Higrómetro
Acabo de
ver a minha vizinha entrar em casa
levando um
cesto de fruta
e um ramo
de flores.
Começou a
chover.
Será que
o marido vai sair
de botins
e impermeável
e ficar
nos degraus
até parar
e ele
poder recolher-se?
Quatro vezes quatro
I
A primavera coincidente
com o amanhecer: mas era
uma criança a ver as chamas
a nascente
II
ou uma jovem
em pleno meio-dia de verão,
a virar o seu rosto
para sentir a brisa do sul?
III
Com as crianças já a dormir,
os seus ouvidos aperceberam-se do som
de água corrente para ocidente
num entardecer de outono.
IV
A idade fez-se sentir
ao atravessar o pátio às escuras;
achou que lhe cheirava a neve
nas colinas para o norte.
No Café de la Gare
A mesa que lhes indicaram era tão pequena
Que podiam facilmente esticar-se
E esbofetear-se, fosse essa a sua
Intenção. Pelo menos estavam na sombra
Agora, longe da exposição das outras.
Vencidos pelo descanso, sentaram-se à espera.
Experimentaram, “S'il vous plaît, un mille feuille
E deux tasses de thé.” O silêncio dilatou-se
Sem contudo rebentar. Era como se tudo
Tivesse acontecido há um ano ou há mais
E só por uma avaria da memória
Lhes dissesse respeito. E havia ainda
Os remorsos do anoitecer para atravessar.
Outros Quartos
Mais tarde, tudo o que ele conseguia lembrar com
clareza
Era o barulho feito pela chuva, salpicando
Os papéis que envolviam as flores
Que alguém estivera a dispor em volta da sepultura.
Afastou-se da janela. Quando as pessoas estão
Sempre à janela tendem a ser esquecidas.
E mexeu numa almofada, mas sem se sentar.
Ter partido, uma pessoa precisa de ter sido,
Ser alguém a quem aconteceu uma vez alguma coisa.
Pensou em fazer talvez um pouco de chá. Quando
não há amor que chegue perto de nós,
Devem ser os mortos a passar sem ele.
Um outro quarto, outra fronteira. Haveria
Outras: escadas e portas. Ele conseguia
recordar o conhecimento carinhoso dos seus corpos.
Estas eram as luvas dela. Havia alguma coisa
parecida,
Pensou ele, com a imortalidade na sua saudade.
Noutro lugar estariam os sapatos, e outras coisas.
Frómista
Uma caminhada pela margem seca de um canal lento.
Outra cidade. Outra plaza mayor.
Outra estátua. Outro santo.
Mas quem é este que parece estar a abençoar o mundo
Enquanto se dirige para nós numa prancha de surf?
San Telmo, está escrito no seu plinto. San Telmo?
Eu nunca... Não, espera, baralhámos o Espanhol.
Este tem de ser Sant’Elmo. Aquele do fogo
Que irradiava dos arpões seguros por Ahab.
Mas o que pode o santo padroeiro dos marinheiros
Estar a fazer aqui nos vastos campos de trigo de
Espanha?
O meu guia diz que é por o terem torturado
Arrancando-lhe os intestinos do corpo
Com um sarilho. Meu Deus, a imaginação
Do homem nunca é tão fértil como quando
Infligimos sofrimento uns aos outros? |