REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | Número 25-26 | Março-Abril | 2012

 
 

 

 

ADRIANO WINTTER

Clara adaga

                                                                  
 

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Contacto: revista@triplov.com  
Dir. Maria Estela Guedes  
Página Principal  
Índice de Autores  
Série Anterior  
SÍTIOS ALIADOS  
TriploII - Blog do TriploV  
Apenas Livros Editora  
O Bule  
Jornal de Poesia  
Domador de Sonhos  
Agulha - Revista de Cultura  
Arte - Livros Editora  
 
 
 
  MINERAIS
(da manhã ao fim de tarde)
 

 

 

clara adaga

de ágatas

 no corpo

 das sombras

cr

av

ad

 a

 

 e

 

o dia

    como

 

 

uma joia

rápida

raspando

quilates

no rosto

da alma

 

 

          entardecer:

 

      cicatriz de jaspes

 

 

GRITO ÓTICO
(para Van Gogh)

   
 

  

c                 a                m                      p                  o

d              e              t              r             i              g             o

a                  o                s                  o                  l

o                g                 r                  i                 t                 o

d            o            t            r            i            g            a            l

n              o              a               z                  u               l

o             u                v                i                  d                o

d                o                  c                  é                  u

 

 

  ECOS
   
 

I

o verso: negra

pedra, quebra

o silêncio: vã

mordaça de

estilhaços

que o encerra

(ou exalta)

um segundo

após o impacto

 

II

a página:

breve

arena

(ou

tenro

tálamo)

em

que se

invadem

e

dil-atam

o vazio

e as

palavras

 

III

a leitura: rubro

gesto de

audir fogo

polir ecos

em abismos

caçar febres

em contrários

 

- alçar aves –

 

  ANDRADAS PLATINADA
   
 

héliofote

 raja Andradas

forja

fogos

em fachadas

tarja

lojas

lajes

pardas

ar

metais

calçadas

praças

 

e platina

minha alma

 

 

dÍPTICO FELINO (1)
carni(o)ficina

   
 

        LOBOS

negros

na

página

brancos

GAMOS     

fogem

tetraflancos

da margem

caninas   

garras

a- 

garram

carótidas

mat

ilham-se

estrofes

devorando

(URROS

de)

vocábulos

 

 

DÍPTICO FELINO (2)

   
 

dorso

crispado

de

pantera

o

MISTÉRIO

espera            

o         

POEMA:

frágil

alvo

de

um

salto

(a

que

chamam

Arte)

jugular

aberta

em

PALAVRAS

 

 

SOL(OS)

   
 

O SOL

É UM

ÓRGÃO

 

vital            para o Bach

divino         dedilhar

 

lançar

tocatas                  

no ar

 

ou pulsar

fugas

em duo

crepuscular

com os

pássaros

 

É

TAMBÉM

UMA HASTE

 

que

invisível     Vivaldi

 

faz em luz

deslizar                         

 

(ultravio-

lentamente)

 

no violino      

estelar

 

 

ANTIMUSA

   
 

_I

 

o que o pixel

não capta

 

o poema

foto-

grafa

 

luz

além da ótica

acolhendo

o

MAR

que trans-

borda

pela tímida

orla

da face

 

flash

flagrando a

AVE

informe

que afla

pelo céu

de sardas

 

sol

tocando a

carne

onde agora

se abrem

os

GIRASSÓIS 

da liberdade


 

_II

 

IMAGEM

que

o teólogo

diz ser

a

ALMA

mas

o poema

diz ser

 

um

OBUS

sob os poros

 

um

SALTO

sobre o nada

 

um

JARDIM

junto à pele

 

um

GRITO

de asas

 

um

GOLPE

de vagas

contra as

grades

do afeto

 

_III

 

algo

que o verso

foto-

grafa

agora

mas 

já estava

no poeta

ao olhar

para ela:

 

22 de setembro

quinta-feira 

quatro e meia

da tarde, no prédio

de Letras

 

_IV

 

li-

ricamente

acesa

estava

a

BELEZA

 

e por mais

que a

descreva

não se

esgota

o efeito

 

fulge

seu rosto

 

- como no

elevador -

 

e a

FORMA

que explode

 

(melhor

que as

sardas, os

olhos, a boca)

 

mostra bem

essa

ESSÊNCIA

décadas

presa

no in-

verso

aflito

de si

mesma

 

_V

 

revela

suas

PÉTALAS

abertas

à

flama

 

o

ávido

VOO

 

e a

violência

das

ONDAS

no

ABISMO

in-

visível

 

que

a

todos

en-

canta

 

_VI

 

o verbo

com

fachos

cruza o

SILÊNCIO

que altera

que nega

sob máscaras

sem nome

 

e entre

lumes

desnuda

o avatar

feminino:

 

_VII

 

misto de

MAR

e

FLOR

AVE

e

fogo

 

seu 

SER

pós-

moderno

 

é múltiplo

e uno

 

onda em

longo devir

 

flanando

no agora

 

florindo

no aqui

 

em busca de

estar feliz

 

sem limites

nem fim

 

 

GOLPE

   
 

meu amor é um berro na cóclea da treva

o surto do trauma no corpo floral

 

há um baque de falas solitárias

rolando como cabeças pela escarpa das promessas

a cavidade crespa onde um feto

desesperadamente se debate

 

chego

e a verdade está ao centro

cravada entre o sonho

e nossas costelas

 

  XX
   
 

duo de nus rebentava amiantos e margens

e carnes parvas corriam nos campos do pensamento

 

começavam lá, onde martelos se enlaçam

o delicado molde no cobre impossível

 

vinte anos após, diziam:

“havia lavas fluindo

pelo flanco do nosso amor”

 

 

 

 

ADRIANO WINTTER - Nasceu e reside em Porto Alegre/RS. Foi vencedor do Femup 2010 e integrou sua antologia. Tem outras coletâneas de poemas publicadas nas revistas Germina, Aliás, Eutomia, Separata (México) e no Jornal Poesia Viva.

Edita o blog: http://adrianowintter.wordpress.com

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
PORTUGAL