A MÃO SOBRE O MÁRMORE / É DO POEMA QUE NASCE A CALIGRAFIA José António Gonçalves 04-04-2005 www.triplov.org |
É do poema que nasce a caligrafia. No teu rosto, desenho-a. Vejo-a dançar ao som das palavras, do sentido dos gestos. Deslumbrado, gasto todas as tintas, os pincéis, a lágrima que encontro nos cantos dos teus olhos. Em fundo, nos azuis, entre os vermelhos, cristalizo-te, como uma ave suspensa nos céus. Falo-te com o corpo todo. Faço-te confissões, digo-te tudo o que poderás querer ouvir. Alego sofrimentos e estradas de solidão e de dádivas singulares, de aprisionamentos ao ar puro que te respiro em segredo na alma. É a loucura sem remissão que trago para a mesa. A caligrafia que uso, como emissária, para cobrir-te de ternura. Tão longe ficam os outros entendimentos, castelos de defesa frágil, com as suas terras de lavoura demorada; puxo a caixa de areia e lá esboço outros destinos, as nuvens procuram-me, trazendo consigo a sua capa de chuva. Perene, a mensagem desfaz-se com o movimento, breve, dos teus passos e deito-me, então, por sobre o pergaminho, onde, lento, registo o som do amor, só para asseverar-te como és o teor destes traços. |
José António Gonçalves
(inédito.01.02.05) |