O rasa mantê-lo-á flutuante – em cima as sensações passeiam-se, porque a arte devolve-nos algo anterior à ingenuidade, algo que não é silencioso, e que sobe de uma animalidade soberba para nos erguer a algo mais nobre que a divindade.
Então sentimo-nos prosperarando viciosamente nestas inclinações que são a alma espelhando-se mundo, e de uma só penada compreendemos que não há molde, nem para as nossas intimas singularidades, nem para os agenciamentos genésicos do absoluto.
O amor era a oportunidade de um auto-deterioramento como vizinhança de um sublime adiado.
Um epitáfio é uma oportunidade tardia de se dizer o «defenitivo» traindo assim as indefenições constantes que assombram a vida.
Cozinhamos pensamentos que prosperam como uma «intimidade» verbalizada e sentimos a soberba dessas palavras como uma mortalidade exquis – as obras não nos desembaraçam do esquecimento, e vão-se deveras alheando no como as arquivamos, ainda que as vejamos como criaturas irrequietas.
Seu nome sabe a menta – refresca-me o medo de lhe provar o corpo, porque provando-o se lhe desfaz a imortalidade que a memória do não-acontecido monumentaliza.
Livros são constituidos por fórmulas mágicas que ficaram aprisionadas num sarcófago depositado num extremo subterrâneo do mundo.
O Ser é encenado pelo acaso – o que explica a inconstancia dos apetites mais fortes e a «fatalidade» de tantos disparates.
A respiração do mundo assenhora-se da nossa respiração como se fossemos narinas famintas – mas o ar é mais doce que os açucares no modo como nos entra e nos refresca os miudos meandros corpóreos.
Eu cedo à vertigem mansa da fidelidade, mas não posso castrar o desejo – por mais que a Musa se imagine mumificada e que a voz tenha perdido das inflexões da sedução o terno geito.
Digo Museu, como se a Arte não fosse clamor que, mesmo no seu desesperamento, se despede dos favores da clausura.
O conhecimento é favorecido por tuas garras, que o inscrevem hieroglificamente como arranhões neste corpo que dizes meu.
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