REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


nova série | número 33 | novembro | 2012

 
 

 

 

 

 

 

 

 

DUARTE BARCELOS

Frei Francisco Rodrigues Macedo (1924-2006)
Um ilustre franciscano madeirense

 

http://www.portuguesetimes.com/Ed_1813/Cronicas/diacron%2010.htm  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
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  Padre Macedo na Guiné-Bissau.
Foto gentilmente cedida por João Ramiro Firmino
   
 

Nasceu a 2 de Abril de 1924 no sítio do Jangão, freguesia da Ponta do Sol, sendo filho de Francisco Rodrigues Macedo e de Maria de Jesus Gomes. Seus pais eram pessoas humildes e de fracos recursos económicos mas eram letrados e queriam que os filhos frequentassem a escola. Apesar de alguma resistência manifestada por alguns fidalgos da vila, começou a frequentar o ensino primário em 1933. 

Com a extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834, os cinco conventos franciscanos então existentes na Madeira (no Funchal, Santa Cruz, Câmara de Lobos, Ribeira Brava e Calheta) foram sendo encerrados com a morte dos últimos frades e deste modo a Ordem dos Frades Menores deixou de marcar presença na ilha. Esta ausência perduraria até 1935, ano em que os Franciscanos regressaram à Madeira, fixando residência na Capela da Penha de França, no Funchal. No entanto, e devido ao facto de estar profundamente enraizada no seio do povo madeirense, a Ordem Terceira (formada por leigos) manteve-se ininterrupta na ilha.

Ana Palinhas, avó materna do jovem Francisco, era uma fervorosa terceira franciscana. O seu maior desejo era que o seu neto fosse padre franciscano. Foi
imbuída por este pensamento que um dia foi à Penha de França apresentar o seu neto aos frades, dizendo-lhes do seu propósito.

Tendo sido aceite, foi acordado enviar o Francisco para o Colégio de Montariol, em Braga. Corria o ano de 1937. Após frequentar os estudos liceais, iniciou o seu Noviciado a 2 de Agosto de 1942, no Convento de Varatojo, em Torres Vedras. A tomada de hábito franciscano decorreu a 8 de Setembro de 1943.

Seguiram-se dois anos de estudos filosóficos, em Montariol, e quatro de Teologia no Seminário da Luz, em Lisboa. Ali seria ordenado sacerdote a 24 de Julho de 1949.

A sua Missa Nova no continente ocorreu a 2 de Agosto na Capela dos Anjos, no
Porto, e na Madeira, a 14 desse mês, na igreja paroquial de Nossa Senhora da Luz, na Ponta do Sol.

Convidado pelo Pe. David de Sousa (que viria a ser Bispo do Funchal de 1957 a 1965) a partir para as Missões na Guiné-Bissau, não hesitou. Chegou àquela ex-colónia portuguesa a 11 de Dezembro de 1951 e por ali ficaria durante 46 anos
onde viria a desempenhar um importante papel no campo da educação.

Naquele país africano começou a sua vida missionária em Bissau, como coadjutor da única paróquia ali existente, director das escolas, assistente religioso da Mocidade Portuguesa e responsável pelo grupo coral da Catedral. Organizou ainda várias récitas teatrais e inúmeras projecções de filmes, sobretudo do Charlot, que atraíam imenso público.

Em Outubro de 1952 começou a leccionar a disciplina de Religião e Moral no Colégio-Liceu de Bissau. Precisamente dois anos depois foi nomeado superior da
Missão de Bula, onde criou um Orfeão composto por 90 jovens, que actuou por
várias vezes em Bula, Canchungo, Bissorã e em Bissau. Durante 14 anos de vida missionária desempenhou ainda o cargo de Superior Regular dos Franciscanos Portugueses naquele país. Quando o bispo de Bissau tinha de ausentar-se da sua diocese, Francisco Macedo substituiu-o várias vezes.

Aquando da visita à Guiné, em Maio de 1955, do General Craveiro Lopes, então Presidente da República, escreveu a letra e música do hino de recepção em sua honra, do qual apresentamos o refrão: Ó Guiné, terra de nobre gente,/ Canta alegre em coro geral!/ Viva o nosso Presidente,/ Viva o nosso Portugal.

Em Novembro de 1961, encontrando-se de férias na Fraternidade da Penha de França, no Funchal, recebe um telegrama do seu Provincial convidando-o para ser capelão do Santa Maria numa viagem rumo à Venezuela e Curaçau (dois destinos da emigração madeirense de então), fazendo ainda escala em Miami, na Florida, antes de regressar à Europa. Nesta breve visita aos Estados Unidos teve a oportunidade de visitar o Seaquarium (onde se extasiou a assistir a um espectáculo de golfinhos e focas), a loja Burdine’s e a celebérrima Miami Beach.

De volta à Guiné, é proposto para o cargo de vice-reitor do Liceu Honório Barreto, em 1966. Devido ao seu empenho no campo da educação, este madeirense recebeu de Américo Tomás, então Presidente da República, a condecoração da Ordem de Instrução Pública, a 4 de Fevereiro de 1968.

A 3 de Fevereiro de 1973 foi nomeado Reitor daquele liceu pelo General António de Spínola, então Governador-geral da Guiné. Com o advento do 25 de Abril, solicitou a sua resignação do cargo, tendo sido reconduzido pelas novas entidades governamentais guineenses que, entretanto, mudariam o nome daquele estabelecimento de ensino para Liceu Nacional Kwame N’ Kruumah. Após ter orientado o arranque do ano escolar de 1975-76, Francisco Macedo foi convidado para o cargo de Assessor e Conselheiro do Ministro da Educação.

Este franciscano também foi condecorado pelo governo guineense em Fevereiro
de 1981, como reconhecimento dos seus valiosos serviços prestados à Educação. A 30 de Abril de 1989 recebeu ainda um louvor do Conselho de Ministros daquele país que pretendia Louvar publicamente o Reverendo Padre Francisco Rodrigues de Macedo pelas excepcionais qualidades reveladas no exercício das diferentes funções que lhe foram confiadas no âmbito da educação, pelos seus dotes de inteligência, capacidade de trabalho, dedicação e espírito de sacrifício, do que adveio uma profícua colaboração em prol do ensino, o que é grato destacar em sinal de reconhecimento do governo e do povo guineense.

Em Março de 1983 assumiu a direcção da escola interna do Seminário Diocesano, onde leccionou ainda a disciplina de Português. Para que o ensino ali ministrado fosse oficializado pelo governo, Francisco Macedo redigiu os Estatutos daquela escola, que foram aprovados em Julho daquele ano. Em Julho de 1989 mudou o nome daquela instituição para Liceu João XXIII e elaborou novos Estatutos que foram aprovados dois anos depois.

Por motivos de saúde, deixou a Guiné em meados de 1997, tendo vivido por dois anos no Convento de S. Francisco, em Leiria, findos os quais regressou definitivamente à Madeira. Na Fraternidade da Penha de França, entre outros afazeres, desempenhou ainda o cargo de Procurador Regional da União Missionária Franciscana.

Em Dezembro passado foi convidado pelo Provincial da Ordem Franciscana Portuguesa a acompanhá-lo numa visita à Guiné-Bissau. Tendo tomado conhecimento da presença no país deste ‘Homem Grande’ (assim denominam os africanos as pessoas ilustres), estes formavam longas filas para poderem cumprimentá-lo. Até a Assembleia Nacional da Guiné-Bissau interrompeu uma das suas sessões legislativas para o receber condignamente na medida em que a maioria dos seus deputados tinham sido seus alunos.

Este humilde e afável franciscano madeirense que a todos cativou pela sua bondade, faleceu no dia 6 de Março, contando 81 anos de idade. Desapareceu o
homem, mas a sua obra para sempre ficará lembrada na sua amada Guiné. Aqui fica o registo do seu perfil biográfico em preito de homenagem a este saudoso amigo.

duarte_barcelos@portugalmail.pt


 
  Autógrafo de Padre Macedo (Arquivo Triplov)
 

 

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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