REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2011 | Número 18

   

 

 

Por onde andaria Henrique? - perguntava-se  Marilda,  em meio aos objetos deixados por ele quando de sua inesperada partida. Durante alguns  meses, atribuíra a uma depressão  sua  mudança de comportamento. Quando  ele colocou alguns  dos  seus pertences em uma  mochila e saiu dizendo que iria desanuviar a mente, ela  absorveu o fato como  se ele precisasse de  "um tempo". Não pensou que fosse   algo definitivo, embora hoje  analisasse  o fato como  puro  ato de  covardia.

O que mais a intrigava era  ninguém saber do seu paradeiro .  Parecia     que se desintegrara  no cosmos - pensava-  com um  sorriso forçado.  Por vezes, tinha que  refrear o impulso de sair pelas ruas gritando o nome daquele homem. Como pudera se enganar com  seu caráter, se viveram  tantos anos juntos  e,  em nenhum momento, ele  demostrara  comportamento  oscilante ? Sempre dizia que Henrique fora um oásis em sua vida.

EDITOR | TRIPLOV

 
ISSN 2182-147X  
Dir. Maria Estela Guedes  
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BELVEDERE BRUNO


Renascimentos

 

                                                                  
 

Era duro encarar as pessoas, pois não tinha respostas para a insólita situação.  Buscava encontrar no passado algum deslize, alguma palavra, algum sinal que  permitisse, ao menos,  fazer uma ideia, por mais louca que fosse, acerca da ocorrência.   Pensava nos inúmeros casos que já havia lido , como  homens que iam comprar cigarro em boteco de   esquina e nunca mais voltavam. Como poderia imaginar que, um dia , faria parte  dessas  estatísticas?

O tempo parecia voar.   Um ano, dois , três ...

Agora , passados exatamente cinco anos sem que nenhuma pista fosse encontrada, Marilda tentava encerrar  o ciclo.   O que  ainda a  incomodava  não era mais  o desaparecimento, mas o desgaste  emocional que sofrera  fazendo  conjeturas.  

Com uma taça de vinho nas mãos,  ouvia Diana Krall quando, subitamente, o telefone tocou.  Do outro lado,  uma voz  inesquecível, que sempre lhe provocara arrepios, parecia ainda  exercer  sobre ela grande  fascínio. Rememorando  deliciosos episódios  da juventude, riram, fizeram confissões, e ela  sentiu-se à vontade para dizer que, há tempos, não se divertia  tanto , pois havia  esquecido o significado da palavra  alegria.

Suavemente,  ele pediu a Marilda  que tentasse retomar aquela vivacidade que tanto o encantara.  As palavras tiveram um efeito mágico sobre ela.  E  só  então, Henrique, de fato, passou a ser  cinzas, enquanto  o fogo de  uma nova paixão tirava Marilda daquele  angustiante estado de desviver.

 

 

Belvedere Bruno (Brasil, Niterói/RJ). 
Cedo despertou  para as letras, graças  ao incentivo do pai, que sempre presenteou os filhos com livros. Atualmente, dedica-se às prosas, gênero onde mais se identifica. Tem várias antologias publicadas, como diVersos - Scortecci, @teneu.poesi@ - Scortecci, Com licença da palavra - Scortecci, O Conto Brasileiro hoje - Volumes VIII, Volume X e Volume XII - RG Editores. Tem publicações em diversos jornais da cidade, assim como em  outros estados, e mesmo no exterior. Vinho Branco, safra especial de contos e crônicas, seu voo solo, será lançado em maio de 2010.
http://www.belvederebruno.prosaeverso.net/

E-mail: belbruno@predialnet.com.br

 

 

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