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Vamos procurar dar um breve
esboço do trabalho de seu trabalho, sendo este vastíssimo, pois
Pitágoras atuou nos mais variados campos do conhecimento: medicina,
física, matemática, música, filosofia, religiosidade, onde em todos
mostrou a sabedoria dos verdadeiros Mestres, de um Iluminado que esteve
entre nós em um passado mais distante. Pode-se dizer, sem exagero, que
se deve a esta grande personagem da cultura humana muito do
desenvolvimento em todas as citadas áreas do saber, e que a
espiritualidade e o misticismo verdadeiro, aquele que conduz o homem às
novas dimensões da alma, muito ganhou ao descortinar mais uma via
mística que até os tempos atuais despertam a curiosidade e a paixão dos
estudiosos dos mistérios antigos. Podemos com isso, e dentro de absoluta
certeza d'alma, afirmar que Pitágoras ajudou a fundamentar a epopéia de
nossa civilização. Um exímio descobridor ou desvelador de mistérios que
estavam até aquele momento reservados aos poucos Iniciados das distantes
Escolas de Mistérios.
Viveu numa época muito
próxima a Lao Tsé, Buda e Confúcio, quando nosso planeta viu-se visitado
por grandes luminares. Estes certamente influenciaram todo o trabalho
pitagórico, pois é sabido que assim como vários outros místicos e
filósofos da história grega e europeia em geral, viajou por todo o
Oriente para trazer de lá a Luz necessária ao desenvolvimento de nossa
civilização. Trouxe o conhecimento da Tradição Primordial, já com o
ideal de fundar o seu centro de estudos, como vários outros fizeram, a
exemplo de Platão com a sua Academia e Aristóteles com o Liceu. E
realmente o fez em Crotona, onde hoje é a Itália. Sua escola ficou
conhecida na Antigüidade por Escola Pitagórica, Escola Itálica ou Escola
de Crotona.
Provavelmente passou pela
Índia, segundo alguns historiadores modernos. Em Creta estudou os
mistérios gregos. É admitido como certo que esteve na Babilônia (os
babilônios eram profundos conhecedores da Astronomia, Astrologia e da
magia, tendo influenciado inclusive a formação do que hoje conhecemos
como a Cabala judaica). No Egito, em especial, teria sido iniciado em
abril de 531 a. C. nas Escolas de Mistérios de Tebas, centro iniciático
de profunda importância da antigüidade e detentor dos maiores segredos
da cultura humana. Se realmente o Egito guardou para si parte ou todo do
conhecimento atlante, como se acreditou desde antes da época de Platão e
ainda por muitos aceito até hoje, ser iniciado nos mistérios egípcios
era o mesmo que ter acesso a uma inimaginável gama de informações.
Importante frisar, só para citar os mais conhecidos, que antes de
Pitágoras já haviam passado pelo Egito em busca da Iniciação Sólon,
fundador do Areópago grego (Areópago = conselho daqueles que tivessem
desempenhado todas as funções administrativas e legislativas) e
importante legislador, Tales de Mileto, fundador da filosofia Jônica (da
região da Jônia). Existe certa controvérsia se Tales de Mileto teria
influenciado Pitágoras como seu Mestre direto, mas a diferença de mais
de 50 anos entre eles diminui em muito este possibilidade. Mais certo
seria afirmar que, se existe semelhança em suas transmissões do saber,
deve-se em grande parte terem viajado pelos mesmos centros iniciáticos.
Através de suas muitas
peregrinações pôde fundamentar suas concepções religiosas, místicas e
pessoais, no qual o amálgama dessas idéias é que se tornariam o corpo de
sua doutrina pitagórica. Sua vida tornou-se lendária, pois a Escola
Itálica ou Italiana fundada por ele em Crotona tinha não apenas o ideal
da formação do conhecimento filosófico, mas o estabelecimento de uma
espécie de Ordem ou Fraternidade mística, muito comum séculos mais tarde
na Europa, com a influência de vários aspectos místicos que Pitágoras
colheu durante a primeira parte de sua vida. Os mistérios Órficos, com
sua diferenciação em graus de conhecimento, influenciaram e ajudaram a
determinar que, por exemplo, seus ensinamentos fossem também divididos
em diferentes etapas ou graus. Eram três em essência: no primeiro, o
estudo dos números e de todas as suas relações matemáticas e físicas; no
segundo grau, a moral e a política eram vistas como de grande
importância; e em seguida estudavam-se as leis cósmicas. Importante
frisar o fato de existirem três graus basilares na Escola Pitagórica, um
número que se repete na estrutura iniciática da maioria das organizações
tradicionais durante a história e em especial nas Fraternidades
modernas.
Falava tanto em público
quanto aos seus discípulos diretos em forma de parábolas. Admite-se que
tinha um círculo interno de discípulos iniciados e outros admiradores
externos, não iniciados. Interessante o fato de muitos Mestres de nossa
história terem optado por instrução igual ou similar. Jesus falava por
parábolas aos gentios. Sócrates usava a maiêutica (método de responder
a perguntas com outras perguntas, levando à reflexão o primeiro
interlocutor) para ensinar e debater com seus opositores. Também
Heráclito, o filósofo do "puro devir" (devir = tudo está em constante
mutação, onde nada é fixo; o puro "vir a ser"), falava por enigmas aos
seus.
Podemos comentar algumas
características do seu pensamento e doutrina. Ao adentrar em sua escola,
os discípulos ficavam cinco anos em total silêncio, exercitando a
profunda humildade e o saber ouvir e calar. Não se admitiam
questionamentos de nenhuma espécie, e qualquer violação às regras era
severamente punida. Nada do que se aprendia era passível de ser
comentado fora dos limites da escola. O silêncio era realmente de ouro,
pois sem ele nada se conseguia. A vida sexual era proibida.
O vegetarianismo era, também,
regra rígida entre os membros da Escola pitagórica. Um dos ensinamentos
consistia na crença da reencarnação, mais particularmente na
metempsicose. Esta diz que um ser humano pode vir a reencarnar como um
animal, não necessariamente em outro corpo humano. Logo, se um animal
for sacrificado aos deuses (prática comum na época) ou abatido para ser
ingerido, corria-se o risco de estar matando algum parente, amigo ou
antigo membro da Fraternidade. Os sacrifícios de animais foram
substituídos por bolos de farinha e mel em forma de bois, ou outros
animais, e que eram oferecidos de forma ritualística nos rituais
pitagóricos. Empédocles de Agrigento (Agrigento = região da Sicília,
Itália), discípulo de Pitágoras, eminente orador, médico e poeta, seguiu
posteriormente tal prática. Interessante salientar que dentro da
perspectiva da morte dos animais poderia também haver a idéia de não
macular o organismo com alimentos considerados ruins. Além das carnes,
também os feijões, de maneira geral, não eram aceitos, pois trariam
prejuízos ao organismo, despreparando-o para os trabalhos internos da
Escola. Qualquer semelhança com algumas dietas modernas não terá sido
mera coincidência...
Fica clara a importância dada
por Pitágoras à saúde, o que era constantemente enfatizado em seus
ensinamentos. Era compreendido por eles que determinados alimentos ou
líquidos traziam tipos diferentes de reações ao psiquismo, como hoje o
entendemos, interferindo de forma benéfica ou não na saúde e na mente. A
harmonia celestial, sempre buscada pelo Mestre, tinha que se refletir no
corpo e no espírito. O ideal grego da beleza física, expresso na arte
grega de forma magistral, estava aqui representado de outra maneira,
mais evoluída em ideais, podemos dizer. Os esportes e as Olimpíadas
gregas da Antigüidade tinham como objetivo o culto à beleza externa.
Grandes pensadores gregos surgiram mostrando em suas doutrinas que
também a moral, a ética, a mente e o espírito tinham que ser belos e
trabalhados tanto quanto o corpo. Esta é outra "coincidência" com os
tempos modernos. A história realmente é sábia. Ela se repete, mostrando
aos homens que sabem ler os Livros Sagrados da Natureza e do Homem que,
enquanto não se sobrepõem determinado degrau de aprendizado, teremos que
repeti-lo até que os clichês astrais sejam vencidos.
Outro aspecto marcante em
seus ensinamentos era a crença na existência do éter, pois acreditava
que tudo era animado por ele. O éter, energia que a tudo permearia,
estaria acima dos quatro princípios (fogo, água, terra e ar)
constituintes do mundo fenomênico. Isto nos lembra a moderna teoria
quântica que nos diz que tudo é energia e que estamos constantemente
mergulhados num "mar de partículas e energia de diferentes níveis e
freqüências". Importante citar aqui o fato de que Pitágoras procurou
fechar toda uma doutrina científica, usando aqui outro termo moderno,
através de uma doutrina mística. Um dos aspectos que mostra sua idéia
agregadora do saber é o fato dele não descartar nenhum dos quatro
elementos ou princípios citados. Ele não procurou eleger apenas um como
o "criador" do mundo e dos demais, o que era senso comum entre seus
antecessores. Antes dele, Heráclito achava que a matéria vinha
inicialmente do princípio fogo, a partir do qual os outros surgiam a
partir de sucessivas condensações. Tales de Mileto achava que a água era
o primeiro princípio de tudo, apesar de também advir do éter.
Um aspecto importante é a
concepção de música das esferas, conhecida até hoje e que influenciou
pensadores importantes até o limiar de nossa era moderna. Diz-se que
Pitágoras ouvia permanentemente o som das esferas. Talvez este seja um
indício de um estado de êxtase místico constante alcançado pelo pensador
grego após determinada etapa de sua vida. Tal fato é verificado de
forma análoga na vida de muitos outros místicos. Por exemplo, São
Francisco de Assis conversava com os animais, as pedras e o vento, assim
como São João Evangelista. Joana D'Arc conversava com o Ser Divino que a
guiou em suas batalhas contra os ingleses.
Mas a principal questão
histórica aqui reside no fato de que Pitágoras matematizou a música no
nível humano, o que levou a ser um passo gigantesco no contexto da
época. Pois com isso ele deu impulso a uma metodologia que é à base da
ciência oficial até nossos dias: ou seja, o entendimento da Natureza
pela matemática, sendo esta reconhecidamente uma linguagem universal. A
aritmética deixou de ser apenas uma técnica e passou a ser uma
disciplina intelectual, filosófica. Pitágoras reuniu as várias
concepções dos números de algumas das civilizações do passado, dando
mais importância à matemática do que jamais havia sido feito. Na
Mesopotâmia a geometria era conhecida apenas como uma aplicação de
números. Seu entendimento dentro de um contexto geral ficou a cargo dos
pitagóricos. Em outras culturas os números tinham concepções restritas.
No Egito os números eram apenas os naturais (do um em diante) e as
frações unitárias. Na Grécia os números eram apenas os inteiros. Uma
fração era considerada como uma relação entre inteiros, e não como uma
entidade matemática própria.
Com esse entendimento dos
números a sua participação na música foi determinante. Pitágoras
descobriu que a altura de uma nota musical depende do comprimento da
corda que a produz. Isto lhe permitiu relacionar os intervalos da escala
musical com relações numéricas simples. Ou seja, quando uma pessoa
aperta uma corda de um instrumento exatamente à meia distância de seu
comprimento, uma oitava é produzida. A oitava tem a mesma qualidade de
som da nota produzida pela corda solta, mas como vibra a duas vezes a
freqüência, é ouvida a uma altura mais alta. Com isso ele definiu uma
relação matemática de 1:2 entre a nota principal e sua oitava, em termos
de freqüência do som. E percebeu que eram razões entre números inteiros.
Por exemplo, se uma corda produz a nota ré, então outra corda
semelhante, mas com o dobro do comprimento, irá produzir a mesma nota -
ré - numa oitava mais baixa. As leis da acústica (que é um ramo da
Física) estavam assim lançadas de forma matemática.O conceito de
vibração era finalmente compreendido. Talvez seja possível afirmar que
a Física como a vemos hoje tenha sido inaugurada neste ponto da história
com Pitágoras, antes mesmo de Aristóteles e suas observações da
natureza.
Assim a escala musical pôde
ser estudada em variados níveis e a compreensão da composição entre
matéria e energia (ou espírito) se fazia visível aos olhos de qualquer
um. A pretensão pitagórica de um conhecimento universal, que
relacionaria a tudo e a todos, começava a se fazer presente mais uma
vez: "Assim como é em cima o é embaixo", a velha máxima de Hermes
Trismegisto. Era a harmonia celeste. Os chineses falavam dela desde
milênios de forma teórica ou através do I Ching. Porém, Pitágoras teve
o mérito de tornar matematizado, exato, o que antes era apenas
intuitivo, o que permitia que mesmo leigos pudessem achar um determinado
resultado a partir do momento que soubessem utilizar a fórmula
correta.
Sua contribuição foi além do
seu tempo. Johannes Kepler, o grande astrônomo, matemático e físico
nascido na província alemã da Swabia, idealizador das três leis que
levam o seu nome e que ajudaram a desvendar os movimentos planetários,
sofreu influência do pensador grego, pois também para Kepler o universo
e seus astros moviam-se de acordo com uma sinfonia divina, um mistério
cósmico onde o Sol tinha que ser o centro desse sistema para que ele
fosse realmente harmônico. Os pitagóricos, através de Filolaus
(discípulo pitagórico que morreu por volta de 390 a. C. e que
coincidentemente morou em Tebas, no Egito), haviam afirmado que o número
sagrado - a década - era o centro do universo, como um Sol central
gerador de tudo o que existia e ao redor do qual todos os corpos
celestes giravam. Isso era um sistema heliocêntrico (ou seja, centrado
num Sol). Se o Sol era a fonte e o representante do Senhor no plano
astronômico, e a harmonia celeste existia, então deveria haver uma
relação entre este Sol central e os demais corpos, e entre o nosso Sol e
a própria Terra. Esta relação mística fez de Kepler um defensor das
idéias heliocêntricas de Copérnico, que era também fundamentada na idéia
pitagórica da harmonia universal. Quase 2.000 anos depois Copérnico
admitia que sua idéia do movimento da Terra, e não do Sol, era derivada
da teoria pitagórica do movimento circular uniforme dos planetas ao
redor do fogo místico central que existiria no universo. Tais fatos
foram decisivos na mudança da mentalidade científica e a conseqüente
adoção do sistema heliocêntrico. E, por conseqüência, ao libertar-se do
sistema geocêntrico a sociedade também começou a libertar-se da
influência dominadora da Igreja sobre as questões do pensamento humano e
científico em geral. Todos estes fatos têm que ser encarados como
unidos, mutuamente interferentes, para que se consiga alcançar uma idéia
mais real do momento histórico considerado.
Para chegar a sua importante
descoberta Kepler meditou sobre a relação que poderia existir entre os
sólidos geométricos e a distribuição dos planetas ao redor do Sol. Teve
a intuição de que a relação entre as órbitas dos planetas e o Sol
poderia ser descrita por figuras geométricas regulares bidimensionais
(ou seja, num plano). O teste com triângulos, quadrados, etc., não
funcionou e ele resolveu testar com figuras tridimensionais, o que é
mais próximo do real. Os sólidos de Platão ou "pitagóricos" são
limitados a cinco quando construídos a partir de figuras geométricas
regulares. Para Kepler, isto explicava o fato de existirem seis
planetas conhecidos com cinco intervalos que os separavam, como numa
escala musical, apesar dos intervalos serem bem irregulares entre si.
Ele convenceu-se de que havia descoberto uma relação geométrica entre os
diâmetros das órbitas e as distancias ao sol de cada corpo. A partir
deste estudo Kepler concluiu sua primeira lei, de que as órbitas dos
planetas são elípticas e não circular em torno do sol. E que, para isso,
a velocidade do planeta teria que ser variável, e não fixa, o que se
tornou a sua segunda lei. Finalmente, estabeleceu uma relação entre a
distância de um planeta ao sol e o tempo que ele leva para completar a
sua órbita. Esta é a terceira lei. Todas elas são mais do que uma
descrição mecânica do sistema solar, mas a demonstração de uma realidade
harmônica, reflexo do pensamento pitagórico.
Muitas escolas modernas de
esoterismo mantêm em suas doutrinas a concepção pitagórica do fogo
central existente no universo. E, mais uma vez, vemos a abrangência do
conhecimento da Escola de Crotona nos mais variados campos do saber
humano, como dissemos antes. Para a maioria das antigas civilizações o
sol também era a presença divina que mantinha a vida na Terra. O
astro-rei era a representação de um Logos, de um Ser Maior responsável
pela ligação entre o nosso universo e o Criador.
Se para os pitagóricos "tudo
era número", torna-se fácil compreender que eles procuravam dar vida ou
um sentido espiritual a cada número. As relações matemáticas
desenvolvidas por Pitágoras eram a expressão da divindade descrita com
um simbolismo particular: a Matemática, cuja essência espiritual era os
números. Podemos citar alguns para maior compreensão. O número um era o
da razão e o gerador dos demais. O dois o número da opinião, o primeiro
par, o feminino. O três é o primeiro com propriedades masculinas
verdadeiras, o da harmonia. O quatro, justiça ou do ajuste de contas.
O cinco é o do casamento, a união entre os primeiros feminino e
masculino. Seis é o número da criação (coincidentemente igual ao número
de dias da criação segundo a Gêneses de Moisés). Os números ímpares eram
masculinos em suas qualidades e o números pares femininos (conceito
existente até na Idade Média).
O mais sagrado era o dez, o
número do universo, de Deus, e que descreveria a perfeição da Criação.
Era a Tetraktys sagrada. Uma forma em especial foi desenvolvida para se
chegar à compreensão maior dos números: a da adição de vários deles,
seqüenciais ou não, dando como resultado outros que demonstravam o
significado mais profundo da identidade daquilo que se queria estudar.
Muito parecido com a redução matemática dos valores numéricos das letras
hebraicas. Por exemplo, com a adição dos quatro primeiros números temos
como resultado a Tetraktys, ou o dez Divino:
1 + 2 + 3 + 4 = 10 ,
onde: 1 + 0 = 1 , o retorno à Unidade.
A Divindade também era
demonstrada ou representada na forma de uma triângulo ou pirâmide
pontual, demonstrando que tudo advém do Um primordial: |