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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2011 | Número 10
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O Instituto Inhotim é um espaço singular que reúne um dos principais
acervos de arte contemporânea do mundo e o jardim botânico com um dos
maiores acervos de espécies vegetais do Brasil. O Inhotim promove ainda
projetos sociais e educativos com a comunidade onde está inserido,
buscando permanentemente a promoção da cidadania.
O Inhotim reúne obras de arte a céu aberto, galerias e um acervo
com cerca de 500 obras de artistas de renome nacional
e internacional. O jardim botânico conta
com cinco lagos ornamentais e uma grande variedade de espécies vegetais
dispostas paisagisticamente pelo parque. Entre as diversas coleções
botânicas destacam-se as de Palmeiras, entre as maiores do mundo, com
número de espécies superior a 1300; a de Aráceas, com a maior coleção
viva do Hemisfério Sul, e a expressiva coleção de Orquídeas do tipo
Vanda de diferentes espécies. Os roteiros são muitos. Experimente o
Inhotim. Seja bem-vindo.
Instituto Inhotim, Outubro de 2010 (do folheto informativo
oferecido no local)
http://www.inhotim.org.br/ |
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DIREÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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Nova
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Foto: Ed. Guimarães |
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PRESENÇA DA DIREÇÃO
MARIA ESTELA GUEDES
Inhotim: artesãos do Paraíso
Fotos:
Carlos Alberto Filgueiras e
Maria Estela Guedes |
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A Carlos Alberto Filgueiras devemos, Ana Luísa
Janeira e eu, o conhecimento de Inhotim, em Minas Gerais, na região de
Belo Horizonte, e mais concretamente do Brumadinho. Além de
conhecimento, tratou-se de uma experiência estética e de comunhão com
Gaia, a deusa-Terra. O que fica dito acima, em
epígrafe, extraído do panfleto distribuído aos visitantes no edifício de
entrada do Instituto Inhotim, dispensa grandes considerações.
Limito-me por isso a comentar que há poucos paraísos no mundo, e que Inhotim é um deles. Obra global, funde a arte com a natureza e com a
Natureza - a minúscula e a maiúscula marcam a posição de entidades distintas. Neste lugar belíssimo, de
cerca de 14 quilómetros quadrados, encontramos a Natureza, isto é, a Mata
Atlântica em estado selvagem quanto baste, ou tenhamos essa esperança, e só nas margens dos recortes
que lhe foram introduzidos é que figura o Paraíso, a paisagem trabalhada
pelos arquitetos. Se a Natureza, maiúscula, é criatura de Deus, para os criacionistas,
(e criatura da evolução, para os evolucionistas, que em regra minusculam
a palavra), a
natureza, substantivo comum, é criatura nossa, obra dos artesãos
humanos. Inhotim é um híbrido de ambas. O
Paraíso é obra humana, e para a concepção deste muitos contribuiram,
incluídos os arquitetos paisagistas e os artistas plásticos. Semeadas
entre as árvores, erguem-se construções modernas, que desafiam a nossa
capacidade de admirar, quer pelas linhas arquitetónicas quer pelos
materiais usados e efeitos que produzem, como a reflexão parcial e
seletiva de quem passa à frente de paredes em fibra de vidro ou material
de aspeto idêntico. Tal como nas feiras internacionais, em que as
indústrias apresentam os seus mais admiráveis artefactos, assim no
perímetro de Inhotim podemos contemplar o que há de mais revolucionário
em materiais, construções e seu enquadramento na paisagem. Nada disto é
de estranhar, se adiantarmos que na origem do projeto figura um
milionário e que a abertura ao público tem apenas quatro ou cinco anos.
Estas construções a que me refiro são as galerias que abrigam obras de
arte contemporânea. Na dificuldade de falar de tudo e de todos, e
atendendo a que não é permitido fotografar interiores, e no exterior só
se for para uso
privado - entendo mal a interdição, tal como se formula no folheto
distribuído à entrada: então o jornalismo não pode informar sobre a
existência de um local aberto ao público, com entradas pagas? as fotos
de Carlos Alberto Filgueiras e minhas, que apresentamos aos
triplovnautas, estarão sujeitas a algum tipo de penalização? - enfim,
posto isto e outra ordem de razões, cinjo-me a dois exemplos apenas. O de Doug Aitken,
porque o seu pavilhão cilíndrico, vidrado, refletindo o interior só em
determinados movimentos, alberga uma obra de arte para mim surpreendente
e fascinante: o som da Terra em direto, produzido no instante da
audição. A Galeria Adriana Varejão, que abriga uma instalação
subordinada ao título «O Coelacanto provoca um maremoto», tem uma
implantação de extraordinária beleza entre lagos retangulares com água
colorida de um azul meio opaco, a rasar os bordos, como se vê na foto.
O Brumadinho é uma região de neblina. Chovia no dia em que visitámos
Inhotim. Porém nada foi deixado ao acaso neste paraíso mineiro, como se
nota na primeira fotografia: não é a questão de a casa fornecer
guarda-chuvas, sim de prever que a sua utilização pelos visitantes dará
lugar a uma coreografia. |
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O bailado dos guarda-chuvas |
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Os lagos são vários, povoados por
cisnes e patos friorentos; e o número de espécies de palmeiras
representadas é muito grande. |
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Ana Luís Janeira e Carlos Alberto
Filgueiras contemplam o Paraíso, manifesto à direita por uma escultura
que representa um arco de catedral humana. |
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Uma sala de visitas sobre a água e, à
direita, um coelho esculpido, a fingir que a Mãe-Gaia imita a arte
realista. |
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Parede de uma das galerias de arte, com
figuras em alto relevo; à direita, a Galeria Doug Aitken, que apresenta
o som que vai emitindo a Terra. |
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A autora destas linhas e Ana Luísa
Janeira embarcam num dos carrinhos que descrevem os percursos de maior
interesse para os visitantes. |
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A arquitetura arrasta o exterior para o
interior, abrindo a porta de casa à paisagem; à direita, um recanto
sonhador de um dos lagos. |
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Um dos percursos em Inhotim é o
botânico, dotado de guia, que informa, entre outras coisas, que dados
arbustos foram plantados numa escadaria de pedra para a destruirem,
porque se pretendia na paisagem o efeito de ruínas. |
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Enquadramento espetacular da Galeria
Adriana Varejão, em lagos retangulares de águas a rasarem os bordos dos
tanques, coloridas de azul, em que
nadam peixes esbranquiçados, que não são de certeza o Coelacanto, pois
este é uma espécie do Oceano Índico. À direita, mostrando a termiteira
(vêem-se campos e campos minados por elas na região), Carlos Alberto Filgueiras fala
das saúvas (Atta sp.), formigas introduzidas acidentalmente e
que, como acontece tantas vezes nestes casos, por falta de predadores
naturais, proliferaram, tornando-se uma praga. |
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Galeria Matthew Barney, de linhas
poligonais, dentro da qual se exibe uma instalação de âmbito ecológico;
à direita, uma escultura que na base tem uma tartaruga de rosto humano,
decerto a simbólica tartaruga que sustenta às costas as colunas do
firmamento. |
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Maria Estela Guedes (1947,
Portugal). Diretora do TriploV
ALGUNS LIVROS. “Herberto Helder, Poeta
Obscuro”, Lisboa, 1979; “Mário de Sá Carneiro”, Lisboa, 1985; “Ernesto
de Sousa – Itinerário dos Itinerários”, Lisboa, 1987; “À Sombra de
Orpheu”, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”, Lisboa, 1993; “Tríptico a
solo”, São Paulo, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”, Lisboa, 2008;
“Chão de papel”, Lisboa. 2009; “Geisers”, Bembibre, 2009; “Quem, às
portas de Tebas? – Três artistas modernos em Portugal”, São Paulo, 2010;
"Tango Sebastião", Lisboa, Apenas Livros Editora, 2010; "A obra ao rubro
de Herberto Helder", São Paulo, Escrituras Editora, 2010.
ALGUNS COLECTIVOS. "Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de
Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom
homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O
reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual.
Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”.
Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009. TEATRO. Multimedia “O
Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, com direcção de
Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José
Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no
Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez,
cenografia de Fernando Alvarez e interpretação de Maria Vieira. |
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL |
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