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I
Recordar, aqui, José Augusto Mourão, é ser caroal, ou cordial, para
a Ideia, Paideia ou Espírito Absoluto… Não sendo, propriamente,
hegeliano, é força, em colação, dizê-lo e aduzi-lo: manifestações da
Esperança, ou tríade e trívio espirituais, são a Arte, a Religião, a
farta e a facunda Filosofia. Um pouco antes do Hegel, Emmanuel Kant
haveria, aqui, de reivindicar: posições e postulados da Prática
Razão, são Deus, a Liberdade, a Imortalidade, alfim, das Almas
almadas. E o prazer que a Arte nos oferenda é desinteressado, é
grátis, alfim, gracioso e poderoso – e daqui para o crisol, e daqui
para a Eucaristia é um passo muito curto. Pois o ouvinte que ajuíze:
nós já estamos a falar, conscientes e cientes, do nosso Professor.
Pertencente, em parabém, à escola e ao escol da Cultura Portuguesa,
Mourão nos doutrinou o que ensinou o Anaxágoras: eu estou na terra
para a consideração, contemplativa, do Céu, das Estrelas e da ordem
do universo. Dissertemos, por isso, nós certeiros e sidéreos: não há
Teologia sem marcante, ou marchante, Filosofia – e eis o Sol, o
«soli Deo», de S. Tomás de Aquino. E não há, outrossim, Filologia,
sem perene, ou substante, Filosofia… Nós só queremos, aqui, assertar
e mentar: como já tinha, dessarte, sucedido, com o Padre Manuel
Antunes, a Teoria de Mourão não é o preste fundamento, é Firmamento
solerte, solene, e solidário com o Sol. Pra retomarmos, em tono, uma
sua expressão, foi Mourão, ele, o Frade, a «Figura-fulgor» - e nele
se consorciava, o Aquinate, com a Musa do Amor. Com a «Caritas», a
ara, e o Ágape, agora. Estamos quase a terminar: e «Deus super omnia, Deus super omnia,
Dominus tecum». Pois à guisa, memorial, de José Augusto Mourão, é
como à guisa, certeira, do Antero de Quental: se a Poesia é ordem
sacra, e o cor é coração, cordial, alfim, será o Cordeiro: e eis o
progresso, e o progredimento, eis o estado, e o estudo, da
especulação. Pois vivaz, e vivandeiro, terminamos com um voto: é
premente o promulgar, e é urgente professar. E que a Poesia, em
Portugal, não seja a pena, o padecente, o paciente fala-só. E por
isso a estrutura, e por isso o meu estudo. Eu saúdo, na borrasca, a
geração à rasca………..
II
À distância de anos trinta, eu remembro, no carme, a Teologia tua;
tu estás, no teatro, inquirindo e aferindo. O teu Deus, meu caro
amável, o teu divo é um Deus que sabe dançar… Que a metáfora é
Metafísica e o sema, seminal, coerente e corrente é o tópico tropo:
deixa-me, por isso, actuar-te e tutear-te. Muito mais que melodrama,
tu eras Psicodrama. Mais que vida, meu Amigo, tu eras texto, tu
eras, desse modo, o falante e aflante. Ouvindo as tuas prelecções,
pela vez a primeira entendi o Estagirita: o poema, dessarte, é como
um animal – e o Homem, almado, animada Razão. Quero aduzir, no
escólio: os nomes são os Numes, as palavras, entanto, são seres
vivos e activos. O sema, apropriado, é o sémen divino, e a Língua,
por isso, é forma de liga. Na Poesia dirias: «O Nome e a Forma», a
Forma, arquetipal, e a Figura-fulgor. Se a Literatura é expressão do
preternatural, «Quem Olha o Vento não semeia», ou melhor: invisível,
insensível, é o Sopro e Santo Espírito; eu falo, em semelhança, do
símbolo-Sol. Nas lições, meu caro Amigo, em lições tu eras preste, e
similavas, no símil, sacramento Sacerdócio. O segredo, o sagrado, e
o tempo do ócio. Certa vez, demandei: «O que é, para o mester, o ser
inteligente?» E o Mestre, logo, logo: «É saber ler, e actuar, no
arteiro interior».
Modelar, e luminar. Compreender, para Dilthey, é prender, e de
encontro ao peito nosso. Me remembro, José Augusto, do oblativo e
donativo: como Poeta, e Professor, tu eras insuflado, eras vida, ou
veículo, do Espírito Santo – e se eras Nume, e eras núncio, só
semeia quem o faz em virtude da paixão. Ou melhor: do êxtase, do
transe e do entusiasmo.. Se a Mística, portanto, era o Mista, ia-se
a Elêusis, segundo Aristóteles, não para aprender ( «mathein» ), mas
sim para o coração, mas sim pra receber uma patética moção ( «pathein»,
o paraclético ou Peripatético ). Por isso uma Apostila, o professar
e Pascoal, por isso o pensamento é qual o movimento. Ou doutra
maneira, e dito, desse modo, por vocábulos outros: se a mente mede,
mensura e é metro, por isso a Teologia, o preste Paracleto……. Que a
mente irmana e tudo humana, a mente é «Man», é mano e é «Manas»… Que
nos leva, certeiro, ao asserto: foram feitas, as palavras, para a
comunicação, a Dialéctica nasce do diálogo infrene. Mas quando a
nossa voz é suflada, ou inspirada, nós estamos, unitivos, na «communio»
de união. Que «o pensador diz o Ser», diria Heidegger, «o Poeta
nomeia o sagrado». No meu estádio ou fase do Surrealismo, eu
aprendi, na preensão: «Se queres ser Poeta, recorda os teus sonhos,
o sonho, para os Antigos, é o mensageiro dos deuses…» O existente, a Unidade, o teatro e afã da Univers(al)idade: eu
cabulava, cismava, dedicava-me à Cabala, mas para as tuas aulas era
pronto e era preste. E certa Voz agora vive, celebrante e radiante…
Certa Voz, a luminar: tu eras o Rapsodo que sabe dançar.
Queluz, 17/ 12/ 2011
AD MAJOREM DEI GLORIAM
PAULO JORGE BRITO E ABREU
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PAULO JORGE BRITO E ABREU
Paulo Jorge Brito e Abreu nasceu em Lisboa, Portugal, a 27 de Maio de
1960. Licenciou-se, em 1986, em Estudos Anglo-Portugueses, pela
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
É Poeta, pensador, ensaísta, conferencista, crítico literário, cantor e
psicodramatista; encetou, em 2007, uma carreira de Pintor. Desde 1999, é
Sócio Correspondente da Academia Carioca de Letras; no ano 2000, a União
Brasileira de Escritores atribuiu-lhe, em parabém, a Medalha Peregrino
Júnior de Intercâmbio Cultural. Por o seu contributo para a Cultura
Portuguesa, foi agraciado, em 2006, com uma medalha, pela Escola
Secundária D. Diniz. E por meados, primaveris, dos anos 60, sua Mãe,
Maria Amélia, ensinou-o, correctamente, a ler, a escrever e a contar…
CONTACTO: paulobritoeabreu@yahoo.com.br |