Já tocaste no Mundo, em qualquer parte:
uma árvore, uma ruga, uma lembrança
ou o sinal (bem nítido) ocultado
no traço que te dava a cinzelado
a mão duma criança. O corvo branco
a neblina (tão terna!) na manhã
sobre a revelação insustentável. Aonde
os filhos como em fotografia devastada
e como que enfeitando
a serena amargura? Há
ainda que submerso, um trote e o sangue
possivelmente eterno, possivelmente teu
dum cavalo, dum rio ou dum silêncio. Em ti
acham os anos a sua cruel trama
a mais concreta e, dir-se-ia, perdida
na torrente da urina, ou mesmo sob os ossos
a custo erguendo o couro do pescoço
quer dos campos, quer das casas caídas
quer do outro vulgar tendão desfeito
das sombras dos que mais
amados foram. Nem sequer, vamos lá
eternidade brusca, nem tampouco
o estralejar suspenso, o escape rouco
dum galope assassinado.
Em ti, por ti, de ti
o mundo equivalendo
o respirar humano e animal
das palavras desaparecendo. De ti
por ti, em ti
o retrato esquecido
da tua morte inacessível. |