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Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
(...)
In: Jorge de Sena,"Peregrinatio ad loca infecta", 1969 |
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Jorge Cândido de Sena
(Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara,
Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta,
ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português,
também naturalizado brasileiro. Foi, possivelmente, um dos maiores
intelectuais portugueses do século XX. Tem uma vasta obra de ficção,
drama, ensaio e poesia, além de vasta epistolografia com figuras
tutelares da história e da literatura portuguesas. O seu espólio conta
com uma enorme quantidade de inéditos em permanente fase de preparação e
publicação, aos cuidados da viúva, Mécia de Sena. A sua obra de ficção
mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao
cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. |