Eu sou o céu estrelado de Caieiras
e o dia que vem do Oriente
na vaga do ventre noturno.
Eu sou a intuição do cacique
e seus batuques de deuses
evocando pensamentos.
Eu sou a ciência e seu método
de fabricar libélulas em fogo. Eu sou
o estado febril das peles
e o cobertor de vento gelado
na madrugada. Eu sou o vazio
dentro do nada e o preenchimento dos campos
de rubras vinhas.
Eu sou a psicanálise e sua técnica
de fazer transpirar os desejos na terra do corpo,
eu sou a terra e suas placas tectônicas revirando
os tempos. Eu sou o vão
entre o trem e a plataforma
Eu sou estas casas fruto do imaginário
humano de habitar orbitas
Eu sou o viajante e o morador, sou quem escreve
e sou a escrita talhada em pedra
sabão. Eu sou o trapezista
no arco de um salto e a insegurança
na queda.
Eu sou a morte de cada instante e a noite
parindo uma aurora.
Eu sou o céu e as estrelas e os espaços no entre,
sou
o cansaço e a esperança do dia que vem sem volta,
sou
a friagem noturna e a quentura sob os lençóis. Sou
amado
e sou amante, sou a luz e seu duplo, sou a busca
do Livro
e o livro não-lido e todos os livros que li. Sou a
vontade de partir,
a vontade do regresso e a vontade de ficar.
Sou rio
baldo e sou
dia
dorim, o cio e a estiagem,
grande sertão e as veredas, a queda e a poça
d’água, a flecha e o alvo e o movimento, sou
fantoche dos deuses e
deus encarnado em cada órgão, sou a primavera a
espreguiçar
no inconsciente do inverno. Eu sou o jejum e a
fome, o engano
e a certeza.
18 de
abril de 2010
Daniel
Franção Stanchi
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