Para mim a geometria não
existe, sou um fora da lei.
Uma divisão de uma casa
com a porta fechada é outra divisão diferente da mesma com a porta
aberta.
Alerta e livre até ao
fim,
guiado apenas por um
aroma
As obras são ecos que
preservam no tempo, para o irmão ouvido, a voz surda da luz.
O que pertence a um é
quase de ninguém
Parte hoje o último
refugiado da cidade. Amanhã seremos tolerantes.
O horizonte não será a
pátria de todos os homens? Acredito nisto cada vez mais.
Coração branco do mar, a
lua.
O azul não serve para
nos sentarmos?
Mas sem azul, para quê
sentarmo-nos?
Claro que o azul serve
para nos sentarmos.
Quantos olhos tive?
Quantas mãos perdi?
Com que mãos trabalho?
As de ontem não existem e faltam-me as de amanhã.
Eu não ilustro, acompanho com o meu cantar
Aspiro a
pôr valor
O preço põem-no os outros.
Conheço a
minha obra desde o início, mas não sei como é.
Poderemos
construir apenas se somos capazes de habitar.
Criaste o
tempo
o espaço
a gravidade
a luz
e o vento que não vemos.
O mar
quis ser nuvem
eu que estava triste
sou testemunha.
Quantos
olhos tive?
Quantas mãos perdi?
Ser
espuma – sonho branco da onda – fim da respiração do mar.
Fi-lo
melhor porque não o conhecia
e ia carregado de dúvidas e surpresa
É
tremendamente aliciante meter o nariz no desconhecido.
(Estes
pequenos textos foram tirados e traduzidos de Escritos – Eduardo
Chillida, La Fabrica Editorial, 2005. Foi mantida a pontuação
original.) |