Revista TriploV
ns . nº62. janeiro-fevereiro 2017 . ÍNDICE

 



Helder de Sousa (Portugal). Jornalista, ficcionista. Obras: A Ruptura, 1978; Fragmentos do Silêncio, 1979 (2ª Edição 1991) e Edição Especial ilustrada por Carlos Rocha Pinto; Ao Sereno da Noite 1981 (2ª Edição 1992); OS CADERNOS DE GABRIEL: *O Vazadouro dos Deuses, 1983 (2ª Edição 1984); ** A Oratória dos Inocentes, 1990; Diário: Longos Dias Muitos Encantos 1967-1969; Onde Bate a Sombra 1970-1971; Nas Margens da Inquietação 1972-1994.

HELDER DE SOUSA

Guilherme Parente:
Um percurso de vida inseparável da sua magistral pintura
 

Outro dia em conversa com o escultor Virgílio Domingues a propósito da pintura de Guilherme Parente. Ambos admiramos o artista e, como tenho muita amizade pelo eminente professor, permiti-me tecer algumas considerações sobre a pintura do nosso amigo comum. Disse-lhe que nunca vi em nenhum artigo, crónica ou catálogo, a ligação da sua pintura à infância. Guilherme é um ser misterioso, secreto, que vive num mundo à parte, numa espécie de limbo feliz, que não desvenda a ninguém e só a sua pintura reflete. Falo da cor, das formas, daquela invasão dos elementos pictóricos que inundam as suas telas e são por si só um cosmos deslumbrante de modernidade. Só ele pinta daquela maneira, só ele consegue misturar as cores com tal magia que a tela resulta numa espécie de jardim da infância onde ele permanece eternamente abstracto ao mundo visível e dramático dos nossos dias. Os seus elementos de ligação ao que o comove, cerca, interpela são desagregados da sua função emocional para se constituírem em uma superfície tangente ao rumor longínquo que o chama do fundo do paraíso. Talvez o artista nunca de lá tenha saído, mesmo quando a vida o forçou a acudir à trivialidade do ganha-pão, do convívio cínico, da palavra redonda que aperta a consciência quando nela depositamos as ambições e a megalomania do génio.


A sua marca, a sua assinatura, corresponde à sua generosidade que só os grandes possuem. Onde quer que esbarremos com as suas telas, imediatamente as identificamos porque a sua assinatura ímpar reside numa forma poética de fazer pintura. Ninguém em Portugal pinta como ele. Ele não se assemelha a nenhum outro artista, nacional ou estrangeiro. Reina sozinho num mundo fabuloso que só ele conhece os enigmas. Como Picasso, Modigliani e sobretudo Matisse... Por isso, é absolutamente justa a homenagem que a Imprensa Nacional lhe presta com este fascinante livro, contado na primeira pessoa, pela persuasiva entrevista que Ana Matos, num diálogo sobre a sua vida e a sua obra, ambas inseparáveis do grande artista que Guilherme Parente é, nos dá a conhecer. A Galeria São Mamede expõe um conjunto de telas originais, que merecem a visita dos apreciadores de uma arte abolsutamente original. O livro, por si só, é uma obra de arte que vale a pena conhecer e percorrer com os olhos iluminados da criança que se detém em nós.
 

GUILHERME PARENTE
Conversa, vida e obra
Imprensa Nacional/Casa da Moeda
Lisboa, 2016
 
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ISSN 2182-147X
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Maria Estela Guedes
PORTUGAL
 
 
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