|
|
|
REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2011 | Número 10
|
|
“E ali se vê o brilho vivo que
navega no interior da sombra. Ali se ouve a linguagem que, como nenúfar,
aflora à tona das águas paradas do silêncio. /.../ Ali o ar, em frente
dos espelhos, oscila e parece arder
/.../.”
Sophia de Mello Breyner Andresen |
DIREÇÃO |
|
Maria Estela Guedes |
|
Índice de Autores |
|
Série Anterior |
|
Nova
Série | Página Principal |
|
SÍTIOS ALIADOS |
|
TriploII - Blog do TriploV |
|
TriploV |
|
Agulha Hispânica |
|
Bule,
O |
|
Contrário do Tempo, O |
|
Domador de Sonhos |
|
Filo-Cafés |
|
Jornal de Poesia |
|
|
|
ANNABELA RITA
…a linguagem
que,
como nenúfar… |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Da Literatura |
|
…Ali
o ar,
em frente dos espelhos,
oscila e parece arder… |
|
Falar de
Literatura implicaria evocar acordos e desacordos e reflectir sobre
matéria eminentemente metamórfica.
Todos concordamos
com o facto de que a Literatura é linguagem e comunicação. Mas a ordem
dos factores em referência não é arbitrária e aí começa o problema: na
diferença e na especificidade que a constituem.
As sucessivas
tentativas de definição e de caracterização dessa linguagem e
comunicação estéticas seriam, só por si, susceptíveis de formar
Bibliotecas (1).
Aqui, seria excesso imperdoável! Aceitemos, pois, que é uma
cristalização cultural (2) e um sistema hipercodificado (3)
por convenções específicas cujas insígnias os iniciados tendem a
reconhecer e que influem na criação e na leitura: pluralidade e
mutabilidade semântica (4),
assimetria comunicativa (presença vs. ausência) (5),
de géneros, de programas estéticos (escolas, movimentos, etc.), de
referências que lhe (re)compõem o cânone e a memória (autores e obras)
(6),
de funções (7),
etc..
Sereia, feiticeira
e estrela, atrai e faz-nos segui-la a seu modo… desde o título,
passando pelos limiares iniciadores (epígrafes, prefácios, advertências
de leitura, etc.), até ao último traço no papel, cria (con)sequentes
horizontes de expectativas que confirma, infirma ou concretiza, criando
uma vivência além, aquém e ao lado da quotidiana,
compensando-a, completando-a, analisando-a, (re)flectindo-a e/ou
alienando-a.
Sigamo-la, então,
contrariando a lição de Ulisses e deixemo-nos seduzir por ela, que…
…aflora
à tona das
águas paradas do silêncio… |
|
|
|
Das Literaturas Lusófonas |
|
|
|
Nas águas lusas, os nenúfares assumem tonalidades específicas…
Se a Literatura
for “Lira /…/ da Consciência” (8)
(Gomes Leal), então, ela terá o timbre do imaginário colectivo,
como reconhece Manuel Alegre, ao ouvi-la:
“Era um país ainda por dizer
e uma flauta cantava. Nos salgueiros
pendurada
ou na palavra. Uma flauta
a tanger
a língua apenas começada. Subia
pelo nervo e pelo músculo
como quem assobia no acento agudo
e no esdrúxulo. Algures por dentro
do país mudo. Uma flauta floria
sobolos nomes que vão
para nenhures. Algures
contra o vento. Com seus cântaros
e alegrias suas câmaras
da memória. Uma flauta ainda
sem história. Chamavam por ela
os antigos e os apelos ecoavam."
(9)
E a sua dimensão
patrimonial (10), justifica instituições que a cartografem
no âmbito de uma territorialidade alargada designada por mundo
lusófono (11):
as academias (12),
as associações culturais (13)
e de escritores, certas instituições (14),
prémios (15),
museu (16),
estudos linguísticos (da lexicologia à morfologia, sintaxe e história da
língua), Bibliotecas (das tradicionais às digitais), assim como este
observatório. Nesse mundo lusófono, como nos outros, a identidade nacional literária
define-se no quadro da "literatura como sistema comunicativo segundo,
intrinsecamente ligado ao esquema comunicativo primeiro da linguagem",
associando a consciência da comunidade nacional (17),
podendo alguns autores reivindicar a sua pertença a duas literaturas
nacionais ou a de uma nacionalidade que não é a sua de facto, mas por
afectos, ou a uma nacionalidade ferida na sua autonomia e politicamente
dominada por outra. |
|
|
|
1.
Da Literatura Portuguesa |
|
|
|
Perscrutemos o som da
“flauta” portuguesa.
No início, era… eis-nos no
campo da história e da mitologia portuguesas.
Tudo começa com a
independência, autonomia e legitimação comunitárias: a constituição de
um povo como comunidade que se (faz) reconhece(r) autónoma,
singular, diferente: Portugal.
Esse auto-acto político está
consagrado em documentos próprios que o nomeiam e constituem a sua
‘cédula’, mas foi reforçado por uma construção imaginária
progressivamente alimentada que lhe confere identidade, mais do
que apenas nome.
No ADN nacional que lhe
informa a cultura e as suas cristalizações literárias (e artísticas, em
geral), destacaria a conjugação inicial de três componentes orientadoras
da tessitura ‘penelopiana’: a bélica, a religiosa e a viator (no
mais lato sentido, contemplando a relação dialéctica de quem parte com
quem e com o que fica).
A elaboração de uma mitologia
consagratória e messiânica que coloca a comunidade “sob o signo de…”
reiterado nas suas insígnias (bandeira, hino, museologia, etc.) e na sua
canção mais identitária, o fado (“Foi por vontade de Deus…”, na
voz de Amália), assumirá como seu eixo mais central o imaginário
cristão, mas, na verdade, quer a espiritualidade pagã, telúrica, quer a
islâmica, quer a oriental, embebem-lhe o verbo relacional, o
sentimento da transcendência, de um além marcante da teleologia
da história e da existência comunitárias (uma vieirina História do
Futuro (18),
1718).
Por esse sentimento e com ele
se marcou e expandiu a territorialidade, se lutou e navegou, se fundaram
comunidades que hoje se reivindicam de uma mesma família (a
CPLP), se geraram sebastianismos ortodoxos e heterodoxos. A essas
experiências se mescla a da diáspora e da miscigenação: anterior,
simultânea e consequente.
Tudo contribuiu para que a
ânsia de ser, eminentemente identitária, se tornasse um dos
vectores centrais das suas manifestações culturais: não será apenas por
programas estéticos que ela é considerada pela maioria dos seus
clássicos (Camões, António Vieira, Garrett, Pessoa, etc.) como
factor decisivo da definição dos protocolos da comunicação
literária: na cultura do livro em que se inscreve, a relação de
“adequação” (para usar garrettiana expressão) entre o verbo artístico e
o povo-nação e/ou o seu representante é preocupação poiética, e a
sua capacidade de “exacerbar” (a palavra, agora, é de Cesário) releva da
capacidade de melhor a configurar, de mais se vincular a uma
pátria-mátria.
Tudo favoreceu uma escrita
interrompida pela vida e desejosa de cerzi‑la, expectante do
acontecer: o fragmentarismo complexo da escrita bernardiniana, como a
musicalidade e brevidade das vocalizações galaico‑portuguesas, tecidas
de lirismo, tragicidade e narrativo, atravessam os tempos e os textos,
no diálogo que lhes faz a história.
Tudo contribuiu, igualmente,
para que o sentimento da ocidentalidade (que Cesário
assumiu como um título), com todas as suas matrizes (greco-romana,
judaico-cristã, mas também islâmica, e, noutra vertente, de vocação
intimamente ‘ecuménica’, cavaleiresca, até, oriental, etc.) e
fraternidades (europeias, com destaque para as peninsulares (19))
se fosse tingindo de outros sentimentos ditados pela vivência da
ausência e da distância (no plano individual, familiar e
colectivo) que lhe foram modalizando o verbo poético e ficcional entre
canto e contracanto, registos simbolicamente expressos n’Os Lusíadas
(1572) e na História Trágico-Marítima (1735-36).
Na ausência e na
distância, a perda vibra de angústia, nostalgia, fatalidade
(a lírica galaico-portuguesa, a cronística, a novelística bernardiniana,
etc.). Nos que partem, como nos olhos descritos por João Roiz
Castell-Branco, e chorados à guitarra, depois, por Adriano
Correia de Oliveira:
“Senhora,
partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam
tristes vistes
outros nenhũs
por ninguem.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes
os tristes,
tam fora d’esperar bem
que nunca tam tristes vistes
outros nenhũs
por ninguem.”(20)
E nos que ficam,
como no-lo canta Martín Codax
(“Ondas do mar levado,/ se vistes meu amado ?/ E
aiy
Deus, se verrá cedo! //Se vistes meu amigo,/ o por que
eu sospiro?/
E aiy
Deus, se verrá cedo !”
(21))
ou D. Dinis (“Ai flores, ai flores do verde pino,/ Se sabedes novas do
meu amigo!/ Ai Deus, e u é?” (22))
em interpelação continuada por Manuel Alegre (“Se sabeis novas de meu
amigo/ novas dizei-me que desespero/ por meu amigo que longe espera”(23)).
Ou ausência e
distância onde a conquista vibra de estranheza e/ou de
emaravilhamento (a narrativa de viagens ou radicada na sua
simbólica), como observamos na Carta de Pêro Vaz de Caminha
(24)(1500).
Ausência
e distância, portanto, combinam e oscilam nas suas diversas e
sucessivas representações entre o lírico, o narrativo e o trágico que os
programas estéticos foram afeiçoando à realidade portuguesa. |
|
|
|
2.
Das outras Literaturas Lusófonas |
|
|
|
Falei de lusas
águas, que nas portuguesas não se esgotam…
Do adjectivo e da sua
genealogia, já reza muita crónica, mas passemos-lhe à frente: às outras
Literaturas Lusófonas.
Língua de comunicação na
territorialidade além peninsular, o português transportou consigo
a dimensão artística que lhe confirmou e reforçou a identidade
cultural.
Viajando no espaço e no
tempo, a língua portuguesa desenvolveu intercâmbios: deu e recebeu,
transformou-se. Nos territórios de maior permanência, foi-se
miscigenando com as suas congéneres locais, estabelecendo nexos de
aproximação e de distância, de afectos e de desafectos, revitalizando-se
com as novas e diferentes seivas, incorporando léxico expressivo de
outras paisagens (onde os sentidos são estimulados pela surpresa e
estranheza de terras, mares e ares), ductilizando estruturas, assumindo
cada vez mais a mudança inerente à (sua) vida.
Na sua diáspora, a língua
transportou a cultura portuguesa, que exprimia, e confrontou-se com as
outras culturas, que assimilou e que influenciou.
Nessa relação, destaco a
diferença entre os paradigmas de espaço e de tempo,
matriciais no plano da elaboração cultural, gerados na diferente relação
com a natureza, radicados na mundividência e na mundivivência,
configuradores de correspondentes imagísticas e simbólicas,
sensibilidades e imaginários: da perspectiva eurocêntrica de um real
ordenado por uma transcendência espiritualizada e institucionalizada (da
Igreja, Estado, Arte, etc., e suas hierarquias) definidor de
fronteiras de diversa natureza às perspectivas africana e ameríndia
de uma imanência telúrica ilimitada (cujos aqui e agora
se absolutizam no quotidiano da tribo e se interpretam e exprimem
nas vozes dos feiticeiros, dos velhos e dos reis/rainhas, dos régulos, e
na memória cristalizada nas sagas repousando em
matrilinearidades, de feminino sacralizado pela terra-mater), à
perspectiva oriental, conjugando imanência e transcendência na percepção
espiritualizada da vida e dos seres, aparentemente suspensos na
intemporalidade. Encontro de diferentes paradigmas que se
assinala em motivos simbólicos como, p. ex., o do “velho colono” (“Ali
sentado só, àquela hora da tardinha,/ ele e o tempo.” (25), Rui Knopfli).
E, em certos lugares (como Moçambique), a interculturalidade era mais
profundamente inerente à vida e à sua inteligibilidade, de modo a tratar
em futura crónica…
Trata-se de aventura
cartografando uma teia comunicativa em que se gerou uma
identidade-mosaico hoje designada por lusofonia (contrapontíisticamente
à anglofonia, à francofonia ou à ‘hispanofonia’(26))
cuja Língua-“Rainha-mãe
/…/ desafia a morte e o silêncio/ mãe em mim, que interroga o silêncio
e o tempo / razão e instinto face à traição dos ventos,/ língua,
mãe-imperial, por excelência, nobre o rosto./ E o porte” (27) (Virgílio de Lemos). Língua elevando-se em “Oração ao Índico”[28]
(Virgílio de Lemos) e a outras águas, como à “Mãe África”[29]
(José Craveirinha). Língua que também canta mítica(s) ilha(s)
original(is), configurada(s) na utopia afectiva e emocional da génese
(contrastando com a das utopias intelectualizadas cristalizadas em
lendárias Atlântidas e platónicas Repúblicas), ou “ilhas douradas” ou
“de Próspero” (Rui Knopfli) ou “inventadas” com “corpo de bruma”[30]
(Virgílio de Lemos) de icónica referência:
“A
fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos
e
sonha com impossíveis
naves moiras.
Tudo mais são ruas prisioneiras
e
casas velhas a mirar o tédio.
As gentes calam na
voz
uma vontade antiga de lágrimas
e
um riquexó de sono
desce a Travessa da
"Amizade."
Em pleno dia claro
vejo-te adormecer na distância,
Ilha de Moçambique,
e
faço-te estes versos
de sal e esquecimento.”[31]
Dessas culturas resultaram,
naturalmente, as suas manifestações artísticas, interessando-nos, aqui,
em especial, as literárias.
A literatura oral,
eminentemente simbólica e ritualística, e, em especial, em África e no
Brasil, radicalmente telúrica, das diferentes comunidades (tribos,
etnias, famílias, reinos, etc.) e a literatura portuguesa, já grafada,
encontraram-se e desenvolveram diálogo mais ou menos íntimo, mais ou
menos deslumbrado, mais ou menos marcado pela tentação de impor e/ou de
consagrar diferenças e semelhanças, às vezes, até, de se oporem.
Oscilando ou hesitando nos passos dessa dança de diferentes naturezas
onde o “tambor” ritmou a “flauta” com pulsão corporal e onde se beija a terra-mãe-amante (“Meus lábios procuram-te avidamente/ e
no delírio do meu amor por ti/ beijo-te inteira África”[32]
(1963), Duarte Galvão[33]):
musicalidade, sentimento, sistema linguístico, referências, etc.;
axialidade social das literaturas locais vs. desinscrição,
nesses mesmos locais, da portuguesa; a vinculação à terra-mãe de
umas, humanamente cartografada, e à terra-pátria da outra,
com cartografia política, etc..
Quando as oralidades se
disciplinaram na grafia e esta vibrou com o sopro daquelas, quando os
diferentes imaginários (o de matriz europeia e os dos locais onde a
diáspora conduziu o viajante português, múltiplos e heterogéneos) se
mesclaram e reconfiguraram simbólicas, quando os ‘brasões’ assumiram
diferentes ‘timbres’, novas identidades literárias nasceram,
assumindo um quadro de referências onde a esteticidade europeia
se mesclou com a axialidade social da vocalização africana,
americana, oriental, cada uma delas polifónica…
Essas diferentes literaturas,
corpus textual resultante desses casamentos entre os povos que
hoje se consideram lusófonos, estão marcadas pelas suas
histórias: da experiência dos primeiros encontros aos afectos e
desafectos em Casa-Grande e Senzala[34]
(1933, Gilberto Freyre), dos casamentos e dos divórcios políticos que as
ligações humanas e o tempo verteram em ligações indissolúveis,
reconfiguradas em comunidades alargadas de uma mesma língua (CPLP) onde Cada Homem é uma Raça[35]
(1990, Mia Couto), dissolvendo fronteiras étnicas na instância
individual e na fraternidade comunicativa, no amor à terra-mãe (Timor-Amor[36],
1974, de Rui Cinatti), à “pátria
[que]
é terra sedenta/ E praia branca; /…/ o grande rio secular/ Que bebe
nuvem, come terra/ E urina mar”[37]
(Vinicius de Moraes)…
São literaturas de “palavra
mágica”, “senha da vida”, “senha
do mundo”[38]
(Carlos
Drummond de Andrade),
em que muitos se sentiram/sentem clivados entre duas ou mais
identidades, tematizando esse dilaceramento da divisão matricial
no sentimento de que Nós [os
que o vivem]
Não Somos Deste Mundo[39]
(1941, Ruy Cinatti), por a nenhum aqui e agora pertencerem
inteiramente, ou que tentam resolvê-lo através da assumpção de que
“pátria é só a língua em que [se]
di[zem]”[40]
(Rui Knopfli), ou, ainda, buscando recuar a um tempo original e mítico,
d’A Arca: Ode Didáctica na Primeira Pessoa – Tradução do
sânskrito ptolomaico e versão contida[41],
(1971, João Pedro Grabato Dias), ou, enfim, antologiando-as, irmanadas,
em No Reino de Caliban[42]
em Hora di Bai[43]
(1975 e 1962, Manuel Ferreira).
Em qualquer delas, o ADN da
legitimação identitária, bebendo na experiência autonómica e
aspirando à construção nacional, vincou a escrita de cidadania.
Literaturas que evocam a tradição e se interrogam sobre
“Em que língua
escrever / Na kal lingu ke n na skirbi nel”[44]
(Odete Semedo) a vida, os padrões da história do indivíduo e da
comunidade, hesitando entre a língua saboreada com o leite materno e a
“língua lusa”[45]
(Odete Semedo), de infantil e escolar emoção, ou entre esta e a filha de
ambas (crioulo), ponderando a dimensão patrimonial, de legado mnésico, e
o desejo de mais comunicar.
São literaturas
que desejam trazer
“para o
palco da vida/ pedaços da[s] [suas]
gente[s],/ a fluência quente /…/ dos trópicos”[46]
(Alda Espírito Santo). Literaturas exprimindo o encontro e o casamento
linguístico e de sensibilidades, as sagas (Yaka[47],
1984, de Pepetela), as utopias sonhadas e denunciadas (A Geração de
Utopia[48],
1992, de Pepetela), as “estórias contadas”[49]
(1994, Germano de Almeida). O
exotismo discursivo e o neologismo radical ou fusional (Macandumba[50],
1978, de Luandino Vieira, Pensatempos[51], 2005, ou Estórias Abensonhadas[52],
1994, de Mia Couto), a
reescrita, a paródia (Quybyrycas[53],
1972, assinadas por Frey Ioannes Grabatus, na verdade, António Quadros,
glosando Os Lusíadas[54],
1572, o Jaime Bunda[55],
2001-03, de Pepetela, reinventando o icónico James Bond, etc.) e a
recriação, por um lado. O ritmo da oralidade “falinventada” das “vozes
anoitecidas”[56]
(1986, Mia Couto), por outro. O simbolismo emblemático da sua heráldica
reconfigurada, sinalizando a trajectória comunitária da “terra
sonâmbula”[57]
(1992, Mia Couto), preservando e codificando e (des)memória individual e
colectiva, a miscigenação cultural em corações de terras de outros tons
e de outros deuses:
(Enterrem
Meu Coração No Ramelau[58],
(1982),:da
União dos Escritores Angolanos, Mayombe[59]
(1980), de Pepetela, Luuanda[60]
(1963), de Luandino Vieira, O Meu Poeta[61]
(1989),
de Germano de Almeida),
Chiquinho[62]
(1947),
de Baltasar Lopes),
Karingana ua karingana
(63) (1974),
de José Craveirinha).
Delas, poliedro complexo,
outras crónicas rezarão, pois…
…ali se vê o brilho vivo
que navega no interior da sombra…
Annabela Rita
5 de Julho de 2010 |
|
|
|
(1)
Literatura, matéria de perspectivação
disciplinar diversificada e complementar. A História, a Crítica
e a Teoria da Literatura ponderam-na diacrónica, sincrónica e
acronicamente, oferecendo-no-la em função de quadros de
referências complementares e de conceitos operatórios que a
última elabora no seu intercâmbio com as outras, que os vão
testando e ‘afinando’. Outras disciplinas (a Hermenêutica, a
História da Língua, etc.) colaboram no esclarecimento dos textos
que mais se iluminam ainda no diálogo que mantêm uns com os
outros, através do tempo, do espaço, das nacionalidades (matéria
dos estudos
comparatistas e, expandindo o conceito de
texto
à Arte, em geral, assunto dos estudos
intermediais,
por excelência).
(2)
No texto literário, concentra-se de modo estruturalmente
depurado e elaborado essa polifonia difusa e complexa: a
cultura. Cultura, cuja heterogeneidade tende a ser
inteligida por perspectivações sistematizantes que evidenciam e
fazem reconhecer linhas de força identitárias assinalando
continuidades na descontinuidade. Cultura, onde se mesclam
identidade e alteridade, forças centrífugas e centrípetas
relevando da vida das comunidades, da sua experiência, da sua
memória, do seu esquecimento, do seu sentimento de pertença e de
ser,
da sua capacidade e vontade de o preservar e de o reforçar.
(3)
Além das convenções linguísticas (combinadas com as sociais,
morais, etc.), é uma comunicação
mediada
por
convenções próprias que lhe conferem
dimensão artística e historicidade: os géneros, a memória dos
seus
clássicos
e dos seus marginais, do cânone e do contra-canto, da
consciência estética de um devir do signo literário, de matrizes
e de prospectiva, de ensaística e de concretizações, de
processos. E é uma comunicação mediada também pela
legitimação intrínseca e extrínseca: a da
reflexão da palavra sobre si, narcísica e anelante de outra; a
da inscrição da palavra no real de que se contamina; a das
instituições que a (re)conhecem e que a fazem (re)conhecer
(associações de escritores, academias, programas escolares,
prémios, editoras, etc.).
(4)
É linguisticamente
ensaística.
Experimenta até aos limites do irreconhecimento a ductilidade da
linguagem, a sua plasticidade, a sua potencialidade fonética,
semântica e sugestiva, a sua capacidade concentracionária e
expansiva, as suas possibilidades combinatórias. Explora a
opacidade e a transparência do signo, desafia o nosso
imaginário, revoluciona e/ou sistematiza os sistemas
conceptuais, vectoria e/ou exprime o pensamento.
(5)
É comunicação
in absentia,
com tudo o que tal implica. A escrita e a leitura desenvolvem-se
em face de um lugar vazio imaginariamente configurado de modo a
influir na comunicação. Quem escreve concebe um destinatário em
género, número e ‘grau’ (nível de competência) ou pode
conciliá-los num registo que os conjuga (irónico, simbólico,
paródico, etc.). Quem lê, imagina-se a ser imaginado e… Cada
palavra vive da polissemia acrescentada pela sua autonomia
(descontextualização) que o tempo e as circunstâncias vão
expandindo na leitura. Com isso, torna-se protagonista de
Histórias da Literatura e de Histórias da Leitura.
(6)
É eminentemente
metamórfica:
as suas fronteiras estão em permanente mutação, quer no plano
teórico (da sua conceptualização), quer no plano criativo.
Reconfigura-se e é reconfigurada diversamente, em função de
factores intrínsecos e extrínsecos legitimadores. É
território movediço, onde os valores e as
sensibilidades se confrontam e onde o que hoje é considerado
literário pode ser relegado para as suas margens amanhã.
Vive a dupla vocação de querer ser
diferente
(original, singular, surpreendente) e de desejar,
(in)confessadamente,
assemelhar-se ao(s) modelo(s) que elege, à
tradição e linhagem com que se identifica. Nessa tensão,
revela-se subtil, mas profundamente
paródica e tabular: a memória estética e cultural
informa-a. Da alusão à assumida citação, do
pastiche à reescrita, todas as variantes
lhe modulam o verbo, suspenso de pregnância, vibrante de
suspeição.
E a palavra impõe-se
iconicamente:
é imagem em trânsito, dominada pela
arte da fuga, em que se transforma,
medusante e encantatória na sua (re)configuração e na das
imagens que promove na nossa imaginação. Nesse trânsito,
inscreve-se e grafa-se enlutada pela perda experimentada,
eufórica pela novidade que incorpora, tranquilizada pela memória
preservada: constitui-se como
detalhe ou sinal de programas estéticos que
codifica e cristaliza, que atravessa e em que se metamorfoseia.
Releva de protocolos de escrita e promove pactos de leitura:
sugere, impede ou dificulta itinerários analíticos, insinua a
sua inesgotabilidade, seduz e fascina pelo modo como se impõe
como alfa e ómega de si própria.
(7)
É plurifuncional. Assume diversas funções, desde
a de representar ou reflectir sobre o real até à de promover a
alienação dele, questionando a existência ou questionando-se a
si mesma, denunciando ou assinalando, observando ou
observando-se, etc..
E a escrita desenvolve-se oscilando entre elas, jogando com
elas, deixando sinais mais ou menos dominantes ou hesitando em
comprometer-se decididamente com uma delas, estética, social,
ética, filosófica ou outra. Ao longo dos tempos e das histórias
literárias, poderemos detectar predominâncias, mas é a
pluralidade que a caracteriza.
(8) Gomes Leal, A fome de Camões, Lisboa,
Assírio & Alvim, 1999, p.47.
(9)
Manuel Alegre, Com Que Pena. Vinte poemas para Camões,
Lisboa, Dom Quixote, 1992, p.11.
(10)
Até as literaturas de tradição oral pertencem ao domínio do
património imaterial da humanidade que a
Unesco reconhece.
(11)
O Dicionário Temático da Lusofonia (2005) consagrou
definitivamente esse bloco de diversidade cultural. Fernando
Cristóvão (Dir. e Coord.) et al., Dicionário Temático da
Lusofonia, Lisboa, Luanda, Praia e Maputo, Texto Editores,
2007.
(12) A Academia
de Ciências de Lisboa [http://www.acad-ciencias.pt/],
com a sua Secção de Letras [http://www.acad-ciencias.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=62&Itemid=74],
a Academia Brasileira de Letras [http://www.academia.org.br/].
(13)
P. ex., a ACLUS (Associação de Cultura Lusófona) [http://www.fl.ul.pt/aclus/].
(14)
Instituto Internacional da Língua Portuguesa: [http://www.iilp-cplp.cv/],
Sociedade da Língua Portuguesa [http://www.slp.pt/],
etc.
(15)
O prémio Camões.
(16)
Museu da Língua Portuguesa: [http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/].
(17)
Cf. Fernando Cristóvão. Cruzeiro do Sul a Norte. Estudos
Luso-Brasileiros, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda;
"A literatura como sistema nacional", pp. 13-34.
(18) António
Vieira, História do futuro, Lisboa, Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, 1992.
(19)
Cf. 3EL (Três Espaços Linguísticos) [http://www.3el.org/]
e o espaço das Línguas Ibéricas
[http://network.idrc.ca/en/ev-77353-201-1-DO_TOPIC.html].
(20) Garcia de
Resende, Cancioneiro geral de Garcia de Resende, Imprensa
Nacional – Casa da Moeda, Vol. II, 1990, p.324.
(21)
Martín
Codax, Cantigas,
Vigo, Editorial Galáxia,
S.A.,
1996, p.53.
(22)
D. Dinis, Cancioneiro, Lisboa, Editorial Teorema, 1997,
p.61.
(23) Manuel
Alegre, Praça da Canção, Lisboa, Dom Quixote, 2005, p.97.
(24) Pêro Vaz
de Caminha, A carta de Pêro Vaz de Caminha, Lisboa,
Comité Executivo das Comemorações do V Centenário do Nascimento
de Pêro Vaz de Caminha, 1968.
(25) Rui
Knopfli, Obra poética, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 2003, p.151.
(26)
Note-se que o reconhecimento mútuo dos diferentes blocos
linguísticos faz-se em diferentes instâncias, incluindo no 3EL
(Três Espaços Linguísticos) [http://www.3el.org/].
Ao lado da Commonwealth of Nations, a CPLP também reúne o bloco
dos países de língua portuguesa.
(27) Virgílio
de Lemos, Para fazer um mar, Lisboa, Instituto Camões,
2001, p.15.
(28) Idem,
Ibidem, p.40.
(29)
José Craveirinha, Xigubo, Maputo, Instituto Nacional do
Livro e do Disco, 1980, pp.15-17
(30)
V. A Invenção das Ilhas (2009), antologia de
(Virgílio
de Lemos),
organizada por António
Cabrita, ou a Ilha de Moçambique. A Língua é o Exílio
do que Sonhas (1999).
(31) Rui
Knopfli, Obra poética, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 2003, p.76.
(32)
Reproduzido de
http://ma-schamba.com/literatura-mocambique/virgilio-de-lemos/a-invencao-das-ilhas-de-virgilio-de-lemos/.
(33) Pseudónimo
de Virgílio de Lemos.
(34) Gilberto
Freyre, Casa-grande e senzala, Rio de Janeiro, José
Olympio, 1964.
(35) Mia Couto,
Cada homem é uma raça, Lisboa, Caminho, 2002.
(36) Ruy
Cinatti, Timor-amor, Lisboa, Edição do Autor, 1974.
(37) Vinicius
de Moraes, Antologia poética, Rio de Janeiro, Editôra do
Autor, 1960, p.204.
(38) Carlos
Drummond de Andrade, Discurso de primavera e algumas sombras,
Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1979, p.99.
(39) Ruy
Cinatti, Nós não somos deste mundo, Lisboa, Ática, 1960.
(40) Rui
Knopfli, Obra poética, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 2003, p.378.
(41) João Pedro
Grabato Dias,
A Arca:
Ode Didáctica na Primeira Pessoa – Tradução do sânskrito
ptolomaico e versão contida, Lourenço Marques, Edição do
Autor, 1971.
(42) Manuel
Ferreira, No Reino de Caliban, Lisboa, Seara Nova, 1975.
(43) Manuel
Ferreira, Hora di Bai, Lisboa, Plátano, 1980.
(44) Odete
Semedo, Entre o Ser e o Amar, Bissau, Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisa, 1996, p.10-11, citado em Odete Costa
Semedo, Histórias e Passadas que ouvi contar,
Viana do Castelo, Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2003,
p.17.
(45) Idem,
Ibidem, p.17.
(46) Alda
Espírito Santo, É nosso o solo sagrado da terra. Poesia de
protesto e luta, Lisboa, Ulmeiro, 1978, p.63.
(47) Pepetela,
Yaka, Lisboa, Dom Quixote, 1992.
[48] Pepetela,
A Geração da utopia, Lisboa, Dom Quixote, 1992.
[49] Germano de
Almeida, Estórias contadas, Lisboa, Caminho, 1998.
[50] José
Luandino Vieira, Macandumba, Lisboa, Edições 70, 1997.
[51] Mia Couto,
Pensatempos, Lisboa, Caminho, 2005.
[52] Mia Couto,
Estórias abensonhadas, Lisboa, Caminho, 2003.
[53] Frey
Ioannes Grabatus, Quybyricas, Lourenço Marques, J. P.
Grabato D., 1972.
[54] Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa,
Instituto Camões, 1992.
[55] Pepetela,
Jaime Bunda, Lisboa, Caminho, 2001.
[56] Mia Couto,
Vozes anoitecidas, Lisboa, Caminho, 1999.
[57] Mia Couto,
Terra sonâmbula, Lisboa, Caminho, 1992.
[58] União dos
Escritores Angolanos, Enterrem meu coração no Ramelau –
Poesia de Timor-Leste, Luanda, União dos Escritores
Angolanos, 1982.
[59] Pepetela,
Mayombe, Lisboa, Visão, 2003.
[60] Pepetela,
Luuanda, Lisboa, Edições 70, 1989.
[61] Germano de
Almeida, O meu poeta, Lisboa, Caminho, 1992.
[62] Baltasar
Lopes, Chiquinho, Linda-a-Velha, África, 1984.
[63] José
Craveirinha, Karingana ua karingana, Lisboa, Edições 70,
1982.
|
|
|
|
Annabela Rita (Portugal)
Professora na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, é Doutorada em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea
pela Universidade de Lisboa e tem a Agregação em Literatura pela
Universidade de Aveiro.
Integrou a MRPB - Missão para o Relatório sobre o Processo de Bolonha
(2003-04) e, actualmente, é Conselheira para a Igualdade de
Oportunidades do MCTES.
Presidente das Direcções do CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas
Lusófonas e Europeias), da APT - Associação Portuguesa de Tradutores e
do Conselho Consultivo da CompaRes-International Society for
Iberian-Slavonic Studies, Administradora do OLP (Observatório da Língua
Portuguesa), integra os Conselhos Consultivos da FMP (Fundação Marquês
de Pombal), do ICEA (Instituto de Cultura Europeia e Atlântica), a Mesa
da Assembleia Geral da APE (Associação Portuguesa de Escritores).
É, ainda, membro dos seguintes centros de investigação: CECLU (Centro de
Estudos de Culturas Lusófonas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da UNL), CEHME (Centro de Estudios Históricos de la Masonería Española)
da Universidade de Saragoça, o CECULBE-UNIFAI (Centro de Estudos
Culturais Brasil-Europa) do Centro Universitário Assunção - UNIFAI, em
São Paulo, GIA do IECC-PMA (Instituto Europeu de Ciências da Cultura -
“Padre Manuel Antunes”).
Criou e coordena a Tertúlia Letras Com(n)Vida, além de outras
iniciativas.
Foi agraciada com o Diploma de Mérito Cultural pela Academia Brasileira
de Filologia e pela Faculdade CCAA (Rio de Janeiro, 17 de Setembro de
2007) e com a Medalha Municipal de Mérito – Grau Ouro pela Câmara
Municipal de Oeiras (Junho de 2010).
Além de dezenas de participações em júris de prémios literários
nacionais e internacionais (de: PEN Clube Português, APT, APE, IPLB,
LER/BCP, Aristeion, etc.), fez a edição prefaciada de autores nacionais
consagrados e tem vasta colaboração ensaística dispersa em Portugal e no
estrangeiro, destacando-se os seguintes livros:
· Cartografias Literárias, Lisboa, Esfera do Caos, 2010 [pp. 198];
Itinerário, Lisboa, Roma Editora, 2009 [pp. 232]; Rui Nunes. Antologia
Crítica e Pessoal [Coordenação e um estudo, com Antologia Pessoal de Rui
Nunes], 2009 [151 pp.];De tempos a tempos. Júlio Conrado [Coordenação e
um estudo, com Antologia Pessoal de Júlio Conrado], Lisboa, Roma
Editora, 2008 [271 pp.];Homem de Palavra. Padre Sena Freitas [Co-coordenação,
prefácio e um estudo], Lisboa, Roma Editora, 2008 [846 pp.]; No Fundo
dos Espelhos - II. Em visita, Porto, Edições Caixotim, 2007 [310 pp];
Teolinda Gersão: Retratos Provisórios (Co-autoria com Teolinda Gersão e
Maria de Fátima Marinho), Lisboa, Roma Editora, 2006 [301 pp.];
Emergências Estéticas, Lisboa, Roma Editora, 2006 [239 pp]; Breves &
Longas no País das Maravilhas, Lisboa, Roma Editora, 2004 [237 pp.]; O
Mito do Marquês de Pombal (Co-autoria com José Eduardo Franco),
Lisboa,Prefácio, 2004 [117 pp.]; No Fundo dos Espelhos - I. Incursões na
cena literária, Porto, Edições Caixotim, 2003 [230 pp.]; Labirinto
Sensível (com Breve Antologia Pessoal de Casimiro de Brito), Lisboa,
Roma Editora, 2003 [244 pp.]. 2ª edição (encadernada), 2004 [244 pp.];
Eça de Queirós Cronista. Do “Distrito de Évora” (1867) às “Farpas”
(1871-72), Lisboa, Cosmos, 1998.
Direcção de Colecções Literárias:
· “Obras de Almeida Garrett” (série da colecção “Clássicos da Literatura
Portuguesa”), Porto, Edições Caixotim; “Faces de Vénus”, Lisboa, Roma
Editora; “Faces de Penélope”, Lisboa, Roma Editora; “Casa de Cultura”,
Lisboa, Roma Editora; “Ciências da Cultura”, Braga/Coimbra/Évora/Florianópolis/Lisboa,
Esfera do Caos Editores; “Letras Com(n)Vida”, Lisboa, Hespéria Editora. |
|
|
|
© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL |
|
|
|
|
|
|
|
|
|