55
«Este pôde colher as maçãs de ouro
Que somente o Tiríntio colher pôde.
Do jugo que lhe pôs, o bravo Mouro
A cerviz inda agora não sacode.
Na fronte a palma leva e o verde louro
Das vitórias do Bárbaro, que acode
A defender Alcácer, forte vila,
Tângere populoso e a dura Arzila.
56
«Porém elas, enfim, por força entradas,
Os muros abaxaram de diamante
Às Portuguesas forças, costumadas
A derribarem quanto acham diante.
Maravilhas em armas, estremadas
E de escritura dinas elegante,
Fizeram cavaleiros nesta empresa,
Mais afinando a fama Portuguesa.
57
«Porém despois, tocado de ambição
E glória de mandar, amara e bela,
Vai cometer Fernando de Aragão,
Sobre o potente Reino de Castela.
Ajunta-se a inimiga multidão
Das soberbas e várias gentes dela,
Desde Cáliz ao alto Perineu,
Que tudo ao Rei Fernando obedeceu.
58
«Não quis ficar nos Reinos occioso
O mancebo Joane, e logo ordena
De ir ajudar o pai ambicioso,
Que então lhe foi ajuda não pequena.
Saiu-se, enfim, do trance perigoso,
Com fronte não torvada, mas serena.
Desbaratado o pai sanguinolento,
Mas ficou duvidoso o vencimento;
59
«Porque o filho, sublime e soberano,
Gentil, forte, animoso cavaleiro,
Nos contrários fazendo imenso dano,
Todo um dia ficou no campo inteiro.
Destarte foi vencido Octaviano,
E António vencedor, seu companheiro,
Quando daqueles que César mataram
Nos Filípicos campos se vingaram.
60
«Porém, despois que a escura noite eterna
Afonso apousentou no Céu sereno,
O Príncipe que o Reino então governa
Foi Joane segundo e Rei trezeno.
Este, por haver fama sempiterna,
Mais do que tentar pode homem terreno
Tentou, que foi buscar da roxa Aurora
Os términos, que eu vou buscando agora.
61
«Manda seus mensageiros, que passaram
Espanha, França, Itália celebrada
E lá no ilustre porto se embarcaram
Onde já foi Parténope enterrada:
Nápoles, onde os Fados se mostraram,
Fazendo-a a várias gentes subjugada,
Pola ilustrar, no fim de tantos anos,
Co senhorio de ínclitos Hispanos.
62
«Polo mar alto Sículo navegam;
Vão-se às praias de Rodes arenosas;
E dali às ribeiras altas chegam
Que com morte de Magno são famosas;
Vão a Mênfis, e às terras que se regam
Das enchentes Nilóticas undosas;
Sobem à Etiópia, sobre Egipto,
Que de Cristo lá guarda o santo rito.
63
«Passam também as ondas Eritreias,
Que o povo de Israel sem nau passou;
Ficam-lhe atrás as serras Nabateias,
Que o filho de Ismael co nome ornou.
As costas odoríferas Sabeias,
Que a mãe do belo Adónis tanto honrou,
Cercam, com toda a Arábia descoberta,
Feliz, deixando a Pétrea e a Deserta. |