Desde setembro de 2008, os Centros de Estudos Brasileiros (CEBs) passaram a ser chamados Centros Culturais. De acordo com instruções enviadas pelo Ministério das Relações Exteriores,
“tradicionalmente os Centros de Estudos Brasileiros (CEBs) focalizavam prioritariamente suas atividades no ensino da língua portuguesa. Ao longo dos últimos anos, essas atividades têm-se intensificado e expandido passando a abarcar também a divulgação da cultura brasileira nas suas diversas manifestações. A denominação ‘Centro de Estudos’ deixou, assim, de alcançar conceitualmente a ampla esfera de atuação dessas unidades. Hoje os CEBs oferecem sessões de cinema, exibições de dança e capoeira, encontros gastronômicos, mostras de artes plásticas, cênicas e fotografia, e concertos musicais, muito além da promoção da língua portuguesa. Ademais, promovem a divulgação de manifestações artísticas e culturais locais, tendo se transformado em genuínos centros culturais. Justifica-se, assim, fazer refletir em sua denominação essa nova realidade. A partir de agora, os CEBs passarão a intitular-se ‘Centro Cultural Brasil-_____________ (nome do país)’.”
Esses Centros Culturais, os antigos CEBs, funcionam em inúmeros países, entre eles: na Alemanha, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Guiana, Guiné Bissau, Haiti, Itália (em Roma e Milão), México, Moçambique, Nicarágua, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.
Além das aulas de língua portuguesa, o CEB ou Centro Cultural Brasil aplica o CELPE-Bras,
“o Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros, desenvolvido e outorgado pelo Ministério da Educação (MEC), aplicado no Brasil e em outros países com o apoio do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O CELPE-Bras é o único certificado brasileiro de proficiência em português como língua estrangeira reconhecido oficialmente. Internacionalmente, é aceito em firmas e instituições de ensino como comprovação de competência na língua portuguesa e, no Brasil, é exigido pelas universidades para ingresso em cursos de graduação e em programas de pós-graduação.”
Mais informações e inscrições: www.mec.gov.br/sesu/celpe
http://www.ceb-barcelona.org, outubro de 2008
Os cursos de língua portuguesa em São Domingos vêm sendo oferecidos pela Embaixada do Brasil na Escuela Primaria República del Brasil e na Universidad Autónoma de Santo Domingo (UASD) desde a década de 1980, o que será ampliado com a criação do Centro Cultural Brasil – República Dominicana pela Embaixada do Brasil com o apoio do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores. O Centro é formado pela Biblioteca Hilda Hilst, salas para conferências e aulas (Salas Manuel Bandeira, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade), para oficinas e exposições de artes plásticas e fotografia (Salas Tarsila do Amaral e Sebastião Salgado, Ateliê de Criatividade Guimarães Rosa), para projeção de filmes (Sala Glauber Rocha), além da Cozinha Adélia Prado, para aulas de culinária, e de outros espaços que podem ser utilizados para reuniões e eventos culturais como o Espaço Villa-Lobos, Espaço Chico Buarque, Sala João Cabral de Melo Neto, Espaço Cecília Meireles, Sala Anita Malfatti, Jardim Vinicius de Moraes e Café Machado de Assis. Nesse ano de 2008, comemora-se o centenário da morte do escritor brasileiro considerado o maior expoente de todos os tempos da literatura nacional: Machado de Assis. Em 19 de setembro de 2007, foi publicado no Diário Oficial da União a Lei nº 11.522, que institui 2008 como o Ano Nacional Machado de Assis, assinada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e por Gilberto Gil, ministro da Cultura naquela ocasião.
O Centro Cultural Brasil – República Dominicana oferecerá cursos de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira, de I a V, além de cursos temáticos que serão organizados de acordo com as necessidades dos estudantes e as propostas de professores. Pretende-se desenvolver atividades semanais como Cinema na 4ª-feira e Voz e violão: noite de poesia e música brasileira. Nesse projeto, os participantes poderão ler poemas e cantar em português, de forma espontânea, em apresentações individuais ou em grupo. Voz e violão é um projeto que será desenvolvido ao ar livre, no Jardim Vinicius de Moraes. Com o objetivo de que os estudantes pratiquem a língua portuguesa como parte da vida diária, o Centro Cultural oferecerá várias atividades permanentes.
As atividades culturais esporádicas previstas envolvem sobretudo a cultura brasileira e dominicana. Para 2009, estão programadas: participar, com diversas atividades culturais, nos 15 dias da Feria Internacional del Libro de Santo Domingo, sendo o Brasil país homenageado; sediar noites de trovas do I Juegos Florales del Caribe, promovido pela União Brasileira de Trovadores (UBT) e organizado pelo poeta dominicano Claudio Garibaldy Martínez, evento que contará com apresentações de trovas em português e espanhol; organizar exposição de fotógrafos brasileiros com o objetivo de participar do IV Photoimagen em setembro, mês da fotografia em São Domingos.
Na Biblioteca Hilda Hilst, há o Espaço Monteiro Lobato, dedicado às crianças, com livros, revistas e gibis, onde haverá atividades como contar histórias e cantar em português. Pretende-se também oferecer aulas de artes plásticas, artesanato e culinária em português, utilizando material didático/teórico publicado em língua portuguesa.
Um calendário comemorativo de feriados nacionais brasileiros e festas tradicionais está sendo desenvolvido, para que se promovam atividades culturais nas principais datas. Ao organizar festas em países estrangeiros, deve-se tomar o cuidado de não transformá-las pois migram de seu contexto original para o de outra cultura. É claro que algumas adaptações às vezes são necessárias, mas é preciso ter senso crítico no momento de realizá-las. Essa é também uma das preocupações do Café Machado de Assis, coordenado por Ivone e Sergio Lisboa, que aspira a ser uma cafeteria que veicule a cultura e culinária brasileira.
O Centro Cultural Brasil deseja apoiar eventos culturais que são realizados em São Domingos há alguns anos. As festas juninas, por exemplo, organizadas por funcionários da Embaixada do Brasil e pela empresa brasileira Odebrecht; as aulas de capoeira, oferecidas por dois professores brasileiros.
Conhecendo a vida cotidiana da República Dominicana e Brasil, nota-se que há realidades semelhantes, especialmente em ambientes escolares. A partir dessa experiência, acredito que é importante cultivar, nos espaços educativos e culturais, valores como: a pontualidade, a criatividade, a limpeza e organização do ambiente de trabalho e de estudo, a reciclagem e o não-desperdício, o trabalho em equipe, o silêncio, promovendo campanhas, em português e espanhol, a fim de evitar ruídos perto da biblioteca e das salas de aula, durante a projeção de filmes, apresentações teatrais e de música. É importante desenvolver campanhas para diminuir o uso de celular durante aulas e eventos culturais, assim como para contribuir para que se diminuam os ruídos no dia-a-dia, como o excesso do uso de buzinas, podendo se ampliar para uma campanha de respeito ao pedestre e aos sinais de trânsito. Como projeto educativo e entidade governamental, pretende-se valorizar o potencial e desejo de aprender de professores e artistas iniciantes, assim como valorizar o trabalho e as obras de grandes artistas e intelectuais, promovendo a sua difusão através de publicações, produção de audiovisuais, exposições e conferências. Segundo o cantor e compositor Joan Manuel Serrat, “a situação que vivemos é só a ponta do iceberg da crise que vive esta sociedade; chegou-se a isto pela falta de valores e porque fomos muito permissivos.” (1) Nesse sentido se expressa muito bem a jornalista dominicana Ebony Lafontaine quando diz que
“se nos detivéssemos para observar objetivamente o panorama nacional do ponto de vista de como nos relacionamos uns com os outros, poderíamos dar-nos conta de que nossas relações humanas andam mal, em via de deterioração e agravando os problemas que nos afligem como nação. [...] Introduzir mudanças na forma de comportarmo-nos com o outro não significa deixar de lado nossa personalidade; ao contrário, a fortalece. Essa fortaleza reflete-se em nossas emoções, equilíbrio pessoal e em uma relação interpessoal efetiva.”(2)
Ter um site com textos, material informativo sobre as aulas e programação cultural, publicados em português e espanhol, é um dos serviços que se pretende oferecer em breve. Inicialmente utilizamos para difusão dos eventos culturais convite impresso, e-mail e o Blog Dominico-Brasilero, criado pelo professor Sergio Lisboa em maio de 2008 (http://dominico-brasilero.blogspot.com).
Mais que interesse por conhecer a cultura brasileira, nota-se amor pelo Brasil, pelos brasileiros e por nossa cultura nos olhos de muitos dominicanos quando falam de nosso país. No contato diário com inúmeros dominicanos, especialmente durante a Feria Internacional del Libro de Santo Domingo, nas edições de 2007 e 2008, descobri esse amor pelo Brasil quando os dominicanos falavam de nossas novelas, do samba e do carnaval do Rio de Janeiro, da diversidade cultural, da extensão e belezas naturais, do cinema e da música brasileira, do futebol, do Cristo Redentor e da Amazônia. Na República Dominicana, o contato com notícias e música do Brasil é quase diário, nos jornais e restaurantes; também nas ruas, ao ver pessoas com camisetas, bolsas ou acessório que apresentam a bandeira do Brasil ou o nosso verde-amarelo. É impressionante a quantidade de dominicanos que afirmam que seu sonho é conhecer o Brasil antes de morrer.
Nesse espírito de cultivar o amor entre os povos, o Centro Cultural Brasil – República Dominicana planeja apoiar a “Associação Amigos de Brasil”, projeto proposto pelos escritores dominicanos Manuel Mora Serrano e Alexis Gomes Rosa, que também participam dessa Bienal Internacional do Livro do Ceará. Vale notar que temos recebido constantemente apoio de artistas, intelectuais e amigos vinculados a diversas modalidades artísticas. Sem enumerar todas, gostaria de citar a Dirección Regional y Provincial de San Juan de la Maguana, o Grupo Photoimagen, o Centro Cultural Eduardo León Jimenes, o Centro Cultural de España, a Arbaje y Chueke S.A. – Arquitetura, Construção e Paisagismo, a Cámara de Comercio Dominico-Brasileña, Artes: revista especializada en arte caribeño, Cariforum: revista cultural del Caribe, País Cultural: revista de la Secretaría de Estado de Cultura de la República Dominicana, Angel Ortega, Avelino Stanley, Basilio Belliard, Isaac Chueke, Ivelisse Russo, José Luis Terrero, Juan Miguel Bautista, Kelvin Suero, Carolina Escudero, Lucrecia Cieza, Marisol Cuevas, Noé Zayas, Radamés Polanco, Roberto Amodio, Sergio e Maria Cecilia Abreu de Araujo Vasconcellos, Teo Terrero, além de vários programas de rádio e televisão, apresentados por Raquel y José (Besos y Abrazos), Gustavo Hernández, Francisca Ramírez, Xiomara Domínguez, Olga Vásquez, Geraldino Caminero e Lisette Cruz Campillo, entre outros. Vale ressaltar o apoio dos primeiros patrocinadores: as construtoras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez, as empresas Brahma e Nestlé. No Brasil, as primeiras parcerias desenvolvidas com o Centro Cultural realizou-se através da troca incessante de informações com o curador dessa Bienal Internacional do Livro do Ceará, Floriano Martins, e através da doação de um grande número de CDs produzidos pelo Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí-SP.
O Centro Cultural Brasil – República Dominicana tem como um dos objetivos valorizar a cultura local, propondo espaço para exposição e apresentação de artistas dominicanos no próprio centro e facilitando a comunicação entre esses artistas e intelectuais com instituições culturais do Brasil. Nessa linha de trabalho, pretende-se estimular o diálogo e integração dos dois países – não somente no universo artístico, mas também no mundo acadêmico, facilitando o fluxo de informações entre artistas e estudantes dos dois países que buscam vagas em universidades ou bolsas de estudo em cursos de graduação e pós-graduação.
De acordo com o Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha,
“todo trabalho cultural assume, automaticamente, um importante papel na formação da imagem do país. Mais do que a divulgação de mensagens pré-formuladas, é, no entanto, o diálogo cultural que irá construir a imagem multifacetada do país. Esta será uma imagem muito mais convincente porque ‘descoberta’ pelos interessados e não simplesmente a eles ‘servida’. Distorções decorrentes dos fatos não terem sido colocados nos seus devidos contextos, por falta de conhecimento ou erro de informação, poderão ser corrigidas de maneira duradoura neste diálogo.”
http://www.icbra-berlin.de, outubro de 2008
Aí reside a importância de um trabalho educativo desenvolvido a longo prazo nos CEBs, especialmente na América Latina, onde o intercâmbio cultural com o Brasil é muito grande, por razões geográficas e econômicas. “Nos países latino-americanos, [...] a presença de uma entidade cultural brasileira é tão forte, que em algumas cidades o Instituto Brasileiro [CEB ou Centro Cultural Brasil] chega a ser um dos principais centros culturais do local.” (http://www.icbra-berlin.de, outubro de 2008).
Para quem trabalha com educação e cultura em países estrangeiros, a tradução ganha maior relevância. Os CEBs têm assumido importante papel na difusão da literatura e da cultura brasileira não somente através dos cursos de língua portuguesa e promoção de eventos culturais, mas também através da publicação de livros traduzidos. Em alguns casos, as publicações são bilíngues, especialmente quando se trata de poesia: antologias poéticas e livros de poemas dedicados a um autor específico. Na República Dominicana, cada vez aumenta o público que busca textos de literatura brasileira traduzidos, especialmente nesse momento em que se prepara uma feira internacional de livros dedicada ao Brasil. Segundo Ubiratan Brasil,
“Enquanto os Estados Unidos assumem o primeiro posto entre os países que mais estudam a literatura brasileira, a Alemanha reserva meros 7% de seu imenso mercado editorial para a tradução de livros de escritores do Brasil. As constatações, entre outras também surpreendentes, fazem parte das primeiras conclusões obtidas pelo projeto Conexões, mapeamento internacional da literatura brasileira promovido pelo Itaú Cultural. [...] Escritores tradicionais, é claro, continuam puxando a fila, garantindo a presença permanente da literatura brasileira nos estudos e pesquisas estrangeiros. Mas, entre nomes esperados (como Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Rubem Fonseca), surgem outros que mesmo no Brasil já não têm a mesma repercussão. [...] A tímida ação governamental também é lembrada pelos pesquisadores consultados. Todos são unânimes em apontar a necessidade de se implantar um plano que facilite a tradução de obras nacionais para diversas línguas. E a divulgação dos livros exige um projeto mais elaborado - para eles, o Brasil deveria considerar o Instituto do Livro e o Instituto Camões em Portugal como modelos a serem seguidos. [...] ‘A presença da literatura brasileira no exterior é superior ao que usualmente imaginamos’, comenta [o gerente do Núcleo de Diálogos do Itaú Cultural, Claudiney José] Ferreira. ‘E há um grande interesse pela escrita contemporânea - os clássicos decerto são estudados, mas os brasilianistas demonstram cada vez mais preocupação com o aqui e agora da literatura brasileira.’"
BRASIL, Ubiratan. In: O Estado de São Paulo.
São Paulo. Segunda-Feira, 03 de novembro de 2008,
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081103/not_imp271428,0.php
Gostaria de registrar minha gratidão a todos os que defendem a importância da leitura e publicação de livros como meio de difusão cultural, especialmente aos tradutores e diretores dos CEBs que organizaram, editaram e difundiram inúmeros livros de literatura brasileira. Um agradecimento especial ao Embaixador Paulo Cesar Meira de Vasconcellos, Diretor-Geral do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores, ao Embaixador do Brasil em São Domingos Ronaldo Edgar Dunlop, ao Ministro Osvaldo Pizzá e ao Assistente de Chancelaria Jucilton Salazar Pereira, pelo apoio e trabalho intenso durante a criação do Centro Cultural Brasil – República Dominicana. Um agradecimento especial também ao curador da Bienal Internacional do Livro do Ceará, Floriano Martins, por ter criado esse espaço de diálogo entre CEBs de vários países, diminuindo a distância entre todos nós.