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Pedro Proença......

DO AMOR E MUITO MAIS OU O ASSENHORAMENTO DOS SONETOS SEGUNDO SONIANTONIA & SANDRALEXANDRA : INDEX

FALÁCIAS NUMA CABANA

Meu coração acerca-se dos teus cumes como de uma taça por onde a imperatriz bebe em silêncio – mas dispensa das adulações a fecunda flatulência.

Esta alquimia severa engendra monstros que não os da razão ou da sua mingua – o amor pasta a sua loucura como uma negra criatura invectivando cornudamente contra tudo. Preferias os açucares e as molenguices e todos os gestos sensíveis, mas esta ferocidade indegere o mundo, e pouco se lhe pode fazer.

O palácio do palato sabe que provar-te é venenoso, e que a tua boca não é um copo, mas uma silênciosa degradação das invulnerabilidades – és inescrutável, e sabes que a perfeição é a soma das impurezas sem que te apercebas do demoniaco fel.

Constrois, como o castor, a tua cabana como uma beleza pessoal, e o crítico afia os dentes como uma moto-serra – mas são as inclemências do tempo, ou a ironia das gerações que levarão tuas moradias destroçadas – ninguém recordará os contornos bizarros que deste a requintados sentimentos ou a brutais relações – serás impessoal ainda antes do tempo.

As mentes só se podem amar em dissimulação – a comunhão dá-se como um incidente teatral que desfaz circunstancialmente desimpedimentos – dizes que a ofensa e a desonra terão papel predominante nos actos finais porque as comédias são a vida demasiado concertada, mas o desfecho da peça será sempre uma surpresa.

Por mais que o trágico e o tempestuoso se insinuem, com suas palavras carregadas e tentaculares, sinto que quer nós quer a natureza, nos seus grandessíssimos efeitos, somos algo de tolo e falta-nos as arte de dar um sentido sublime ou um qualquer desfecho à vida e à mortalidade – é esta abertura cómica, esta incipiência amorosa que nos deixam cómicamente aventurosas, sem saber para onde ir, acompanhadas desconcertadamente de nós próprias.

Fulminante falácia à qual sobra demasiado efeito.

O amor como alterne de estranhesas.

Sou tórrida nos erros, desvios, maningâncias, desamores, distânciamentos, palavras compridas, considerações incertas – e aceito os sisudos julgamentos sem cinismo, e com a tranquilidade de quem passa, com esmero, roupa a ferro.

Sítios do Autor

http://www.sandraysonia.blogspot.com/ 
http://juliorato.blogspot.com/ 
http://www.pierredelalande.blogspot.com/
http://www.tantricgangster.blogspot.com/
http://www.budonga.blogspot.com/
http://www.renatoornato.blogspot.com/
PEDRO PROENÇA. Nascido por Angola (Lubango) pouco depois de rebentar a guerra (1962), veio para Lisboa em meados do ano seguinte, isso não impedindo porém que posteriormente jornalistas lhe tenham descoberto «nostalgias» de Áfricas. Fez-se rapaz e homem por Lisboa, meteu-se nas artes e tem andado em galantes exposições um pouco por todo o mundo, com incidência particular no que lhe é mais próximo. O verdadeiro curriculum oficial mostra muita coisa acumulada com alguma glória e devota palha. Tem ilustrado livros para criancinhas e não só, não porque lhe tenha dado ganas para isso, mas porque amigos editores lhe imploraram. Também publicou uma estória entre as muitas de sua lavra (THE GREAT TANTRIC GANGSTER, Fenda, em edição que, por estranhos motivos, foi retirada de circulação), um livro muito experimental de ensaios (A ARTE AO MICROSCÓPIO, também da Fenda) e um grosso livro de poemas comentados com imagens (O HOMEM BATATA, editado pelo Parque das Nações). Compõe, mediocramente, musica no seu computador, e é um yogui quase consumado.

Pedro Proença. Born Lubango, Angola, 1962. With an exhibition in the Roma e Pavia Gallery in Oporto, at the end of the 80's he begins, a cycle of installations which have continued until today, and make up a work in progress. These works, which use such poor materials as indian ink drawings on paper, are structured according to previous architectures or constructions which emphasise the multiplication of the dynamic planes of framing. In this decade he has exhibited paintings which complement these installations, aiming at serialising the "plurality of the subject", and permanently responding to questions in the artistic field (current ones or uncurrent ones), to which he cannot remain passive. As it is known that he is also engaged in a literary activity which is beginning to be published, his works should be seen as a coming-and-going within this controversial space which confronts images with words, either as "allegorical appearances" or as "narrative possibilities".