Ele não negociou sua
suspeita. Aquilo, clareza súbita. Explosão nos
olhos. Um dia, talvez toda a eternidade, e o
sangue deixando sua pele com aquela certeza de
juizo final. Quase juízo dos tempos. Deitou fora
a bolsa, esticou-se o mais que pode, avançou
sobre as esferas. Nem pés, nem pernas. Levitava
mas ele, nervo impávido. Era um nervo só.
Árvores que andam à noite, desterradas em seu
próprio vigor. Olhou firmemente, sentiu ímpeto
maior. Exterminou tudo. Nem o si sobrara. Era
desterro, amontoado de coisas e funduras de
sentimentos nunca antes encarnados. Ela era
algo? Máquina, ele se sentiu. E o sorriso deles,
juntamente com o sol entrando pela janela do
restaurante, criava-lhe um embaraço deveras
incontornável. O que se faz numa hora quando a
hora é que nos faz? Caminhou absoluto. Os
instantes decidiram-lhe a trajetória. Quando
percebeu, já beirava a mesa. Os sorrisos haviam
escorrido pelo ralo mais próximo, cozinha quem
sabe, ou cheiro de mijo do banheiro, e o
silencio pesou mais do que os 20 sinos da Notre
Dame Notre Dame, antes da inesquecível Revolução
e suas guilhotinas maravilhosas. Cruzaram-se
palpitações dos três corpos e um constrangimento
nunca vivido fixou-se com máscara mortuária no
casal não mais feliz. O rapaz sozinho olhou-a
como se lhe sugasse a alma, ou coisa parecida.
Ela mexeu-se assustada. O outro, nem existia.
Secou-se. Apenas cenário era. Ele enfia a mão no
bolso. Era o protagonista. Susto no casal. O
redor nem parecia estar ali, onde estava.
Comedores comiam, crianças lambuzavam-se e
alguns casais se prometiam mentiras com os
olhares de dezenas de anos. Ele puxa duas
passagens e as joga no ar. Pareciam ser para
Toronto. Levantou as mãos como que desenhando um
foda-se a vida, um foda-se tudo. Já estava de
costas, rumo a saída do restaurante. O amor, às
vezes, fode-se a valer. Foi-se.
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