O “amor de Deus” senti-o muito, desde sempre:
Ó lancinantes dores, ó operações tantas ao corpo deficiente.
Dor pelas paredes brancas, dor por Londres inteira,
Num grito inescutado e permanente. O nada existe:
Nas anestesias nada existe, puro vazio no interior de um puro vácuo.
O “amor de Deus”: oh! sentido tantas vezes!, pois “Deus é amor”!
Gritos da ambulância num lugar junto à morte, tubos de oxigénio,
Urina, sangue enchendo o ventre, tensão arterial quase nula.
Não havia flores, nem lágrimas. Apenas um abismo
Jamais entrevisto. E a tua presença, junto à minha dor,
Ó sempre enfermeiro e amor e irmão. “Deus é amor”.
Desde sempre o foi, como uma tortura sem fim, desmedida e podre:
O destino, desde quando nasci: não chorar porque
Já sem lágrimas, de tantas, não gritar mais porque já sem voz,
Desaparecida. Mas sempre a vossa presença de amor,
Que ainda hoje me ampara.
Em redor, um circo infinito, que aplaude, desde sempre.
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