O meu cérebro é um amontoado de rascunhos. Mesmo aquilo que passa por redação final é passos em falso, ainda que poeticamente peremptórios ou filosoficamente embriagantes.
Encaracolamo-nos no orgulho para que as emoções se enegreçam e a amada desponte como um obscuro prémio que imerecidamente nos é oferecido sob a capa de devotas fantasias.
Pensar é crescer devagar numa toca – mas o que queremos é ser tocadas por mãos que ritmicamente se despeçam do espírito.
O amor que amorosamente se filosofa espanta a morte? Ou espanca-nos conceptualmente?
Esta agudeza familiar e afásica que nocturnamente nos replica e engole é a argucia de uma natureza que não pactua com definições pardas.
O silêncio é ventriloquo – por isso a inteligência se deixa embalar, mas não derrotar, na veemência do transe.
A sua continência enfatuava não só a matéria, como tornava gordurosos os meandros do suposto espirito.
E que enfabulado seja o teu nome.
Despede-te devagar da arte que para ti se vai despindo, até que a sua nudez original revele a banalidade (ou a prolixidade) do divino.
A outra face da moeda era a impossibilidade de te possuir na posse, por mais que eu me diluisse amorosamente em excessos e algo nos abolisse em rápidas eternidades.
A estima não se compadece com estimativas.
O entendimento plausível é a convenção que jamais poderemos suportar.
A carta patente nesses olhos que se deixam ler de soslaio ficou registada para sempre.
A ambição sedimenta-se apenas na liberdade, isto é, na disponibilidade liberal para as melhores ocasiões.
As minhas ligações tornam-me mais indeterminada, menos concentradamente amorosa, mas mais expansiva, como as papoilas quando primaverilmente se propagam.
Vês-te livre da ironia, como de uma nausea que te obscurece os sentidos?
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