Todo o retrato é uma suspeição que veste a obscenidade do olhar.
Oferece-me banquetes pintados de forma a que me banqueteie tornando-me pintura.
O retrato é o objecto de magia em que te enganas na devoção por algo amável que não sabemos o que é. É a ambiguidade entre o tu imagináriamente conversável e o ela do retrato, enquanto objecto de devaneios suspeitáveis.
O inapropriavel pronome afasta-me até de mim e torna mais irreais todos os pronomes e toda a nomeação. Depois disto nem os deuses poderás solicitar, casa os haja, para que te socorram em horas agudas.
Destilas prudências e sublimas o imprudente.
Regalam-te pensamentos à sobremesa, que recusas a provar ou a aproveitar. São esses que vão contigo para a cama. Frequentemente.
Examino-me como se me amaneirasse. Faço instrospecção abusando de vários estilos. A intimidade é um conjunto de bagatelas sob a batuta de um maestro snob. A retórica disfarça a sensibilidade, mas não a suprime.
Utilizas a cadeia da confiança como uma pressão que te aprisiona devagar.
Pavoneias gargalhadas como método de afastar confidências.
Mas a ingerência nos meus cuidados não permito, pois minhas ninharias jóias são.
A garganta é elegância e vulnerabilidade. Procura assomá-la como um criminoso que explora o crime, com conforto e dignidade.
O artista é uma ave de rapina se o julgarmos pelo olhar.
A faculdade do prazer nivela as restantes faculdades por baixo.
A verdade é um sistema de provocações e de provações mais do que a evidência patética de provas.
A perícia na usurpação da lascívia alheia.
A voz vem como uma subtração ao tempo.
Quando verás a gordurosa fronha dos teus defeitos? Cativas para que te mostrem essa mediocridade que procura clemência?
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