RENATO SUTTANA

Lâmina (e outros poemas) (2006)

INDEX
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IX / DEPOIS DE UMA NOITE

Depois de uma noite

de velório

a presença do morto

se desgasta um pouco

 

A vida dos vivos

se desgasta um pouco –

e tudo permanece como que

inalterado

 

Pela manhã

recrudesce a dor

E as sombras que dormiram na noite

(que se despiram de si mesmas

na noite)

se põem de novo em movimento

e as aflições recrudescem

(E tudo permanece inalterado)

 

Levamos o morto para a sepultura

(seu olho ausente não nos enxerga

como outrora:

e sua boca é silêncio)

Com o penhor da fadiga da noite

e das preces

e dos pensamentos

exauridos

que a noite dilapidou lentamente

 

(A felicidade, pensamos,

não é nenhuma regra

deste mundo)

 

O silêncio do morto

desgasta as vozes

ao redor.

Renato Suttana – in Lâmina (e outros poemas) (2006)
O livro todo pode ser lido a partir do endereço http://www.arquivors.com/renato_lamina.pdf
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