Lagartos com bolinhas, que eu saiba, só podem ser o sardão, e sardão muito criancil ainda, que é de certezinha absoluta o animal que está nas minhas fotos, e, se está nas minhas fotos, é porque não fugiu antes que eu o visse e fotografasse, donde só podia estar morto, e estava, tão mortíssimo que à roda dele havia animais que eu nem sabia que eram necrófagos, abelhas e formigas, e depois raciocinei com a minha caixa dos pirolitos que todos os animais são necrófagos, dependendo da fome, é como os herbívoros, vai-se a ver e quando calha comem carne, pensando assim logo vi que os piores necrófagos somos nós, é tão morta e congelada a carne que comemos que certas crianças, que nunca sairam da cidade, pensam que os frangos são fabricados nas lojas de brinquedos, e tal, o lagarto das bolinhas era lindo, com tonalidades azuis, quando crescem ficam verdes e as bolinhas transformam-se em ocelos, esse em baixo devia ter uns quinze centímetros de comprimento total, se tanto, aí o tamanho da minha mão, quando crescem muito, muito, chegam aos sessenta centímetros, são o maior lagarto de Portugal, mas nada que justifique pendurarem-se crocodilos nas igrejas e dizer-se que são ferozes e gigantes sardões que queriam comer donzelas, como acontece na
Senhora da Lapa e no Convento de Santa Maria de Cárquere, é claro que todas as donzelas são boas de ser comidas, mas calma aí, os sardões estão inocentes, e os culpados devem ser os padres, sim, porque eles é que entram e saem das igrejas quando querem e podem pendurar do tecto os jacarés que lhes apetecer, vá-se lá saber porquê, eu não sei, mas garanto que um dia ainda hei-de saber, beijinhos.