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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2011 | Número 10
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No 650.º Aniversário
da morte do Condestável em Lisboa
“No rescaldo das Cortes de
Coimbra, Nuno Álvares Pereira foi elevado a Condestável e mordomo-mor
do reino […]. Pretendia impor
uma monarquia de poderes limitados, suportada na teoria jurídica de
que todos fossem chamados a
decidir sobre o que a todos pertencia.
Era um governo adequando a este primeiro tempo de um rei,
que se erguia em fidelidades e serviços”
(Maria Helena da Cruz
Coelho) |
DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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JOÃO SILVA DE SOUSA
D. Nuno Álvares Pereira,
o homem e a sua obra |
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1. Foi há 600 anos que o
Condestável lançou as sementes da maior casa ducal do País, a de
Bragança, ao casar, em 1401, sua filha com um bastardo do rei D. João I
(esta instituição seria responsável pela quarta dinastia dos reis de
Portugal); e há 570 anos veio a falecer em Lisboa (a 1 de Abril),
legando à História um nome que todos honramos pelo significado que dele
transparece (1). Nasceu em Cernache do Bonjardim, a 25 de Junho de 1360,
celebrando nós, muito simbolicamente, o 650.º aniversário do seu
nascimento. |
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Detenhamo-nos por ora,
em alguns aspectos da sua acção política e social no decurso de 1383 a
1431. Para o efeito, teremos de privilegiar as seguintes vertentes, a
saber: a intrincada composição de todo o grupo familiar com o poder
central; os modelos de intercepção, antagonismo e disputa com os outros
órgãos do poder, articulados com os sistemas da época e o franco
desenvolvimento patrimonial e, por conseguinte, social que adveio de
toda uma linear actuação de D. Nuno, aquando da crise dinástica.
Na Crónica de D. João
I, o nascimento de Nun’Álvares é associado a uma verdadeira
profecia, como convém atribuir a heróis como Aquiles (da Ilíada,
de Homero) ou a Alexandre da Macedónia. Ao nascer, o seu futuro foi
visto como um de vencedor de batalhas, segundo uns, pelo pai, D.
Álvaro Gonçalves Pereira, que tinha fama de ler nos astros o porvir dos
seus filhos; segundo outros, por um tal de Mestre Tomás, letrado e
astrólogo. Teria sido, por isso, que seu pai o mandara para ser morador
da casa d’el Rei, segundo Fernão Lopes. Na Crónica do Condestabre,
contudo, o rapaz tornara-se membro da casa do rei por via de um
episódio, passado numa das guerras com Castela: aos treze anos, o jovem
impressionara o rei D. Fernando I e a rainha D. Leonor Teles, com as
suas palavras, após um reconhecimento de que foi incumbido fazer com o
seu irmão, Dieg’ Álvares, à procura da hoste de Castela. Não encontrando
tal agrupamento militar, consta, contudo, que “Dom Nuno Alvarez Pereira
[ - inquirido pelo rei acerca dos resultados da batida - ] respondeo que
lhe parecia muita gente mal acaudelada e que pouca gente com bõo
capitam, bem acaudelada, os poderia desbaratar”. Esta sagacidade precoce
que lhe é atribuída, assemelha-o a um Alexandre III, o Magno que
entretinha, eloquentemente, em criança, os dignitários persas, na corte
do rei Filipe II e de Olímpia do Epiro. Tal Galaaz, da Távola Redonda,
do Ciclo Bretão, que “recusara escudo, quebra as lanças com tal dureza
que todos admiram as suas proezas e maravilham-se que elas sejam o feito
de tão jovem cavaleiro”.
Impressionada pelas
palavras do jovem, a rainha D. Leonor arma-o seu escudeiro,
oferecendo-lhe o arnês do Mestre de Avis, e o rei introdu-lo em sua
Casa.
Um traço da
personalidade do jovem escapa das palavras do cronista anónimo, no que é
secundado por Fernão Lopes. Contam-nos que D. Nuno “era mui vergonhoso e
misurado”, o que demonstra quando a rainha dele fez escudeiro; ou quando
o seu pai propôs o seu casamento aos 16 anos “aalém de seer a todo mui
misurado de sua natureza, era-o muito mais a seu padre […] e era-lhe
muito milhor mandado e mais obidiente”.
Envergonhado e retraído,
não apenas no que tocava às relações com aqueles que sobre ele detinham
autoridade, mas também em relação às mulheres, na verdade, quando o seu
pai lhe arranjou o casamento com D. Leonor D’Alvim, que enviuvara de
Vasco Gonçalves Barroso, sem descendentes, havia pouco tempo, o jovem
casou a contragosto: o cronista anónimo e Fernão Lopes dizem-nos que Nun’Álvares
“ficou como que torvado hum pouco”. Mas não só a vergonha e timidez
podiam entrar aqui em jogo, na relutância do jovem em casar: de facto,
as virtudes da cavalaria, veiculadas especialmente pela “matéria da
Bretanha”, poderiam ter inculcado em Nun’Álvares Pereira valores de
castidade, numa emulação de Galaaz. Com efeito, o cronista anónimo
afirma que o jovem lia e ouvia histórias da cavalaria, especialmente as
da Távola Redonda e de Galaaz que “per virtude de virgindade […]
acabara muitos grandes e notavees feitos que outros nom poderom acabar”.
É sabido que concepções
como o amor cortês e as virtudes da cavalaria também penetraram nos
círculos senhoriais e régios de Portugal, correspondentes às aspirações
e modelos da nobreza especializada na guerra e a esta tendo ficado a
dever o seu estatuto privilegiado. São conhecidas as histórias do
Amadis de Gaula – cuja autoria é atribuída por Zurara ao tempo de D.
Fernando – ou a Demanda do Santo Graal, cuja versão portuguesa
parece remontar ao século XIV. Na biblioteca achada na Corte de D.
Duarte, encontra-se também a presença, no Portugal tardo-medieval,
destes modelos que popularizaram – um Livro de Tristão, o
Merlim, e o Livro de Galaaz – tanto que, nesse preciso
período, surge no Reino antroponímia masculina inspirada nas histórias
de cavalaria, como Lançarote, Rolim ou Tristão… Segundo este
filão, nasceram e ganharam corpo poemas romanescos de amor, como
Tristan et Iseut, em 1150, de Béroult e continuado por Thomas; de
aventuras: Yvain ou le Chevalier au lion ou Le Chevalier à la
Charrette, na segunda metade do século XII, ambos de Chrétien de
Troyes e de misticismo e exaltação religiosa – o Perceval, do
mesmo Chétien de Troyes, que o deixou incompleto. Por 1220, é tornada
pública, em prosa, a longa novela Lançarote – demanda do Graal,
abrangendo cinco narrativas de assunto bretão, sendo elas Lenda do
Santo Graal, História de Merlin, Aventuras de Lancelot du Lac, Demanda
do Graal e A Morte do Rei Artur. A influência é tal que Fernão
Lopes, na Crónica de D. João I (II parte, cap. 76), regista uma
conversa chistosa entre o Rei da Boa Memória e os seus homens de armas,
mal sucedidos num ataque à cidade espanhola de Cória, onde o monarca se
refere às novelas bretãs, afirmando: “gran mingua nos fezeron hoje este
dia aqui os bõos cavaleiros da Távola Redonda”. |
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D. Nuno Álvares
Pereira – representação corrente |
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“que nunca pensemos seermos
bastantes pêra viir
per nosso saber e poder solamente a
perfeiçom d’ alguu grande bem,
e quando nos veer, nom a nós,
mas ao Senhor demos gloria”
(D. Duarte) |
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2. D. Nuno
Álvares Pereira está na origem da formação de um senhorio que, nas
palavras do autor da sua Crónica, o qual ainda hoje se desconhece,
correspondia a metade do Reino. Embora consideremos esta expressão
exagerada, não podemos ficar indiferentes ao seu significado. Trata-se
da constituição de variados condados e outros senhorios que viriam a ser
pontificados pela Casa de Bragança que teve a sua carta de fundação, na
Regência do Infante D. Pedro, em 1442 (2). |
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Armas da Casa de Bragança |
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Na verdade, a instituição formou-se nos
inícios do século XV e afirmou-se até 1483, como um dos grandes
feudos da altura, dada a extensão geográfica dos seus bens
territoriais, o montante das rendas cobradas, a predominância
social alcançada e ainda o papel desempenhado na complexa e
difícil cena política. Foi, pois, uma das raras casas senhoriais
que atravessaram os tempos com o seu vastíssimo património
territorial de origem, mantendo-se no vértice da pirâmide social
e usufruindo de considerável influência e poder políticos, como
sabemos.
É de lembrar, a propósito, que chegou a
ocupar o trono em 1640, depois da expulsão dos representantes de
Filipe IV de Espanha. Não podemos esquecer que o actual
pretendente ao Trono português é o Duque de Bragança, o Senhor
D. Duarte Pio.
A Casa foi ainda demonstrativa de uma forte
capacidade e meios bastantes para, em momentos diferentes,
reagir contra a própria Coroa: já D. Nuno o havia feito em
relação a D. João I, quando este dirigia a sua política
centralizadora.
E foi ainda uma casa senhorial formada por um
descendente directo do rei, D. Afonso, seu filho bastardo, numa
época em que a política da Coroa se inclinou para a doação de
outros vastos patrimónios a parentes próximos seus; patrimónios
como os ducados de Coimbra e Viseu; e os Mestrados das Ordens
religiosas e militares de Avis, Cristo e Santiago.
Como se vai revelar Nun’Álvares, um dos
arquitectos da vitória de D. João, Mestre da Ordem de Avis, e de
Portugal, sobre o partido da sucessão castelhana?
Assim que soube da morte do Andeiro em
Lisboa, Nuno Álvares Pereira tomou logo o partido do Mestre,
mesmo contra os seus irmãos – Pedro Álvares, o Prior do Hospital
e Diego Álvares, este último que quase o acompanhou até Lisboa,
para, entretanto, vir a desistir. Mesmo sua mãe tentou, sem
efeito, demovê-lo, pouco depois em Lisboa, mas ela própria
acabaria por apoiar o filho, segundo reza a História. No
entanto, é um Nun’Álvares não pouco razoável, que parte em
direcção ao Mestre, mas absolutamente consciente da desproporção
das forças e do perigo de enfrentar Castela e a melhor parte da
nobreza militar portuguesa. Ele sabe que tomar o partido do
filho de D. Pedro I, e meio-irmão de D. Fernando I era “huu poço
mui alto e mui profumdo cheo de grande escoridoõe”, e foi isso
que, segundo Fernão Lopes, comunicou aos companheiros que iriam
consigo servir o Mestre. E, desde o primeiro momento que chegou
à cidade de Lisboa, proclamou a sua fidelidade à causa, sendo
feito membro do conselho do Mestre de Avis. Na realidade, tanta
era a proximidade e confiança entre os dois homens – dois
bastardos e filhos segundos – que João das Regas, Rui Pereira e
outros tentaram envenenar a relação, com a inveja que não
conseguiam esconder, aconselhando o Mestre a não dar atenção ao
jovem. Debalde, uma vez que, pouco depois, D. Nuno torna-se
fronteiro de Entre-Tejo-e-Guadiana. Após esta nomeação e antes
do episódio dos Atoleiros, surde o primeiro grande teste à
fidelidade do novo cabo-de-guerra do Mestre de Avis, que
preferiu guerrear contra os irmãos a abandonar o seu chefe e os
propósitos de ambos.
Com efeito, 1384 veio a ser a data do início
da carreira política e militar de D. Nuno Álvares Pereira que
conduziu à constituição do seu imenso património, base do
importante feudo, que a História consagraria como Casa de
Bragança, através do casamento do referido D. Afonso, com D.
Beatriz, filha de D. Nuno e sua herdeira única, por morte
prematura de seus dois irmãos (3). |
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“A História dos Homens é
cíclica: tem, em cada um
dos seus quadros, um movimento circular que acaba
onde começa, demonstrativo da sucessão desequili-
quilibrada dos momentos conjunturtais”.
(Fernand Nathan)
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3. No que se refere à
periodização interna sobre a qual decidimos organizar o nosso curtíssimo
estudo, distinguimos três fases: uma primeira de 1383 a 1400, ou seja,
desde o início da Crise Dinástica ao começo da política de formação das
casas senhoriais mais directamente afectas ao rei: as Casas dos próprios
Infantes, filhos de D. João I; uma outra que medeia entre 1401 e 1415,
isto é, desde o casamento de D. Afonso com a filha do Condestável até à
tomada de Ceuta; e, finalmente, uma última que não coincide, exactamente
com a sua morte, verificada em 1431, que vai de 1416 a 1423: desde o
regresso de África até que D. Nuno ingressou no Convento do Carmo, em
Lisboa. São períodos em que a formação, consolidação e expansão da
linhagem iam, - talvez ocasionalmente -, coincidindo com acontecimentos
políticos, económicos e sociais de primordial grandeza, como os que
sublinhámos acima. |
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Convento do Carmo,
em Lisboa |
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A primeira, até 1400, coincide com a época de
maior concentração de doações régias a Nuno Álvares Pereira, não
muito longe da resolução de organizar as casas dos outros filhos
do rei, o que começou a ser pensado, mais demoradamente, em
1402, quando D. João I e D. Filipa de Lencastre, para obterem
fundos, diminuíram o pessoal de suas Casas; e da consequente e
efectiva fundação das Casas Senhoriais de Coimbra, para D.
Pedro, e Viseu, para D. Henrique, em 1411: ano das respectivas
cartas de património. |
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A segunda, até 1415, tem
a ver com a formação da Casa de D. Afonso, Conde de Barcelos e futuro
1.º Duque de Bragança e com a intervenção do Condestável, seu sogro, nas
decisões acerca da tomada ou não de Ceuta. A última coincide com os
derradeiros anos de vida mundana do Condestável, e com a outorga dos
restantes bens a sua filha, ao referido genro e aos seus três netos,
filhos destes: D. Isabel, D. Afonso e D. Fernando, antes do seu esperado
recolhimento no Convento do Carmo, no ano de 1423.
A linhagem de D. Nuno
pode ser identificada com um primeiro membro dos Pereira que remontam
aos inícios do século XII (isto é a cerca 300 anos antes de D. Nuno ter
nascido) e a Bermudo I Forjaz de Trastâmara que nos surge pelo ano 1
000. Aquele Pereira pertencia a um ramo galego (Trantâmara). A ascensão
social da família, entre os séculos XII e XV foi progressiva, mas lenta.
É curioso o relacionamento com a Igreja e, sobretudo, com as ordens
religiosas e militares, não se conhecendo quaisquer conflitos. Na
verdade, Gonçalo Pires Pereira, seu tio-avô, fora comendador-mor da
Ordem do Hospital, em Castela; Gonçalo Gonçalves Pereira, seu avô, veio
a tornar-se Arcebispo de Braga e D. Álvaro Gonçalves Pereira, seu pai,
fora Prior da Ordem do Hospital, em Portugal. Todos, por isso, vão sendo
filhos bastardos dos seus respectivos progenitores, com poucas
perspectivas de virem a constituir facilmente, por herança, sólidos
patrimónios.
Enquadrados por
tradições familiares que faziam da guerra o principal meio de mobilidade
social ascendente da linhagem, Nuno Álvares e outros dos seus
ascendentes estiveram em posição favorável para aproveitar e
capitalizar, da melhor forma possível, o período de conflitos militares
e políticos que se abriram com a morte de D. Fernando I (1383), a
regência de Leonor Teles (1383-84) e a aclamação de D. Beatriz (1383),
filha-herdeira do casal e mulher do rei de Castela, João I. Outros
momentos se seguiriam para que a Casa de Bragança, no século XV, viesse
a ser forte interventora nos momentos mais problemáticos por que passou
o Trono, concretamente, na definição das estratégias que culminaram com
a morte do regente, em Alfarrobeira, em 1449, tido como opositor do
próprio rei.
Com as grandes vitórias
sobre o inimigo, D. Nuno tornou-se senhor de quase “metade do Reino”.
Discute-se, todavia, se seria movido por um patriotismo pungente, ou se
agia movido por um interesse senhorial que se consubstanciava na sua
aceitação dos privilégios e benefícios doados e outorgados pelo rei. A
dissensão que revê com o monarca, por causa dessas doações que este
último fez para garantir apoios na guerra com Castela – doações que nos
dizem as fontes, sobre o que não tinha das terras dos “traidores! –
poderia fazer supor um interesse mais pessoal e político-económico por
pare do Condestável, que, a ser assim, não seria tão desprendido dos
bens materiais como poderia pensar-se. D. Nuno sabia quanto valera, o
que ainda valia, o título que usava de Condestável do Reino. Mas a sua
actuação, ao longo da vida, pautar-se-ia mais pelo ideal cavaleiresco do
vínculo à fidelidade pessoal a um senhor do que a fidelidade a noções
abstractas de Direito ou Poder. Quando ocorreu o conflito com D. João I,
D. Nuno ameaçou emigar, como nos mostra Fernão Lopes, chamando alguns
dos seus companheiros de guerra “e que porem se queria hir for a do
Regno a buscar sua vida, guoardamdo sempre o serviço del Rey seu Senhor,
e que lhe rogava que fossem em esto seus companheiros”. Não poria, deste
modo – provado é – a raison d’état acima dos seus interesses pessoais,
quer fossem materiais e interesseiros, ou idealistas e cavaleirescos.
Contudo, no caso
vertente do nosso alvo (D. Nuno Álvares Pereira), sabemos que a sua
juventude, assim como a educação que lhe deram, por questões de
nascimento (ilegítimo e filho segundo), estava à partida, marginalizado
do grosso das heranças familiares. Paradoxalmente, pelo menos, era o que
parecia. Mas, o afastamento do partido da rainha veio a constituir a
altura e o ambiente ideais para a demonstração e afirmação do seu valor
pessoal, ponto de partida para o desenvolvimento de sua Casa.
Parece estar ainda por
explicar a razão por que foi Nuno Álvares quem, de todos os seus irmãos
(e eram muitos), assumiu um papel relevante junto do Mestre de Avis. Em
princípio, qualquer dos secundogénitos o poderia ter feito. A resposta
talvez possa ser achada através da análise das relações de parentesco
dos demais irmãos, principalmente, em função dos casamentos que cada um
fez com senhoras de importantes linhagens protegidas, directamente
dependentes da rainha D. Leonor e do rei de Castela, genro desta. |
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Assim, as opções políticas dos chefes das linhagens
onde se matrimoniaram podem deixar entender uma menor apetência para a
adesão ao Mestre de Avis, caso em que D. Nuno nem pensou duas vezes,
dado o significado político e patriótico que este apego trazia consigo.
Foram motivos: o restabelecimento da unidade, autonomia e independência,
o que nunca é demais recordar !
Rupturas com a família e ainda ambições naturais de
um deserdado, são, desta feita, evidenciadas por D. Nuno ao partir para
Lisboa ao encontro do Mestre. Valha a verdade que, à míngua da protecção
do chefe da linhagem, o seu irmão mais velho, o futuro Condestável
recorreu ao patrocínio de seu tio Rui Pereira que já se encontrava com
D. João, Mestre de Avis.
Decorrente deste facto, e, muito provavelmente, do
número restrito de adeptos que, então, ainda rodeavam o Mestre e
constituíam o seu partido, Nuno Álvares Pereira conseguiu, quase de
imediato, vir a integrar o seu conselho privado e tornar-se num homem
cujos pareceres eram indispensáveis ao futuro rei de Portugal. A
documentação é pródiga de casos e as Crónicas da época referem inúmeros
episódios.
Desejo de glória e honra? –Perguntamos ! A situação
do reino rápido o fez ver que teria de abandonar as rainhas D. Leonor e
D. Beatriz, símbolos da nobreza instalada, poderosa e prestigiante, e
colocar-se ao lado do Mestre de Avis, representante de uma nobreza
secundogénita (também ela feita de bastardos e legitimados) como a dele,
votada ao abandono lento e a um esforço redobrado para ocupar um lugar
melhorado na sociedade política do seu tempo: finais do século XIV,
meados do séc. XV. |
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“Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
faz que o ar alto perca
seu azul negro e brando.
Mas que espada é que,
erguida,
faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
que o Rei Artur te deu.
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
ergue a luz da tua espada
para a estrada se ver!”
(Fernando Pessoa)
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4. Segundo lendas pagãs de origem irlandesa,
a espada Excalibur foi dada ao Rei Artur pela Dama do Lago. Era
mágica e tornava-o quase invencível. De acordo com uma tradição
guerreira muito antiga, era costume ser atribuído nome a uma
arma notável pela sua beleza ou qualidade. Excalibur não podia
ser quebrada e o seu nome tem origem céltica e quer dizer
"relâmpago duro". "S. Portugal em ser"- eis a personificação do
que há de místico no País, ou do melhor e mais puro em Portugal,
no seu todo. Que se erga a luz da espada de Nuno Álvares para a
estrada se ver! Ou seja, que o guerreiro nos inspire para que
encontremos o caminho da grandeza do Império (4).
O Condestável vai ser, então, “a espada e a
voz” necessárias ao triunfo do partido nacionalista e
independentista. A Pátria tinha de manter-se independente do
jugo da “Espanha”, tinha de ser defendida, custasse o que
custasse e com todos os meios humanos, logísticos e materiais
(poucos, mas disponíveis), nem que, como ele afirmou, tivesse de
lutar contra o próprio pai, ao serviço do Mestre, seu senhor,
para defender a terra que os vira nascer a ambos e os criara.
Almeida Garrett, no seu drama histórico O
Alfageme de Santarém, escrito em 1841, servindo-lhe de fonte
para a intriga um passo da Crónica de D. João I, de Fernão
Lopes, desenrola uma lenda nesta importante vila, tendo como
pano de fundo a crise política de 1383-1385.
O romancista põe aí em cena três estados de
luta, a respeito da sucessão de D. Fernando I. Cada um destes é
representado por uma personagem retirada da massa social: o
nobre, o burguês (o alfageme) e um popular. O Alfageme é Fernão
Vaz, um espadeiro enriquecido à custa do trabalho digno, que
possui o dom de polir e temperar as espadas invencíveis, a quem
o condestável D. Nuno Álvares Pereira se dirige, na véspera de
se juntar em Lisboa ao Mestre de Avis. Fernão Vaz era o mais
reputado alfageme da região de Santarém. À custa de muito
trabalho, conseguiu juntar uma pequena fortuna o que lhe tinha
permitido casar com a bela Alda Gonçalves. Esta tinha sido, em
tempos, uma apaixonada de D. Nuno Álvares Pereira, o célebre
Condestável, guerreiro indomável.
Um dia, D. Nuno apareceu à porta de Fernão
Vaz e pediu-lhe para corrigir a sua espada. Quando o reconheceu,
o alfageme disse-lhe que tinha casado com Alda Gonçalves. A
revelação provocou uma certa emoção no Condestável. Quando o
alfageme chegou a casa, contou o sucedido à sua mulher que
chegou a temer pela vida do seu marido. No dia seguinte, o
alfageme entregou a espada ao seu dono, mas não lhe quis cobrar
pelo trabalho. Disse-lhe que, quando D. Nuno se tornasse conde
de Ourém, lhe pagaria o que ele merecesse, pois muito mais seria
mérito do seu cliente, pela pessoa cujo carácter lhe estava, com
evidência e gosto, predestinado.
Os tempos que se seguiram revelaram-se
difíceis para o alfageme. Invejas e intrigas fizeram com que
fosse preso e condenado à morte. Alda decidiu procurar D. Nun’Álvares,
agora conde de Ourém, e pedir-lhe ajuda. Com grande nobreza de
alma, o Condestável conseguiu o perdão real para Fernão Vaz.
Cumpriu-se assim a profecia do alfageme de Santarém (5).
Desta atitude, construída no séc. XVIII e
escrita no seguinte, mas aparentemente espontânea, não terá na
época resultado nada, como pode deduzir-se. No entanto, das
consecutivas e inerentes acções militares bem conhecidas,
decorreram a fama e o prestígio em todo o Reino, o grau de
dependência que o novo rei sentia em relação a D. Nuno, a
nomeação de 1.º Conde, Conde único ou Condestável (advinda da
promessa que arrancou ao rei de não fazer no País um outro Conde
que não ele, enquanto vivesse), o que, aliás, não cumpriu.
Recebeu ainda a frontaria-mor da Comarca do Entre Tejo e
Guadiana (o Alentejo, mais precisamente) e o cargo de
mordomo-mor, primeira figura da Administração pública, que o
colocava na intimidade do futuro rei, mesmo acima daquele que
viria a tornar-se seu escrivão da puridade.
O soberano deu-lhe também os títulos de 7.º
Conde de Barcelos, 3.º de Ourém e 2.º de Arraiolos e tornou-o
ainda membro prestigiado de primeiro plano no seu Conselho e,
por inerência, presente nas Cortes reunidas, pelo monarca, fosse
para que fim fosse, ouvindo sempre o seu indispensável parecer.
Nelas participou, pela primeira vez e com
subido relevo, proferindo discurso, com a maior das convicções,
quando secundou o Dr. João das Regas (com quem não simpatizava
grandemente) quando este foi eliminando, nas Cortes de Coimbra
de 1385, todos os pretendentes, um após outro, e provou que o
único que tinha condições de subir ao trono e ser eleito rei era
o Mestre de Avis. A voz de Nuno Álvares aqui fez ouvir-se sobre
todas as demais.
Numa altura em que nunca havia sido feito em
Portugal duque ou marquês algum e em que todos os outros
titulados tinham sido expropriados dos seus títulos e
propriedades (por se terem tornado fiéis partidários do rei de
Castela), esta atitude é claramente significativa da futura
situação do Condestável (o 2.º que houve em Portugal) acima de
todos, nas vertentes política, militar, económica e social. Foi
o líder de um dos maiores potentados do País, desde finais do
século XIV.
Tomou a decisão de recompensar ele mesmo e só
ele os seus apaniguados e servidores de sua Casa. Era um
verdadeiro grupo de guerreiros profissionalizados, que viriam a
receber parcelas das terras que D. Nuno auferira do soberano e
dividira, sem que o pudesse ou devesse fazer. Era contra a lei
vigente! Talvez se tivesse apoiado numa em que o monarca
decidira outorgar alguns poderes a seu filho e herdeiro, D.
Duarte, desde 1411/1412, à rainha e aos seus outros filhos.
Ante o facto, o monarca reagiu negativamente
àquela manifestação tipicamente feudal e autoritária, numa
tentativa de vir a recuperar os seus antigos direitos reais.
Havendo que fazer recordar que o poder soberano lhe pertencia
exclusivamente, e era inalienável e imprescritível, uno e
indivisível, diria que mais ninguém se não ele, o monarca,
poderia criar vassalos e privilegiá-los. Este diferendo levou D.
Nuno a ameaçar abandonar o Reino com os seus companheiros de
armas, atitude também esta exemplar de um comportamento feudal
típico e demonstrativo da segurança com que manipulava o poder
que detinha. Logo por 1396, ainda antes do casamento da filha,
doou terras a 21 vassalos seus, na grande maioria gente de baixa
linhagem. Era uma acumulação de património e de poderio jamais
vistos no País.
Os conflitos entre a Coroa e Nuno Álvares não
fariam esperar-se, especialmente quando o afrouxar da guerra e a
primeira paz com Castela, em 1393, puseram o soberano ao rubro,
perante um grande senhor desocupado e capaz de mobilizar um
exército paralelo ao seu. A criação por Nuno Álvares de
opulentos vassalos próprios, num processo de feudalização que
tinha poucos precedentes em Portugal, assustou ainda mais os
partidários da centralização que se impunha e urgia,
naturalmente encabeçada pelo rei. A este ponto voltaremos
adiante.
Provavelmente, um outro procedimento régio
que D. Nuno Álvares não viu com bons olhos, foi, após Ceuta, o
genro, D. Afonso, 8.º Conde de Barcelos, não ter sido feito
Duque à semelhança dos filhos legítimos do rei, D. Pedro e D.
Henrique. Avançaremos como uma tentativa de explicação também à
frente. |
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“A Lei
Mental tinha efeitos retroactivos.
Aplicava-se tanto ás doações futuras como às passadas. Como
consequência, muitos dos bens da coroa voltavam à posse do
rei”.
(A.H. de
Oliveira Marques) |
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5. Quando D. Nuno Álvares Pereira surgiu no palco
nacional, neto e filho ilegítimo que era (como o rei e o filho deste D.
Afonso), não suporia poder vir a deter no País um património
reconhecidamente importante. Já antes da publicação da Lei Mental, só
sucederiam nos bens paternos os filhos primogénitos e varões o que não
era o caso de D. Nuno. Para isso, necessitava de uma dispensa régia
especial que veio a ser-lhe concedida. Tendo em conta o referido
património de D. Nuno, o dos seus ancestrais Pereira era bastante
reduzido. Umas terras ao redor de Santo Tirso e ainda outras por perto
de Lamego.
Aos dezasseis anos de idade, escolheram-lhe a mulher:
Leonor de Alvim, viúva de Vasco Gonçalves Barroso, detentora de boas
rendas e cabedal, no Entre Douro e Minho. Fez um casamento bastante
precoce, detendo a noiva um estatuto económico superior, o que veio a
proporcionar a D. Nuno uma sólida base financeira que ajudou a firmar a
sua futura elevada posição social. Do enlace tiveram uma filha
sobrevivente, D. Beatriz, de quem a continuidade linhagística ficou
dependente.
O marido desta, D. Afonso, fora um pouco o reflexo da
autoridade e postura de D. Nuno - ambos ilegítimos, frequentavam muito
pouco a Corte; dispensavam as cerimónias de pompa e circunstância e os
rituais palacianos: apenas se avistavam com o rei quando estritamente
necessário e se convocados para o Conselho; e tiveram, entre mãos, a
administração de um património vastíssimo e a formação de uma das
principais Casas senhoriais do Reino, capaz de ombrear ( e por que não
mesmo ofuscar a do próprio rei e as dos Infantes?)
D. Afonso casara, em 1401, e já aqui uma boa fatia
dos bens do Condestável transitaram para a administração do genro. A
união servia os interesses reais, porque (pensava o rei) lhe
proporcionava, através da pessoa do filho, readquirir algum controle
sobre as inúmeras doações com que havia premiado os inestimáveis
serviços do Condestável.
Pelo contrário, do ponto de vista de Nuno Álvares,
esta união vinha aumentar e consolidar o prestígio da sua linhagem,
ligando-o à Casa Real, mas sem lhe diminuir a importância, como pensam
alguns autores, caso D. Nuno tivesse aceite o enlace da filha com o
herdeiro do trono, como o rei chegou a propor-lhe. Não concordamos, de
facto, com esta tese. O soberano queria, a troco do que fosse, minimizar
o desespero de D. Nuno, pelos últimos acontecimentos que faziam perigar
a sua situação de figura máxima da nobreza do Reino, contando só, no
entanto, com o monarca acima de si próprio.
Dizem que D. Nuno Álvares Pereira não vira que fosse
conveniente sua filha como rainha de Portugal, que faria contrastar as
suas mais humildes origens, comparadas com D. João I que, embora
bastardo, era filho do rei D. Pedro I e irmão do falecido D. Fernando I.
Neste caso, sentir-se-ia extremamente subalternizado.
Os motivos devem ter sido outros, dado que o herdeiro
do trono, D. Duarte, teria dez anos acabados de fazer quando a filha de
D. Nuno veio a casar-se com um dos filhos do rei, mas o bastardo!
Bastardo sim, exactamente como D. Nuno e o próprio rei de Portugal.
Motivos políticos precipitaram o casamento do
herdeiro do trono com uma Infanta Aragonesa, D. Leonor, e só em 1427, ou
seja, 26 anos depois.
D. Nuno requereu, muito antes, o matrimónio com um
outro filho do rei; desta feita, seu bastardo, não diminuindo a sua
situação social, mas também não lhe dando prevalência sobre ele, como
querem alguns fazer vincar. O casamento tomou lugar em 1401.
Da perspectiva do monarca, esta união também servia
totalmente os seus desígnios políticos. A liberalidade do soberano que
beneficiou o Condestável fizera deste um potencial concorrente, ao mesmo
tempo que limitara substancialmente o seu papel de distribuidor de
privilégios e imunidades.
Afigurava-se, agora, possível ao rei de Portugal
recuperar, através de seu filho, D. Afonso, a posse sobre essas mesmas
propriedades. De igual modo procedeu em relação ao Chanceler-mor e ao
seu Escrivão da Puridade, entre outros, com os quais trocou bens
esparsos e em áreas descontínuas por outras terras mais próximas umas
das outras, mas afastadas das fronteiras e dos consequentes perigos da
guerra.
Desta maneira, constituiu o património dos outros
filhos: a D. Pedro, o senhorio de Coimbra, com terras por
Montemor-o-Velho e ao redor de Coimbra, a quem outorgou o ducado de
Coimbra; a D. Henrique, o ducado de Viseu, o senhorio da Covilhã, terras
nos actuais distritos de Viseu, Guarda e Castelo Branco (ainda no então
almoxarifado de Lamego), o Mestrado da Ordem de Cristo e o governo
perpétuo do Algarve; a D. João, o mestrado da Ordem de Santiago, com a
administração de comendas e outras terras em número alargadíssimo,
sobretudo no Alentejo; a D. Fernando, a Ordem de Avis, com uma extensa
jurisdição no Alto Alentejo e na Beira Baixa, principalmente. Sobre D.
Duarte, apenas uma frase de escusa: como futuro rei, poderia vir a obter
no Reino quanto quisesse, fazendo-se esquecido das dificuldades que
tivera ele mesmo em reaver terras e vir a trocá-las por outras. O
Condestável não foi poupado neste mecanismo e as consequências não foram
as melhores, como veremos.
No entanto, esta estratégia de controle político e de
arrependimento por tamanho esbanjamento, destinava-se à afirmação social
da própria linhagem real. |
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“Tempo psicológico. Seguindo o pensamento,
podendo voltar no tempo, nas lembranças... Pode ficar viajando
entre o passado, presente e futuro. Pode começar em 1415, vir
para 1402, voltar para 1432,
e pode ficar dando voltas no tempo,
sem preocupação com o relógio ou com o calendário”
(um Grego dos nossos dias o disse) |
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6. Seguindo os marcos cronológicos que fixámos no
início da nossa exposição, como pudemos verificar, no princípio e antes
de casar, os seus bens eram por demais escassos, resumindo-se ao que lhe
fosse permitido pela Coroa recuperar da ascendência familiar e,
portanto, à capacidade de colocação no serviço régio. Fora pajem e
escudeiro da rainha D. Leonor aos 13 anos, a pedido do pai. Concertado o
casamento vantajoso aos dezasseis, em 1376, tudo passaria a depender
dele.
Ao abandonar a soberana que abraçava a causa do rei
de Castela, o que o fazia antever a perda da nacionalidade, passou-se
para o lado do Mestre de Avis. O episódio acima aludido e lapidarmente
tratado por Garrett acerca da predestinação ditada a D. Nuno pelo
Alfageme, nas praias de Santarém, no rio Tejo, foi envolvido pelo cunho
do milagre tão a propósito nestas ocasiões, pois tudo na vida se
desenrola segundo a ordem providencial que tem uma lógica profunda e uma
bondade intrínseca, da qual os homens só conhecem alguns aspectos
parciais. |
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Espada de D. Nuno
Álvares Pereira, na porta lateral do recinto da capela
de Nossa Senhora dos remédios que pertence à freguesia
da Sertã |
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O que podia esperar, à boa maneira feudal, em
caso de sucesso, era protecção e benesses. Desta maneira também
agiu para com os que o auxiliaram nas suas atitudes políticas,
como vimos. Eram actos correntes que os importantes senhores
feudais quer laicos quer eclesiásticos copiavam do próprio
soberano. |
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A identificação dos membros do grupo que rodearam
Nuno Álvares é, por isso, significativa. Revela uma participação de
elementos pertencentes a famílias com ele aparentadas, não só Pereira
mas também Carvalhal, do lado da mãe, Iria Gonçalves do Carvalhal e as
dos maridos das suas irmãs.
Descendentes de ramos secundários da pequena nobreza
tradicional, a sua associação a Nuno Álvares comprova claramente que
este havia conseguido ascender a líder militar e a chefe ou principal da
hierarquia linhagística do seu prestígio e riqueza.
A prestação de serviços era recompensada pela
protecção e distribuição dos ganhos de guerra, pelo saque e por atitude
mais concertada do rei de Portugal que consistia na outorga legal, por
carta, de bens de raiz, monopólios variados, títulos de nobreza, missões
por cá e no exterior, além de um assentamento elevadíssimo, um dos
maiores da época.
A proeminência por ele alcançada repercutiu-se sobre
toda a sua família, como é bem patente pela presença de parentes suas na
casa de D. Filipa de Lencastre. |
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“Na revolução de Quatrocentos, é de
admitir sem reservas, como pretende Sérgio,
que a causa se deva procurar na sub
versão do regime da propriedade motivada
pelo desinçamento populacional, atribuído à peste grande,
e consequentemente acúmulo de pequenas fortunas’
onde antes havia o servo teria passado a existir o remediado; o
foreiro ficaria
resgatado tantas vezes do senhorio,
o burguês tornar-se-ia suserano”.
(Aquilino Ribeiro) |
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7. O Condestável, por outro lado,
também doou bens e em duas fases distintas: numa primeira, aquando do
casamento de sua filha, em 1401; noutra, aos netos, antes de se retirar
para o Convento do Carmo, em Lisboa, em 1423.
É fastidiosa, por que é deveras
inumerável a lista de bens que deteve e que, em cada um destes momentos,
legou aos familiares. Mas, como não podemos nem devemos passá-los em
branco, só para que se fique com uma ideia, pelo contrato de casamento,
em 1401, entregou ao casal a totalidade dos bens que detinha no Entre
Douro e Minho, alguns referidos ainda na Inquirição de D. Duarte de
1433/1434 e no património de D. Fernando, 3.º Duque de Bragança, ainda
em 1483. Terras que iam do Minho e Trás-os-Montes ao Alentejo. D. Afonso
que viria a tornar-se o chefe da Casa brigantina, recebeu em 1401, o
condado de Barcelos (o 8.º Conde), mercê que havia sido pedida pelo
Condestável ao rei quando lhe fez a doação da terra.
As condições inclusas no dito
contrato regulamentavam também o sistema sucessório. Desta forma: caso
D. Afonso morresse primeiro que sua mulher (o que não veio a
verificar-se, pois D. Beatriz faleceu cedo, entre 1403 e 1408), esta
deveria herdar a totalidade dos bens; por morte de ambos, o herdeiro
seria o filho varão primogénito (o que também não sucedeu, pois D.
Afonso – o primeiro de todos - faleceu um ano antes de seu pai, em 1460,
sem filhos legítimos) e a sucessão far-se-ia de seguida por
primogenitura em linha masculina legítima; mas, caso este último
falecesse sem descendência legítima, todo o património deveria reverter
para o filho segundo (como sucedeu: o 2.º Duque de Bragança foi D.
Fernando, filho segundo do velho Duque D. Afonso) e respectiva
descendência por via masculina legítima (como aconteceu também: ao 2.º
Duque de Bragança, D. Fernando, sucedeu-lhe o filho primogénito, D.
Fernando, que veio a ser o 3.º Duque); se, porventura, este último não
existisse, ou não produzisse herdeiros, então, os bens passariam para a
posse da filha mais velha (o que contrariava a Lei Mental) e deveriam, a
partir daí, ser transmitidos por linha masculina e legítima; ainda, se,
por um acaso, não houvesse filhos legítimos do casamento, os bens
regressariam a Nuno Álvares Pereira ou aos descendentes por ele
expressamente indicados. Tudo, como se verifica, ia contra o disposto na
dita Lei, a começar por contrariar o princípio da unicidade, visto que a
repartição se fez com o consentimento do rei e “sem embargo da Lei
Mental”. E não foi caso único, como se sabe também.
O presente articulado sobre a
sucessão fala muito de filhos legítimos e do facto de que, só desta
maneira, para estes transitaria o património de Nuno Álvares. Fala
porque os havia! Recordemos que D. João I era ilegítimo, D. Nuno Álvares
era ilegítimo e D. Afonso também. Se os não houvesse à partida, seriam
assim as presentes determinações? Quantas cartas de legitimação não
foram passadas com o intuito de permitirem a transição de importantes e
avultados patrimónios de D. João I a D. Afonso V?
Se bem que o “se” em História não
deva colocar-se, poderemos ficar na dúvida: será que todos estes que
eram filhos ilegítimos, se só tivessem, por sua vez, filhos ilegítimos,
consentiriam naquela determinação régia? que pensaria o próprio rei de
Portugal que era bastardo de D. Pedro I, alcançou o Trono e dele veio a
herdar o Reino ?
Em 4 de Abril de 1422, Nuno
Álvares Pereira desapropriava-se, em favor dos netos, do demais
património: D. Isabel, única neta, ficava com as terras de Paiva,
Tendais e Lousada, a vila de Almada e as rendas de Loulé e Silves; ao
mais velho, D. Afonso, doava o núcleo patrimonial da Estremadura,
inclusive, paços na cidade de Lisboa, com casarios e demais
pertenças; ainda o Condado de Ourém e a vila de Porto de Mós. E ao
segundo neto, D. Fernando, a quase totalidade dos bens sitos no
Alentejo: era Conde de Arraiolos e recebia a alcaidaria de
Montemor-o-Novo, as vilas de Évora Monte e Estremoz, Vila Viçosa e
Borba, entre tantas mais.
Salvaguardava, porém, o usufruto
das rendas doadas aos Condes de Ourém e Arraiolos e outros bens que
havia cedido antes a protegidos servidores seus pessoais. Esta atitude
inscreve-se, muito possivelmente, na tentativa de criação de um
dispositivo de segurança que garantisse a continuidade da linhagem. |
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“O
ataque a Ceuta, porto marroquino importante pela sua posição comercial e
estratégica sobre o estreito de Gibraltar,
foi finalmente decidido[…]
O alargamento da conquista marroquina
dividiu depois os dirigentes portugueses.
Ceuta, por si só, de pouco valia”.
(A.H. de Oliveira
Marques) |
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8. Um momento
intermédio teve a ver com a tomada de Ceuta. Foi ouvido, para o efeito,
longe da corte, para não causar estranheza aos demais de que nada
sabiam, e para que a conquista pudesse prosseguir no maior sigilo. O rei
e os Infantes deslocaram-se, então, às suas terras e conferenciaram com
ele. D. Nuno tinha já 55 anos, tempo de começar a pensar numa
aposentação, apostada na leitura e na oração e no dever de ajuda aos
mais necessitados, tal como o desejava.
Neste assunto político,
foi de extrema lucidez. Disse ao rei e aos Infantes que não via na
empresa ceptense a posse das especiarias do Oriente que todos afirmavam
afluir àquele mercado que facilmente seria desviado; nem antevia sequer
a possibilidade de uma burguesia endinheirada poder vir a enriquecer
ainda mais no desenvolvimento da navegação mercante para o Norte da
Europa, no que também teve razão; nem punha sequer a hipótese de as
arcas do tesouro real se encherem de ouro, mercê de tributos lançados
sobre um comércio tão próspero.
Não importavam as razões
nem os objectivos. O que os Infantes queriam do velho cabo de guerra era
um motivo, fosse qual fosse para avançar. E avançaram, com a
participação de D. Nuno, embora desatento, a acreditar no cronista.
É curioso que o regresso
da vitória sobre Ceuta tenha feito de D. Henrique Duque de Viseu e de D.
Pedro Duque de Coimbra. Por que motivo não fez o rei D. João I a D.
Afonso duque também? Seria por ser ilegítimo? Os historiadores
questionam-se e não sem alguma razão.
Mas D. Afonso era já
tudo o que podia ser na altura. E mais fosse, maiores eram os obstáculos
à centralização e controle por parte do rei. Os demais infantes não:
estavam, precisamente desde 1411, a organizar Casa e a juntar algum
património. A Casa de Viseu não se supunha, à época, que viesse a
tornar-se numa das mais importantes até 1460.
Embora os bens do
Condestável tenham sido transmitidos, na sua quase totalidade, aos seus
descendentes, Nuno Álvares, como qualquer cavaleiro da época, não se
esqueceu de pensar na salvação da sua alma, como era prática comum.
Preocupado, aliás, precocemente, com este problema, decidiu passar os
últimos tempos da sua vida num convento carmelita, dotando a ordem,
mesmo antes de professar. |
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Não pretendemos aqui
determinar um padrão único de interacção entre os participantes do
processo de elaboração de monografias afins, aqui mencionadas, mas
orientar a criação do nosso texto, deste tema específico resultante da
investigação científica, com o escopo de apresentar uma contribuição
pessoal ao tema sempre alvo de grandes discussões pela riqueza dos dados
em presença.
Dentro de anos, alguém
se questionará da viragem a beato e/ou da sua santificação, como D. Nuno
que foi um intrépido guerreiro que, como houve quem dissesse e ainda o
afirma, “por cada Português que tombava no campo de batalha matava sete
castelhanos”. A Igreja nacional e a Santa Sé tornaram-no exemplo do
homem de boa vontade entre os demais Portugueses que não se exteriorizam
pela vulgaridade que rege as suas vidas. |
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Réplica do túmulo de
D. Nuno Álvares Pereira – original destruído aquando do
terramoto de 1755 - , no Convento do Carmo em Lisboa |
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9. Em conclusão e resumindo: Durante o
período que medeia entre 1385 e 1422, o comportamento político de Nuno
Álvares evidencia a prossecução de uma estratégia de afirmação do poder
social e material da Casa.
Como vimos, o rei, no entanto, ia-se
assumindo como o agente regulador e distribuidor de privilégios e era
dentro desse contexto que se revelava imprescindível um contacto
directo, para, quanto mais não fosse, legalizar, confirmando actos
anteriores e mesmo os levados a termo pelos titulares das Casas. Esta
mesma situação, por outro lado, pode explicar o conjunto de fricções e
desentendimentos internos com o Conde de Barcelos que caracterizaram o
período post 1401.
A organização de sua Casa copiava a do Rei
de Portugal e emparceirava com as dos Infantes D. Pedro e D. Henrique.
Era composta por um avultado número de terras, com seus rendimentos,
monopólios (o da lã, da pesca e exploração de madeiras nas florestas do
Minho e do Alentejo) e indústrias variadas; detinha um alargado número
de servidores, criados e apaniguados, umas largas centenas de homens que
engrossavam o seu poderoso exército que podia reunir entre os
trabalhadores nos seus bens imóveis: gente de braços fortes, artesãos e
camponeses, destros no dardo, espingarda, flecha e besta; possuía altar
portátil e capela própria, com pelo menos um capelão de cada vez e
ajudantes de missa, além de confessor e cantores de capela; tinha
físicos e cirurgiões próprios, os médicos da época; e uma espécie de
gente do comércio, os marceiros ou merceeiros, que lhe enriqueciam a
Casa e a corte, trazendo de fora materiais exóticos e raros que só
alguém com forte poder financeiro poderia adquirir.
Sabêmo-lo no meio dos seus súbditos, uma
arraia miúda que o fascinava, com quem se dava muito bem, por entre
tanoeiros, alfaiates, ovelheiros e cabreiros que já antes haviam
contestado o casamento del-rei D. Fernando com a senhora D. Leonor Teles
e contra esta e o seu amante, o Conde Andeiro, haviam levantado a voz.
Tinha orgulho dos seus criados e dos muitos que tinha e preocupava-se em
recompensá-los e guindá-los a superiores níveis sociais. Vivia, como se
sabe documentalmente, rodeado de criados e servidores com várias
profissões, a quem tratava com respeito, consideração e grande
humanidade de gestos. Soube sempre recompensá-los e bem pelos serviços
que lhe prestavam, tirando muitos deles do anonimato em que sempre
viveram e que se haviam, finalmente, revelado como grandes defensores do
seu rei e do Reino.
Foram, a pouco e pouco, sendo alvo de
cartas de privilégios, a seu pedido, ficando isentos do pagamento de
impostos, enquanto exercessem as suas tarefas: usavam arma, com
autorização do rei, fazendo o policiamento das terras e a escolta de
Nuno Álvares, de sua mulher e filha; encontravam-se muitos deles
dispensados dos serviços nos concelhos, como os de atalaia (velar e
rondar) e da reparação de infra-estruturas, como caminhos, pontes,
chafarizes, ameias e outras cercanias de protecção que as guerras e o
andar dos anos se iam encarregando de deteriorar, se não mesmo de
destruir por completo. Correspondia ao já fixado modelo do “privilégio
de apaniguado”, de que foram alvo muitos dos seus vassalos e súbditos.
Solicitou, sempre que necessário, ao seu
rei a outorga de cartas de perdão para seus criados, quando acusados de
qualquer tipo de contravenção. Era frequente uma prisão preventiva
domiciliária, como hoje a temos.
Estes processos podiam corresponder tão-só
a tímidas ascensões entre os seus súbditos e de D. Nuno perante seus
pares. O facto é que, conjugando-as com nomeações várias para cargos da
Administração local, nas suas terras e nos concelhos onde fazia
representar-se, de amiúde, se tornariam num grupo com considerável
poderio social e económico. |
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A par do que já ficou dito em tão poucas
palavras, Fernão Lopes não consegue dissimular a sua admiração pelo
Condestável, e os seus louvores a ele dirigidos são muito mais
espontâneos e profusos do que os escreve a D. João I, antecessor do seu
patrono, o rei D. Duarte. Esta admiração pelo Condestável, que afectará
a sua análise, e que dará às suas palavras sobre D. Nuno um carácter
muito perto do hagiográfico, talvez reflicta um pouco os ideais e
valores do cronista: as valias de um homem de povo, para o qual seriam
importantes mudanças sociais cujo contexto “pós-revolução” poderia
permitir, mas talvez também valores, porventura, veiculados pelo ideal
da cavalaria e correspondente literatura.
O quadro de valias morais e cavaleirescas
que fornecia o modelo idealizado de virtudes à nobreza em meados do
século XV, seria, muito provavelmente o mesmo de épocas anteriores, se
bem que já num enquadramento distinto, em que as mudanças
socioeconómicas se traduziam em novas e nascentes concepções de
“burguesia” e de “Estado”. Nun’Álvares, nobre de segunda categoria,
filho segundo legitimado – sublinhamo-lo – não deixa de ter em si
valores de justiça; como defensor da causa do rei legítimo, dos
oprimidos e dos fracos, ardoroso na fé e leal à terra que o gerou, não
hesita em ir mesmo contra a posição da maior parte da família. A figura
opõe-se ao modelo interiorizado pela Família, na crise dinástica e que
se passou para o lado de Castela, dando asas mais a sanha e cobiça do
que aos valores que ao Cronista pareciam virtuosos num nobre. Se,
idealmente, a nobreza justificava, em última instância, a sua posição
como a classe militar sobre a qual recaía a responsabilidade de defesa
do Reino, de Deus, do Rei e do povo, é fácil perceber, no que se refere
às mudanças trazidas pela Revolução Burguesa, em Fernão Lopes, vilão e
burguês, homem comum, uma certa contradição na complementaridade entre
esse ideal cavaleiresco e a nova realidade. E fácil é entendermos por
que é que projectou esses seus ideais na figura de D. Nuno, que ganhou
injustificadamente – pensamos -, porque não era necessário tanto, a fama
de Santo, o modelo que emanava todas essas virtudes cavaleirescas, e
justificou a sua ardente admiração pela figura, ao afirmar: “Asy que
seus militares feitos e humanaaes virtudes sam liçom avomdosa pêra
quoall quer primcipe, dos quoaes gramdes e immortal fama cumven que
fique pêra sempre”. Apesar disto, veremos depois outras contradições,
naquilo que, historicamente, conhecemos do Condestável, e este modelo
cavaleiresco que muitos – incluindo Fernão Lopes –lhe atribuíram.
Morreu esperançado em que o rei o perdoara
e, recordando-se deste que com ele crescera, crendo também em que o
monarca pudesse respeitar o seu nome e os bens de sua filha e netos. Se
o rei, porventura, o esqueceu, a História encarregou-se de o lembrar.
Foi este também o nosso pequeno contributo. É nosso dever, nunca o
poderemos esquecer, sublinhar as virtudes e os defeitos dos maiores da
nossa História e da nossa Cultura. Com a verdade, os respeitaremos e
passaremos a nossa palavra às sociedades vindouras.
E serão vocês, jovens alunos de hoje, que
ficarão encarregados de o fazer amanhã. |
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Bibliografia |
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João Silva de Sousa (Portugal)
Professor do Departamento de História, da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Académico
Correspondente da
Academia Portuguesa da História |
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© Maria Estela Guedes
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