REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 08-09

 







Estes desenhos são anotações e rabiscos selecionados por Aldemir Martins e utilizados diuturnamente por ele. De certa maneira, são riscos despretensiosos, já que não se destinavam a nada, senão a permanecerem como memória no presente. Eles foram feitos e viveram para que o artista nunca se esquecesse do vislumbre de uma forma que ele pressentiu num certo dia. Rastros de um olhar para dentro. Um instante em que o artista contemplou a sua própria alma. E é a esta suprema intimidade da arte e do artista que agora temos acesso.

Contemplar o desenho de Aldemir Martins é penetrar num raro universo de astros de luz própria, no qual podemos encontrar os seus pares, artistas como Paul Klee, Jackson Pollock, Marc Chagall, Pablo Picasso, Henri Matisse, Henry Moore, Juan Miró, David Hokney e Francis Bacon.

DIREÇÃO  
Maria Estela Guedes  
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JACOB KLINTOWITZ & ALDEMIR MARTINS

Rastros de um olhar para dentro

 

 
 
 
   
   
   
   
   
   
   
   
   

A linha fluiu com tanto fulgor que causa espanto que ela seja somente constituída de grafite, carvão ou nanquim. É tão comum hoje o uso de materiais fantasiosos para conseguir brilhos, relevo e luminosidade na tela ou no papel, muitos deles produtos de vida breve utilizados na decoração de festas populares, e, de repente, percebe-se que nada disto é necessário, basta um lápis e uma folha de papel.

 
 

O desenho de Aldemir Martins revela a densidade e o significado oculto do objeto. Ali estão o objeto e o paradigma platônico do objeto, a coisa e o símbolo da coisa, o contorno do ser e a representação perene dele. O desenho do artista, tão material como a matéria, revela a essência. No gesto feito no infinito do instante o universo está contido no desenho de um “galo”. A “cabra” revela a glória da natureza que gerou esta virtude da forma perfeita e gerou o artista capaz de definir o mundo num traço. O todo talvez esteja contido inteiramente na parte. Este é um paradoxo encantador, a possibilidade de encontrarmos o macro no micro.

 

   
 

   
 

   
 

 

Durante tantos anos os artistas e os teóricos almejaram a arte total e ora a localizavam no teatro, na ópera, no cinema, ora nos ambientes e instalações, em passadas, atuais e futuras tecnologias e, sem mais aquela, descobrimos que um desenho, uma linha negra sobre a folha branca – uma cabra, um galo, um pássaro, um homem imantado pelo agreste – pode ser a arte total.

 

 

 

Jacob Klintowitz (Brasil, 1941).
Jornalista, crítico de arte, escritor, editor de arte, designer editorial. É autor de 90 livros sobre teoria de arte, arte brasileira, ficção e livros de artista. Contato:
jklinto@uol.com.br

 

 

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