DO AMOR E MUITO MAIS OU O ASSENHORAMENTO DOS SONETOS SEGUNDO SONIANTONIA & SANDRALEXANDRA : INDEX
MINIATURAS PÉRFIDAS
Devaneio hermético de uma irrequieta céptica.
As dificuldades amorosas parecem por vezes infecções, mas devo continuar nestes desageitados arranques de desejo.
A sua graça torna-me inabil em práticamente tudo. Há nessa graça algo impiedoso. Devo desossar o desejo ou deixar-me arrastar por um patetismo que deixa rasto de mácula sem mácula?
Sento-me na desvantagem, mas hei-de conseguir o que erradamente almejo.
A pintura é falsa no que imita mas mordente nos efeitos.
A intensidade dos vivos parece roubada ao fedor da morte.
Porque a beleza empobrece indiretamente, mostrando as deusas que estavam na sombra, agora, em semblantes carnais.
A natureza é falência quando não nos tornamos hipersensíveis.
Deixa que o rubor do sangue asse o teu perfil através da crispação das vívidas veias. Porque a morfologia do que é sexo não se deixa falir por mais que se lhe atribua metafóricamente a imagem de miniaturas tanáticas.
PEDRO PROENÇA. Nascido por Angola (Lubango) pouco depois de rebentar a guerra (1962), veio para Lisboa em meados do ano seguinte, isso não impedindo porém que posteriormente jornalistas lhe tenham descoberto «nostalgias» de Áfricas. Fez-se rapaz e homem por Lisboa, meteu-se nas artes e tem andado em galantes exposições um pouco por todo o mundo, com incidência particular no que lhe é mais próximo. O verdadeiro curriculum oficial mostra muita coisa acumulada com alguma glória e devota palha. Tem ilustrado livros para criancinhas e não só, não porque lhe tenha dado ganas para isso, mas porque amigos editores lhe imploraram. Também publicou uma estória entre as muitas de sua lavra (THE GREAT TANTRIC GANGSTER, Fenda, em edição que, por estranhos motivos, foi retirada de circulação), um livro muito experimental de ensaios (A ARTE AO MICROSCÓPIO, também da Fenda) e um grosso livro de poemas comentados com imagens (O HOMEM BATATA, editado pelo Parque das Nações). Compõe, mediocramente, musica no seu computador, e é um yogui quase consumado.
Pedro Proença. Born Lubango, Angola, 1962. With an exhibition in the Roma e Pavia Gallery in Oporto, at the end of the 80's he begins, a cycle of installations which have continued until today, and make up a work in progress. These works, which use such poor materials as indian ink drawings on paper, are structured according to previous architectures or constructions which emphasise the multiplication of the dynamic planes of framing. In this decade he has exhibited paintings which complement these installations, aiming at serialising the "plurality of the subject", and permanently responding to questions in the artistic field (current ones or uncurrent ones), to which he cannot remain passive. As it is known that he is also engaged in a literary activity which is beginning to be published, his works should be seen as a coming-and-going within this controversial space which confronts images with words, either as "allegorical appearances" or as "narrative possibilities".