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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2011 | Número 15
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Nada demais
nestas fotos, não são de um fotógrafo profissional, tiradas por um
amador, sem qualquer preocupação estética, apenas para registrar um
momento, um encontro de fim de tarde de pai e filho depois do término
das atividades escolares. Um acontecimento quase cotidiano que alegrava
a criança. Essa estação de passagem entre a escola e a casa, é um lugar
de trabalho, uma repartição pública, nada de especial. Mas, estas fotos
registram algo extraordinário, uma despedida, impossível para uma
criança de três anos, ter consciência. Mas as crianças têm
pressentimentos: O que transmite o semblante da criança? O que diz o seu
olhar? Um olhar triste, desconfiado, perdido, enigmático. Não são “os
olhos que viram o imperador” nem é o olhar do rapaz que “aguarda o
enforcamento”. Depois de Roland Barthes em a “Câmara Clara”, a
fotografia é mais que uma reprodução da realidade. Ela explicita uma
leitura e faz despertar sentimentos adormecidos dentro de nós. |
EDITOR |
TRIPLOV |
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ISSN 2182-147X |
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Dir. Maria Estela Guedes |
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ALMANDRADE
O que dizem as fotos |
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A criança
pensa com o olhar, com três anos o futuro é muito maior que o passado.
Ela olha o futuro. Da Vinci, no quadro “A Santana”, uma, das mais
belas e instigantes, composição plástica da história da arte: O menino
Jesus de aproximadamente três anos, sai entre as pernas de Maria
simbolizando o nascimento em direção a terra e abraça um cordeiro, como
se estivesse olhando para o seu futuro, ele o cordeiro de Deus que veio
ao mundo para salvar a humanidade. Depois de Da Vinci aprendemos a
querer ver mais nas imagens. Um pormenor chama a atenção na foto, os
lábios com um fragmento de biscoito, por um momento o garoto faz uma
pausa, para de mastigar, com as mãos ocupadas cada uma com um biscoito,
contempla o vazio, a câmara fotográfica ou o espectador. Para que essa
pausa? Em que pensa? Eu vejo a solidão e a saudade. Pensei em Velásquez
e “As Meninas”, quando ele para de pintar e olha para fora do
quadro.
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Bernardo - uma
pausa e um olhar |
Almandrade e Bernardo - o
sorriso desconfiado do pai não disfarça o aborrecimento do filho |
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Na outra
foto o sorriso desconcertado do pai, não consola a criança que olha para
o chão, com as mãos no queixo e uma cara de choro e de desamparo. Será
que ela imagina que vai separar-se do pai e tão cedo ou talvez nunca
mais retorne a esse lugar de trabalho, um lugar sem nenhum atrativo para
despertar a atenção infantil. Nessa sociedade da propriedade privada,
nem as crianças escapam, deixam de ser filhos para ser coisas, animais
de estimação de um dono e o outro é transformado em provedor econômico,
garantido por lei que desconhece afetos e desejos. Questões aparte da
imaginação do garoto. Esses mesmos olhos que da janela do apartamento um
dia avistou o mar e gritou: “Papai, achei o mar”, o que viu desta vez
para ficar assim tão aborrecido? Será o entardecer sombrio? Os poetas,
as crianças e os loucos têm visões.
Na pintura
de Pieter Brueghel, o maior observador em toda história da arte das
brincadeiras infantis, mostra uma cidade como um grande playground, onde
tudo nem sempre é fantasia e diversão. Num canto da tela, um lugar bem
discreto, aparece a máscara da tragédia. No meio de tanta diversão, a
triste realidade, a de que a humanidade segue o pior dos instintos. Não
sabemos direito a mensagem de Brueghel como também não temos certeza do
que diz o olhar desse garoto. Nos paraísos infantis nem tudo é tão
inocente e maravilhoso, é preciso ser perspicaz e prestar atenção nos
detalhes.
A foto é um
registro histórico que fixa para sempre uma subjetividade, e sua
interpretação reflete o ponto de vista e o desejo de quem olha. Ela tem
muitas referências, cutuca o que está guardado no fundo da memória.
Almandrade |
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Almandrade (Brasil)
Almandrade (Antônio Luiz M. Andrade): Artista
plástico, arquiteto, mestre em desenho urbano, poeta, professor de
teoria da arte do curso livre do MAM-Ba.. Participou de várias mostras
coletivas, entre elas: XII, XIII e XVI Bienal de São Paulo; "Em Busca da
Essência" - mostra especial da XIX Bienal de São Paulo; IV Salão
Nacional; Universo do Futebol (MAM/Rio); Feira Nacional (S.Paulo); II
Salão Paulista, I Exposição Internacional de Escultura Efêmeras
(Fortaleza); I Salão Baiano; II Salão Nacional; Menção honrosa no I
Salão Estudantil em 1972. Integrou coletivas de poemas visuais,
multimeios e projetos de instalações no Brasil e exterior. Um dos
criadores do Grupo de Estudos de Linguagem da Bahia que editou a revista
"Semiótica" em 1974. Mora em Salvador-BA.
Almandrade pode ser encontrado também no endereço
www.eale.hpg.com.br/alman/
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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