pensamento

inviolável permaneça

o pudor ignorando

às irrecusáveis violações

aberto.

É uma porta que range

decerto!

 

Mas quem delas sabe?

Nem eu, quando as coloco

no dos deuses terraço!

Como anónimo alcoólico

chamo os bombeiros

para apagar o delirium tremens .

Metafísica a mais nos subúrbios.

Palimpsesto a retalhos nas observações…