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ANTÓNIO CARDOSO PINTO |
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... na POESIA não era só ele ... |
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Ele era também Álvaro de Campos
e Alberto Caeiro e Ricardo Reis
e era-os profundamente, como só ele sabia ser
na poesia como na vida
na vida como na arte.
Tudo nele era inesperado
desde a sua vida, até aos seus poemas, até à sua morte.
Inesperadamente,
como se se anunciasse um livro ou uma nova corrente literária por ele
idealizada e vitalizada,
correu em Lisboa a notícia da sua morte :
era um sábado, esse 30 de Novembro de 1935
*
Ele dizia:
O meu sentido interior predomina de tal modo sobre os meus cinco
sentidos
que vejo coisas nesta vida - acredito-o - de uma forma diferente dos
outros homens.
Há para mim - houve - toda uma riqueza de significações em coisas tão
ridículas como a chave de uma porta, um prego na parede, os bigodes de
um gato.
Há para mim toda a plenitude de sugestões espirituais numa galinha que
atravessa a rua com os seus pintainhos.
Há para mim todo um significado mais profundo do que os próprios receios
humanos no cheiro de sândalo, em latas velhas num monte de lixo,
numa caixa de fósforos deixada numa valeta, em dois papéis sujos que
num dia de vento esvoaçam e se perseguem pela rua abaixo.
Porque a poesia é espanto, admiração ...
*
... O que dele disseram :
"Era um senhor suavemente simpático, muito bem vestido que levava
escondido no lábio superior um sorriso discretamente irónico.
A calvície, os olhos gastos, esse seu geito de estar sentado com as mãos
sobre os joelhos, essa sua voz velada, davam-lhe um ar estrangeiro,
distante no tempo e no espaço." *
» Jorge de Sena «
"Aprendi o suficiente português para poder ler Pessoa directamente." *
» Samuel Beckett «
"O leitor de Pessoa jamais poderá entender o verdadeiro alcance da sua
obra se se limita, como é geralmente o caso, a considerar cada
heterónimo
como um todo. Só a 'mise-en-scène espiritual exacta', que Mallarmé
valorava mais do que qualquer outra, lhe permitirá orquestrar as vozes
dispersas das diferentes personagens." *
» Maria Teresa Rita Lopes «
"Neste homem havia tal lucidez que só é possível imaginá-lo consciente
do
que estava escrevendo: e é de supor que não o estaria menos numa das
Odes impecáveis de Ricardo Reis do que num poema aparentemente
espontâneo de Álvaro de Campos. Se há, de facto, um drama do homem
na poesia de Pessoa, é o drama da lucidez implacável." *
» Adolfo Casais Monteiro «
* * *
... sentir tudo e de todas as maneiras.
sentir tudo excessivamente ....
... Tudo vale a pena
se a alma não é pequena ...
... Fui tudo, nada vale a pena ...
... Já sobre o meu vazio coração
desceu a inconsciência abençoada
de nem querer uma ilusão ...
... Sou um navio que chegou a um porto
e cujo movimento é ali estar ...
... A poesia é espanto,
admiração ...
... Quebra-te, coração ... *
* * *
* Disse-nos Adeus há 76 anos * A sua Estrela brilha ! *
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António Cardoso Pinto
Natural de Malanje - Angola (07.12.45). Estudou em Tomar e ingressou na Rádio, em Fevereiro de 1965, na Emissora Oficial de Angola, em Luanda. Responsável pela abertura dos Emissores Regionais de Cabinda (1970/72) e de Dalatando, (1972/75).
Em Lisboa, em 1976, depois de uma breve passagem pela redacção do jornal “A Luta”, volta à rádio, ingressando nos quadros da RDP – Antena 1, como jornalista, mais tarde como editor do “ Último Jornal ” e, depois, como realizador do programa: “ Nau Catrineta ”. Fez parte do Conselho de Imprensa e foi vice-presidente do Clube dos Jornalistas .
Na Direcção de Programas da Antena 1, integra a equipa do programa “ Imaginário ”, durante 5 anos. Vai para Oriente - Rádio Macau - em 1990, regressando à Antena 2 em 1995, onde realiza o programa “ Reflexos ”. No ano seguinte é convidado a integrar a estrutura da Antena 1 , como chefe do Departamento de Programas , sendo responsável também por um programa diário de divulgação da Poesia: “ À Esquina da Um ”- 1996/98, “ À Esquina do Século ” - 1999 e “ À Esquina do Mundo ” - 2000/2003. No Arquivo Histórico da RDP existem mais de dois mil registos sonoros por si realizados. Em Junho de 2002 acumula, em regime de interinidade, o cargo de Director da Antena 1, que veio a abandonar em 31 de Janeiro de 2003.
Vê publicado, em Março de 1999, o seu primeiro livro de poemas: “ A Lua dos Astronautas não é a Minha Lua ”, com edição da Gradiva. Em Setembro de 2002 é lançado pelo Orpheu Digital, Caxias do Sul, Brasil, o livro de poemas: “Reflexos” - edição bilingue: português e espanhol (tradução de Lorenzo Pellegrin) - com distribuição na América Latina e Espanha. |
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