REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | Número 25-26 | Março-Abril | 2012

 
 

 

 

 

Escritos 

de Eduardo Chillida

 

(traduções de F. J. Craveiro de Carvalho)

 

 
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
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Para mim a geometria não existe, sou um fora da lei.

Uma divisão de uma casa com a porta fechada é outra divisão diferente da mesma com a porta aberta.

Alerta  e livre até ao fim,
guiado apenas por um aroma

As obras  são ecos que preservam no tempo, para o irmão ouvido, a voz surda da luz.

O que pertence a um é quase de ninguém

Parte hoje o último refugiado da cidade. Amanhã seremos tolerantes.

O horizonte não será a pátria de todos os homens? Acredito nisto cada vez mais.

Coração branco do mar, a lua.

O azul não serve para nos sentarmos?
Mas sem azul, para quê sentarmo-nos?
Claro que o azul serve para nos sentarmos.

Quantos olhos tive?
Quantas mãos  perdi?

Com que mãos trabalho? As de ontem não existem e faltam-me as de amanhã.

Eu não ilustro, acompanho com o meu cantar 

Aspiro a pôr valor
O preço põem-no os outros. 

Conheço a minha obra desde o início, mas não sei como é. 

Poderemos construir apenas se somos capazes de habitar. 

Criaste o tempo
o espaço
a gravidade
a luz
e o vento que não vemos. 

O mar quis ser nuvem
eu que estava triste
sou testemunha. 

Quantos olhos tive?
Quantas mãos perdi? 

Ser espuma – sonho branco da onda – fim da respiração do mar. 

Fi-lo melhor porque não o conhecia
e ia carregado de dúvidas e surpresa 

É tremendamente aliciante meter o nariz no desconhecido.

 

(Estes pequenos textos foram tirados e traduzidos de Escritos – Eduardo Chillida, La Fabrica Editorial, 2005. Foi mantida a pontuação original.)

   
 

 

Escultura de Eduardo Chillida

 

 

 

 

Eduardo Chillida Juantegui (10 January 1924 – 19 August 2002) foi um escultor, abstracto, basco notável. A fotografia que acompanha estas traduções foi tirada por F. J. Craveiro de Carvalho, estando a escultura colocada no exterior da Fundación Juan March, em Madrid. Chama-se Lugar de Encuentros.

   
 

Francisco José Craveiro de Carvalho  (Portugal)
Licenciou-se em Matemática na Universidade de Coimbra. Doutorou-se, mais tarde, com uma tese em Topologia e  Geometria, sob a supervisão de  Stewart Alexander Robertson, Southampton University, U. K.. Assume uma posição de alguma marginalidade em relação à divulgação daquilo que escreve. Traduziu poemas de Carl Sandburg, Jane Hirshfield, Jennifer Clement, Linda Pastan, Rita Dove..., publicados em opúsculos discretos, que circularam entre  os seus amigos.

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL