REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 42-43 | dezº 2013-janº 2014

 
 

 

 

 

 

MARIA ESTELA GUEDES

Surrealismo: atualidades

 

 

Foto: Ed. Guimarães    

Maria Estela Guedes. Poeta, ficcionista, cronista, dramaturga, historiadora da História Natural e da Maçonaria Florestal Carbonária. Tem umas dezenas de títulos publicados, entre eles dois sobre Herberto Helder.                   

 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
TriploII - Blog do TriploV  
Apenas Livros Editora  

Revista InComunidade

 
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Arte - Livros Editora  
 
 
 
 
  Neste final de ano, diversas manifestações surrealistas deram sinal da vitalidade do movimento, quer por rememoração, quer por apresentação de obras acabadas de realizar, o que denota a sua grande atualidade. Em 1997, Mário Cesariny de Vasconcelos garantia o mesmo por palavras antónimas: "O surrealismo é de hoje, mas inactual, tão inactual como um índio o pode ser". Palavras impressas na entrevista que António Cândido Franco recolhe no seu livro «Teixeira de Pascoaes nas palavras do surrealismo em português» (Licorne, 2010). É de hoje mas inatual, passo a explicar, com o exemplo da política: "A competência é de hoje, mas inatual...".

O surrealismo é atual, o TriploV é prova disso. A mais recente companhia surrealista que veio até ele foi Fernando Arrabal, com obra juvenil apesar da idade do autor. Nenhum outro sítio na Internet deve guardar tal cópia de testemunhos surrealistas como aquela que no TriploV é consultável, graças aos esforços de todos, mas em especial de Floriano Martins, Claudio Willer e meus.

Mas vejamos alguns dos acontecimentos surrealistas mais recentes: na Galeria Perve e na Fundação Calouste Gulbenkian decorreu, em novembro, o Congresso Internacional Surrealismo(s) em Portugal (1). Miguel de Carvalho, que lidera a delegação surrealista do Cabo Mondego, e edita a revista «Debout sur l'oeuf», esteve em movimento o ano inteiro. Entre nós, teve lugar ainda o Lisbon “International Surrealism Now” – The Roque Gameiro House, Amadora (2). «A Ideia - Revista de cultura libertária», nº duplo 71-72 (Évora), organizada por António Cândido Franco, será lançada no espaço "Grandella", em Lisboa (bairro de Benfica), no dia 14 de Dezembro, às 15:30h. Seguir-se-á uma palestra de José Hipólito Santos sobre a figura de Moisés da Silva Ramos. Este número de «A Ideia» é dedicado aos surrealistas e conta com dois artigos meus, um sobre Carlos Eurico da Costa e outro sobre Herberto Helder. A propósito de Herberto Helder, que "é e não é um poeta surrealista" (meu título), realizou-se na Sorbonne Nouvelle e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, organizado por Catherine Dumas, Ilda Mendes Santos e Daniel Rodrigues, o "Colloque International Herberto Helder - Absurdité du centre, continuité du temps", de que damos notícia neste número da Revista Triplov (3). Estando em Paris por essa razão, aproveitei para ver uma exposição retrospetiva belamente apresentada, no Centre Georges Pompidou, «Le surréalisme et l'objet», que nos mostra objetos dos dois autores escolhidos por Herberto Helder para abrir o seu mais recente livro de poemas, «Servidões» - André Breton e Giacometti - e também de Marcel Duchamp, Man Ray, Salvador Dali, Magritte (na capa da primeira edição de «Photomaton & Vox», de Herberto Helder) e muitos mais.

Que se comemora este ano quanto ao surrealismo? Cada qual escolhe, não é verdade? Todos os dias são de efemérides. Então deixem-me escolher um terceiro centenário, o terceiro centenário de André Breton, que assinava "1713", de acordo com as suas iniciais.

O autor que mais continuadamente se tem empenhado no estudo do surrealismo em Portugal é António Cândido Franco, que acabo de referir como organizador do agora publicado número 71-72 da revista «A Ideia». Também já mencionei a sua obra de 2010, «Teixeira de Pascoaes nas palavras do surrealismo em português», na qual o ensaísta e poeta reúne, como o título indica, declarações de morfologia vária sobre Teixeira de Pascoaes, por parte dos surrealistas. Em aparte, direi que o autor dos mais faustosos versos de língua portuguesa é aquele que mais vezes trago no pensamento, não por o ler muito, sim por ter quase sempre no horizonte o bem desenhado perfil da sua serra do Marão. Cesariny, por exemplo, a seu propósito garantiu que Pascoaes era poeta bem mais importante que Pessoa, e Herberto Helder recolhe, na sua restritiva «Edoi Lelia Doura - Antologia das vozes comunicantes da poesia moderna portuguesa», cinco poemas do autor de «Maranus».

O alvo do estudo de António Cândido Franco tem sido sobretudo Teixeira de Pascoaes, insuficientemente prezado pela academia e muito pouco conhecido dos leitores, mesmo na sua região. Ora é indiscutível que Teixeira de Pascoaes revela afinidades com os surrealistas, sendo por conseguinte um poeta da modernidade. Na sua tentativa de a revelar, António Cândido Franco tem vindo a dar a lume muita informação e análise dos surrealistas, por vezes até de um ponto de vista pessoal e intimista, como acontece com o relato da sua primeira visita a casa de Mário Cesariny de Vasconcelos. Obras como as recentes "Notas para a compreensão do surrealismo em Portugal» ficam assim na fronteira do ensaio com outras tipologias literárias, a que não é estranho o facto de António Cândido Franco, além de ficcionista e dramaturgo, ser sobretudo poeta. E poeta de linhagem surrealista, em especial na vertente simbólica de uma imaginação que dá valor ao sonho. Os seus dois livros aqui referenciados manifestam um discurso autobiográfico entranhado no ensaísmo literário, o que aliás se justifica amplamente por o autor ser testemunha e participante de muitos lances da vida dos poetas surrealistas em Portugal.


Casa dos Banhos . 1 de dezembro de 2013
 


 
  Catálogo da exposição «Le surréalisme et l'objet»
no Centre Pompidou, Paris
   
 
  ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO
«Teixeira de Pascoaes nas palavras do surrealismo em português»
(Licorne, 2010)

*
«Notas para a compreensão do surrealismo em Portugal»
(Licorne, 2013)
 
  (1) http://www.pervegaleria.eu/home/index.php/exposicoes-e-iniciativas/391-congresso-nacional-surrealismo-s-em-portugal.html
(2)
http://ireport.cnn.com/docs/DOC-1060806
(3) http://www.triplov.com/novaserie.revista/numero_42/herberto_helder/index.html

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL