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REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
Nova Série | 2010 | Número 04
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As origens da Sociedade Secreta de
São Miguel da Ala encontram-se entrelaçadas com a história religiosa e
político-social de Portugal, desde o carbonarismo (1820) e setembrismo
(1836) e desde a oposição cartista (1842) (1)
ao ministério do “entrudo” (7-9 de Fevereiro de 1842) e ao governo
Terceira-Cabral,
até à revolta “Maria da Fonte” (1846) e à Guerra da Patuleia (1847), para
depois terminar no miguelismo. De facto, será mesmo no seio dessa última
corrente política que surgirá, em 1848 – durante o reinado de D. Maria II
(1826-1853) –, a sociedade secreta comummente denominada Ordem de São Miguel
da Ala, a qual, devido a diversos factores, perdurou pouco mais de um
decénio, dissolvendo-se em 1859, para depois “ressuscitar” nas últimas duas
décadas do século XX.
Os
ideais maçónicos de um mundo intelectual e humanamente mais aberto, livre
(quer religiosa quer politicamente) e, portanto, liberal e democrático, à
procura de “leis feitas […] [por] delegados eleitos por sufrágio universal”
(2)
– ideais esses que tiveram o seu esplendor e apogeu na fundação da Grande
Loja maçónica de Inglaterra (3)
– chegaram a Portugal entre as primeiras três e as últimas três décadas do
século XVIII, sendo obviamente influenciados e impulsionados pelos
arquétipos de liberdade e autodeterminação da Revolução Americana
(04-07-1776) e, mormente, pelas aspirações de igualdade de todos os
cidadãos, perante a Lei Humana, desejos esses propulsionados pela Revolução
Francesa (14-07-1789), ponto de ruptura com o ancienne régime, não só
gálico mas também, e principalmente, de pensar antiquado, elitista e
reaccionário. O absolutismo régio e as tradições reaccionárias da Igreja,
mesmo quando confrontados pela evidência mais óbvia, eram talvez dois dos
mais “ferozes inimigos das liberdades humanas” e, portanto, tinham de ser
combatidos. Nas palavras do estudioso Borges Grainha (1862-1925): |
DIRECÇÃO |
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Maria Estela Guedes |
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Joseph Abraham Levi
Para uma história de uma ordem secreta de filiação monárquica:
Sociedade Secreta de
São Miguel da Ala (1848-1859)
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In:
«DICIONÁRIO HISTÓRICO DAS ORDENS
E INSTITUIÇÕES AFINS EM PORTUGAL»
Dir. José Augusto Mourão, José Eduardo Franco e Cristina Costa Gomes
Em parceria com o Instituto São Tomás de Aquino,
a revista Brotéria
e a Editora Gradiva, e com o
apoio especial de
Sua Exª o Presidente da República,
Dr.
Jorge Sampaio. Lisboa, Editora Gradiva, 2010. |
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“[…] a base da Maçonaria era, e é
ainda, a libertação do espírito, desembaraçar-se de todos os dogmas que
não possam ser provados nem discutidos, e a prática de princípios
demonstrados pela Ciência, em substituição das crenças que carecem de
base. Estas ideias são diametralmente opostas às normas da Igreja
Católica, que, crendo ser a única na posse da verdade, impões o seu
dogmatismo, exigindo obediência cega, e não admite tolerância em matéria
religiosa” (4).
De
facto, embora ilegais e perseguidas pelas autoridades régias, já na
primeira metade do século XVIII – mais especificadamente em 1733,
introduzidas pelo maçon escocês Gordon – o número de Lojas maçónicas em
Portugal aumentava a ritmo vertiginoso, umas compostas de católicos
(como a Casa Real dos Franco-Maçons da Lusitânia) e outras de
protestantes (5).
Só entre 1793 e 1799 foram descobertas cinco agremiações dos “pedreiros-livres”,
nomeadamente uma em Coimbra, uma no Porto e três em Lisboa. Devido aos
ideais maçónicos – impregnados de anélitos contemplativos, sublimes e
filosóficos – muitas personalidades ligadas ao mundo das letras e das
ciências, assim como da nobreza e mesmo do mundo eclesiástico (6),
recorreram a esta corrente misteriosa, oculta, secreta, “pagã”, antiga
(com raízes em Adão e Eva ou, segundo outros, nos patriarcas hebraicos),
mística e, por vezes, esotérica, mas não religiosa, na acepção dogmática
mais pura da palavra. Pois, não podemos esquecer o “carácter
‘anti-religioso’ da Maçonaria”, sobretudo tendo em conta o seu espírito,
o qual “é essencialmente o da ‘liberdade e da fraternidade, da
libertação mental, do progresso e da solidariedade. As suas bases são a
ciência e a beneficência, e o seu trabalho principal consiste em levar a
Ciência a servir a felicidade da Humanidade’ (7)”.
Contudo, segundo fontes historicamente ainda não comprovadas, esta
agremiação teria tido os seus primórdios nos momentos históricos que
seguiram a tomada cristã de Santarém, aquando da vitória de D. Afonso
Henriques (1111-1185) contra os Muçulmanos que ainda ocupavam partes do
território lusitano (711-1249) (8),
no dia 8 de Maio de 1147, durante as celebrações da Festa de São Miguel
do Monte Gargano (9).
Porém, uma outra tradição alude à aparição milagrosa de São Miguel num
momento decisivo durante a supracitada conquista de Santarém (1147).
Consequentemente, quase cinco lustros mais tarde, em 1171, D. Afonso
Henriques teria fundado a Ordem Equestre e Militar de São Miguel, também
denominada Ordem de São Miguel da Ala, ou Asa, para assim solenizar e
imortalizar este momento da história da Reconquista Lusitana contra os
“invasores” muçulmanos (10).
Sempre segundo esta fonte, os prosélitos desta nova confraria teriam
seguido a Regra de São Bento, “sendo uma das ordens militares de
cavalaria sufragâneas da Ordem de Cister de Santa Maria de Alcobaça
designada por Prelado”(11). Conforme às Constitutiones Militum S. Michaelis sive de Ala
(1630) – muito provavelmente o primeiro estatuto da confraria de São
Miguel da Ala –, os sequazes da Ordem encontravam-se divididos em
duas categorias, uma religiosa e uma secular, provindo os membros
desta última classe dos escalões da nobreza e da alta
aristocracia/burguesia, enquanto que os eclesiásticos pertenciam à
supracitada Ordem de Cister (fundada em 1098).
Pouco
mais de oito lustros depois, em 1672, o inglês Elias Ashmole
(1617-1692), no seu estudo sobre as Instituição, as Leis e as
Cerimónias da Ordem da Jarreteira, ou seja, The Institution, Laws
& Ceremonies of the Most Noble Order of the Garter, cita a
Confraria de São Miguel da Ala, atribuindo-lhe palavras de encómio
pela sua dedicação à protecção e preservação do Catolicismo, ao
mantimento das fronteiras político-geográficas de Portugal contra a
presença ameaçadora dos “infiéis” muçulmanos e, seguindo os ditames
bíblicos, ao amparo oferecido aos menos favorecidos da sociedade,
sobretudo os órfãos e as viúvas (12).
Além disso, também temos de mencionar a “propagação da devoção ao
Arcanjo São Miguel da Ala”, dado que este mensageiro divino foi
sempre aclamado “de Anjo da Paz, e Anjo Custódio da nação
[portuguesa] ou Anjo de Portugal” (13).
Quase
duas décadas mais tarde, em 1691, o Abade Ascanio Tamburinio (m.
1666), na sua obra póstuma De Jure Abbatum, et Aliorum
Praelatorum, menciona o ano em que o Papa Alexandre VIII
(1689-1691) assina uma bula reconhecendo e, sobretudo, aprovando a
existência, entre outras, da Irmandade de São Miguel da Ala,
denominada Ordo Equitum S. Michaelis sive de Ala, ou seja,
Ordem Equestre de São Miguel da Ala (14).
Um
ano mais tarde, o Abade Bernardo Giustiniani — na sua obra
Historie Cronologiche dell’origine degl’Ordini Militari e di tutte
le Religioni Cavalleresche — também menciona a confraria
portuguesa, oferecendo um inventário (talvez) completo dos
cavaleiros que pertenciam à dita Ordem até ao ano de 1667,
assinaladamente, até à regência de D. Pedro II (1683-1706). Segundo
o eclesiástico italiano, durante os primeiros quinhentos e dezoito
anos de existência da Ordem, ter-se-iam sucedido vinte e três
presidentes da Confraria, denominados Grão-Mestres, os quais,
seguindo o exemplo de D. Afonso Henriques, também exerceram as
funções de soberanos do país (15).
Estas
e outras menções à irmandade de São Miguel da Ala, aos seus membros
e, sobretudo, às suas actividades em prol da Humanidade, da
Cristandade (entenda-se, o Catolicismo) e de Portugal, continuaram a
circular pela Europa, sobretudo “entre os Séculos XVII e XVIII,
constituindo assim prova irrefutável da continuidade e actividade da
Ordem desde a sua criação [1147] até à época”(16).
Quanto ao período entre os últimos decénios da Época Moderna
(1453-1789) e as primeiras décadas do século XX, talvez a única obra
que oferece um vasto e comprovado leque de informações sobre as
actividades da Ordem de São Miguel da Ala seja o já citado estudo
sobre a História da Franco-Maçonaria em Portugal (1912) de
Manuel Borges Grainha.
De
óbvias inspirações maçónico-carbonárias, “mas com intenções
absolutamente contrárias”(17),
a Ordem de São Miguel da Ala era uma associação secreta, militante e
política, sobretudo “revolucionária e anti-dinástica”, tendo D.
Miguel de Bragança como força centrífuga/centrípeta. Em outras
palavras, “a sociedade era Católica, Apostólica, Romana e Miguelista
e, no entanto, absolutamente secreta, exigindo o juramento
inviolável sobre pessoas e coisas” (18).
De facto estes serão os primeiros artigos dos seus Estatutos,
os quais incluem os seguintes deveres: ser uma ordem secreta,
militante e política (artigo 1.o); apoiar e defender a
Religião Católica, Apostólica, Romana (artigo 2.o);
restaurar a legitimidade portuguesa; quando e se for necessário,
recorrer às armas para cumprimento dos seus fins (artigo 4º);
guardar segredo inviolável sobre as pessoas e as coisas (artigo 5.o);
o Grão-Mestrado da Ordem competia aos reis portugueses, primus
inter pares a D. Miguel I e, após a sua morte ou incapacidade,
aos seus sucessores legítimos (artigo 28.o). Assim,
“[a]
Grã-Mestria da Ordem […] seria continuada pelos seus legítimos
sucessores na Chefia da Casa Real Portuguesa da linha Miguelista, ou
seja os herdeiros do Trono e da Coroa de Portugal. A herança do
título de “Grão-Mestre Nato da Ordem de São Miguel da Ala”
seria sempre reconhecida à nascença do primogénito dos descendentes
sucessores de D. Miguel I” (19).
Os
três graus de organização interna, típicos de uma sociedade
iniciática, como a Maçonaria e a supracitada Carbonária, também são
visíveis na constituição interna da Ordem de São Miguel da Ala. As
condições/etapas de Aprendiz, Companheiro e Mestre
deram assim lugar aos seguintes seis níveis organizativos:
Noviços, Cavaleiros, Comendadores, Grã-Cruzes,
Mestres e um Grão-Mestre (artigos 11.o ao
21.o) (20).
Os Noviços, por sua vez, dividiam-se entre os graus de
“aspirante, pagem e escudeiro”. Os Cavaleiros encontravam-se
divididos em duas categorias, ambas denominadas de professos.
Os Dignitários, como a palavra sugere, abrangiam os
Comendadores e os Grã-Cruzes, enquanto os Mestres
compreendiam quer os Mestres propriamente ditos quer o
Grão-Mestre, ambos superiores a todas as outras divisões (21).
Entre
os Mestres maçons existia um grupo formado pelos mais antigos e mais
estimados, de entre os quais se escolheriam quer o Grão-Mestre quer
os outros funcionários da Ordem com altos cargos executivos. De sete
graus, o Rito Escocês passou a ter vinte e cinco e depois trinta e
três graus; o Rito Francês, também denominado Moderno, contava, ao
invés, com sete graus. Mas havia outros ritos, cujos graus variavam
entre sete e noventa e dois. Todos os ritos tinham em comum o Rito
Simbólico, ou seja, três graus, assinaladamente, a representar “a
tripla força de bem pensar, bem dizer e bem agir” (22). Estes seriam os alicerces de todos os demais ritos maçónicos do orbe
terráqueo. Mais tarde, porém, o Rito Simbólico foi reestruturado,
chegando a reunir dezoito lojas, embora mantendo os três graus
iniciáticos.
Quanto à Ordem de São Miguel da Ala, ao invés, cada agremiação
de Noviços, juntamente com os seus respectivos
Cavaleiros, formava um Colégio. Um grupo de
Colégios, acompanhados pelos seus Comendadores, por
sua vez, formava um Capítulo. Por fim, um conjunto de
Capítulos, com o seu Grão-Cruz correspondente,
formava uma Província (artigo 23.o).
Obviamente, os Grão-Mestres encontravam-se acima de todas
estas divisões.
D.
Miguel I, a 3 de Julho de 1855, numa carta endereçada a um
membro da Ordem com o pseudónimo de Egas Moniz (23),
relata ser o restaurador da Ordem de São Miguel da Ala, ou
melhor, apelando-se à antiga tradição desta agremiação – ligada
a um episódio da história da expansão territorial de Portugal
(1147) e da Reconquista Lusitana aos Muçulmanos (711-1249) –,
declara-se aquele que dá vida nova a esta irmandade dos
primórdios (1147) e, para incentivar os seus (potenciais)
adeptos, promete recompensas, se ele conseguir voltar a Portugal
e, consequentemente, subir ao trono:
“[…]
a minha estima por todos os serviços prestados pelos meus fiéis
vassalos, os leais portugueses que pertencem à O<rdem> de S<ão>
M<iguel> da A<la> que, sabendo os seus nomes e os seus serviços,
uns não serão nunca esquecidos e os outros receberão a
recompensa em relação com a sua importância […] todos os
serviços prestados à O<rdem> lhes serão reconhecidos como se
tivessem sido feitos em qualquer classe ou ramo de serviço
público aos quais tivessem pertencido […](24).
Daqui
se depreende, então, que com este incentivo, juntamente com a
“missão religiosa” de cada adepto – ou seja, a de manter
Portugal um País Católico, Apostólico e Romano, e, portanto, não
contaminado por seitas ou ideias heterodoxas –, a Ordem de São
Miguel da Ala apelava quer à religião (o Catolicismo) quer ao
patriotismo mais puro para protestar contra as mudanças
político-sociais que estavam a afectar a estabilidade de
Portugal. Em outras palavras, D. Miguel era, para os irmãos da
Ordem, a resposta à estabilidade, à harmonia e à autonomia
portuguesas, onde religião (o Catolicismo) e poder régio,
intrinsecamente unidos entre si, poderiam resistir e,
consequentemente, responder com força e determinação às mudanças
político-sociais da primeira metade do século XIX.
Devido ao facto de D. Miguel se encontrar exilado no estrangeiro
(1824-1828 e 1834-1866), os irmãos da Ordem de São Miguel da
Ala, apoiados por outros partidários fiéis à causa miguelista,
mais especificadamente denominada “legitimista”, fundaram um
jornal, a Nação, cujos fins financeiros eram, entre
outros, os de “procurar dinheiro para as despesas de D. Miguel
no estrangeiro” (25).
Os
liames com as associações secretas, como os supracitados Maçons
e Carbonários, são visíveis nos métodos usados para tornar
críptica e, portanto, incompreensível aos de fora a
correspondência entre membros da Ordem, quer em Portugal quer
entre Portugal e o estrangeiro. Entre eles, o mais notável é o
sistema de escrita que substitui as letras do alfabeto romano
por símbolos gráficos:
“[…]
as letras são substituídas por números cortados por um ou dois
traços e alguns sem traço. As palavras são divididas por
vírgulas; as conjunções, as partículas e os artigos por um traço
horizontal —; e os períodos por dois traços horizontais
=. […] Nas abreviaturas pode-se notar que geralmente
empregam-se cinco pontos em forma de cruz, mas em alguns
documentos limitam-se a dois pontos : um por cima do
outro” (26).
É
interessante reparar na similitude entre os símbolos maçónicos e
carbonários e a pontuação miguelista, esta última adoptada pela
Ordem de São Miguel da Ala:
“Confrontando com os três pontos em forma de triângulo (direito
... como na Maçonaria ou invertido ...
como no Carbonarismo) consegue-se reconhecer que o símbolo
maçónico e carbonário é o triângulo, enquanto o símbolo
miguelista era a cruz ou as cinco chagas de Cristo”.
O
sigilo absoluto sobre qualquer tipo de actividade fez com que a
existência da Ordem de São Miguel da Ala fosse mantida na
escuridão. De facto, só depois da sua extinção, em 1859, é que
foram divulgados dados sobre a sua existência, ou seja, quase
uma década após a dispersão ou falecimentos de muitos dos seus
membros:
“A notícia da reestruturação e continuidade da Ordem de São Miguel da Ala
e a actividade secreta e militante dos seus Cavaleiros em
Portugal só vieram a público em 1868, já depois de o Rei D.
Miguel ter falecido em 1866. Nessa altura já toda a
actividade social, organizada, secreta e militante dos seus
cavaleiros tinha sido oficialmente suspensa, em 1859, por
decisão de D. Miguel, sendo que a actividade do Mestrado do
Porto só terminou em 1861” (27).
Após
a morte de D. José (1750-1777), sucedeu-lhe ao trono D.
Maria I (1777-1792; † 20 de Março de 1816) e com ela voltou
o espírito conservador e retrógrado que o Marquês de Pombal
(1699-1782) tanto tentou erradicar. Durante o seu reinado,
assim como o dos restantes monarcas portugueses, de D. João
VI (1816-10 de Março de 1826) até ao fim da monarquia com D.
Manuel II (1908-1910; † 2 de Julho de 1932) as actividades
da Ordem de São Miguel da Ala ficaram “suspensas”, a qual só
reapareceu na última década do século XX. As tentativas de
restaurar a Ordem, a 4 de Agosto de 1981 ficaram arquivadas
até ao 27 de Outubro de 1987, altura em que:
“[…] Dom Duarte de
Bragança, publicamente afirmou, para o esclarecimento dos
que erradamente achavam a Ordem se São Miguel extinta, que a
comunidade da Ordem era mantida pelo título que apresenta de
Soberano Grão-Mestre Nato da Ordem de São Miguel da Ala”
(28).
Logo
depois, no mesmo ano, a Santa Sé aceitou tal declaração como
verídica, reiterando o facto da continuidade da Ordem
através do tempo, apesar de não terem existido Grão-Mestres
desde a morte de D. Miguel, em 1866. A Ordem de São Miguel
da Ala foi, portanto, prontamente reinserida na lista das
ordens activas, sendo o seu nome apagado do rol das ordens
extintas (29).
Contudo, foi só no início do século XXI, a 29 de Setembro de
2000, que o Duque de Bragança finalmente ordenou:
“[…]
a preparação de Estatutos para a criação de uma Real
Irmandade para “a preservação da memória e tradições da
Ordem de São Miguel da Ala”, a “consagração de Irmãos a São
Miguel”, e também para servir de “único complemento
activo e social organizado” para aqueles que tenham sido
investidos com títulos e condecorações honoríficos da mesma
Ordem e queiram integrar a Irmandade como Irmãos” (31).
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Bibliografia: |
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___, “Procédures curieuses de l’Inquisition de Lisbonne
contre les Francs-Maçons,” in História da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal,
comprehedendo a historia diplomatica, militar e politica
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Tamburinio de Marradio, Ascanio. De Jure Abbatum, et
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(1) A Maçonaria e o Carbonarismo,
se bem que tivessem origens diferentes – a primeira com um
carácter “mais burguês”, o segundo sendo uma sociedade secreta
principalmente política a qual aceitava indivíduos de todas as
classes sociais, tendo como único requisito a compra de uma arma
de fogo —, tiveram um papel importantíssimo na história
político-social europeia, da Itália (seu lugar de origem) e
França a Portugal e ao resto da Europa. Contudo, dados os
eventos históricos do momento, não eram raros os casos em que
havia membros filiados conjuntamente numa e noutra sociedade.
Quanto a Portugal, basta lembrar o maçon António Bernardo da
Costa Cabral (1803-1889) – Grão-Mestre da Maçonaria (1841),
Conde e Marquês de Tomar (1845 e 1878) – e a proclamação da
Carta no Porto (1842).
(2)
António José de Sousa Manuel e Meneses Severim de Noronha
(1792-1860), Marquês de Vila Flor e Duque da Terceira (1832),
por ter defendido a ilha açoriana contra os ataques miguelistas.
Entre 1834 e 1860, foi chefe do Governo e Ministro da Guerra.
(3)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em
Portugal. (1733-1912). 1912. trad. António Carlos de
Carvalho. 4ª ed. Lisboa: Vega, 1986. 23.
(4)
Em Fevereiro de 1717, as quatro Lojas de Londres fundiram-se
para formar a Grande Loja de Inglaterra.
(5) Manuel Borges Grainha.
História da Franco-Maçonaria em Portugal. (1733-1912). 1912.
trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed. Lisboa: Vega, 1986. 13.
(6)
Caderno 108 do “Promotor da Inquisição de Lisboa”. Lisboa, Arquivos
Nacionais da Torre do Tombo; Luz Soriano. História da Guerra
Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal,
comprehedendo a historia diplomatica, militar e politica d'este
reino desde 1777 até 1834. 15 vols. Lisboa: Imprensa Nacional,
1866-1893; Luz Soriano. “Procédures curieuses de l’Inquisition de
Lisbonne contre les Francs-Maçons”, in História da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal,
comprehedendo a historia diplomatica, militar e politica d'este
reino desde 1777 até 1834. 15 vols. Lisboa: Imprensa Nacional,
1866-1893; Miguel António Dias.
Annaes e Código dos
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Boitard, William Strahan e Eberard Digby Pepys. The
Sufferings of John Coustos, for Free-Masonry, and for his Refusing
to Turn Roman Catholic, in the Inquisition at Lisbon: where he Was
Sentenc'd, During four Years, to the Galley; and Afterwards Releas'd
from Thence by the Gracious Interposition of his Present Majesty
King George II. To Which is Annex'd, The Origin of the Inquisition.
Londres: W. Strahan, 1746.
(7) Entre eles, bispos, frades, padres e leigos.
(8)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 13-14.
(9)
Com a conquista de Faro e das restantes terras algarvias (1249) –
nomeadamente, Silves, Albufeira e Porches –, pode-se finalmente
considerar concluída a conquista cristã do território muçulmano ao
sul de Lisboa. Terminavam, assim, quinhentos e trinta e oito anos de
“dominação” muçulmana em solo português. Quanto à vizinha Espanha,
esta deveria esperar mais duzentos e quarenta e três anos antes de
final e oficialmente se livrar do “jugo” muçulmano (711-1492), sendo
isto possível só com a unificação de Aragão e Castela.
(10)
O Arcanjo Gabriel foi celebrado, pela primeira vez, na Frígia, a 29
de Setembro, mas o mundo católico festeja a sua aparição a 8 de
Maio. Segundo a tradição, a aparição de São Miguel deu-se por volta
do ano 492 da Era Vulgar, no Monte Gargano, no Sul da Itália. Quanto
a Portugal, veja-se a efígie de D. Afonso Henriques no Convento do
Carmo, Museu da Associação de Arqueólogos, Lisboa, cuja didascália
diz: “El Rei D. Afonso Henriques, que esta vila tomou aos Mouros em
dia de São Miguel, 8 de Maio de 1147”.
(11)
Bernardo de Brito. Crónica de Cister, 1630; Bernardo de
Brito, António Brandão e José Pereira Tavares. Historiografia
alcobacense; excertos da “Monarquia lusitana” e da “Crónica de
Cister”. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1940.
(12) Carlos Evaristo. A Real
Irmandade de São Miguel da Ala. História e Estatutos. [n.pl.]:
Fundação Histórico-Cultural Oureana, 2001.
16.
(13) Elias Ashmole. The Institution, Laws &
Ceremonies of the Most Noble Order of the Garter and a Brief
Account of all Other Military Orders of Knighthood in England,
Scotland, France, Spain, Germany, Italy, Swedeland, Denmark, &c. :
with the Ensigns of the Several Orders. Londres: Thomas Dring,
1672. 70.
(14)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala. História
e Estatutos. [n.pl.]: Fundação Histórico-Cultural Oureana, 2001.
21.
(15)
Ascanio Tamburinio de Marradio. De Jure Abbatum, et Aliorum
Praelatorium. 3 vols. Lugduni: Sumptibus Laurentii Anisson,
1650.
(16)
Bernardo Giustiniani.
Historie Cronologiche
dell’origine degl’Ordini Militari e di tutte le Religioni
Cavalleresche.
2 vols. Veneza: Combi &
LaNou, 1692. 1: 428-433.
(17)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala. História
e Estatutos. [n.pl.]: Fundação Histórico-Cultural Oureana, 2001.
21.
(18)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 145.
(19)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 146.
(20)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala. História
e Estatutos. [n.pl.]: Fundação Histórico-Cultural Oureana, 2001.
21.
(21)
Joaquim Martins de Carvalho. Apontamentos para a História
Contemporânea. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1868.
(22)
“Ala (Sociedade secreta de S. Miguel)”, in Portugal. Diccionário
Histórico, Chorographico, Heráldico, Biographico, Bibliographico,
Numismático e Artístico. Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues,
eds. 7 vols. Lisboa: João Romano Torres Editores, 1904. 1: 114.
(23)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 45.
(24) De uma carta de D. Miguel,
datada de 23 de Junho de 1859, resulta que os adeptos da Ordem
adoptavam pseudónimos comummente tomados dos nomes dos membros da
primeira Ordem de São Miguel da Ala (1147).
(25)
Carta de D. Miguel a Ega Moniz, Palácio de Heubach, 3 de Julho de
1855, in Joaquim Martins de Carvalho. Apontamentos para a
História Contemporânea. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1868.
(26)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 148.
(27)
Manuel Borges Grainha. História da Franco-Maçonaria em Portugal.
(1733-1912). 1912. trad. António Carlos de Carvalho. 4ª ed.
Lisboa: Vega, 1986. 150.
(28)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala.
História e Estatutos. [n.pl.]: Fundação
Histórico-Cultural Oureana, 2001. 22.
(29)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala.
História e Estatutos. [n.pl.]: Fundação
Histórico-Cultural Oureana, 2001. 25.
(30)
Desde 1983, a Ordem de São Miguel da Ala aparece listada no
suplemento de Peter Bander van Duren e Hyginus Eugene
Cardinale. The Cross
on the Sword supplement
to 'Orders of Knighthood, awards and the Holy See'.
3ª ed. [n.pl.]:
Van Duren, 1983,
assim como na obra de Hyginus Eugene Cardinale.
Orders of
Knighthood, Awards, and the Holy See.
Gerrards Cross: Van Duren, 1983.
(31)
Carlos Evaristo. A Real Irmandade de São Miguel da Ala.
História e Estatutos. [n.pl.]: Fundação
Histórico-Cultural Oureana, 2001. 26. |
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Joseph Abraham Levi (Americano)
Membro da equipa de investigação e redacção
do Dicionário Histórico das Ordens e Instituições Afins em Portugal.
Membro do Centro de Literaturas de Expressão Portuguesa das
Universidades de Lisboa.
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© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
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