REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 04

 



 

 

cumpre.me ,em primeiro lugar ,reiterar os meus agradecimentos à Reitoria da Universidade do Porto ,na pessoa do Senhor Pró Reitor e ,mui particularmente ,ao poeta e meu querido amigo ,Vicente Ferreira da Silva ,o convite formulado para integrar este ciclo de Conferências ,intitulado

 

Diálogos com a Ciência

 

antes ,porém ,permitam que me apresente através destas minhas palavras vagamundas

DIRECÇÃO

 
Maria Estela Guedes  
REVISTA TRIPLOV  
Índice de Autores  
Série anterior  
Nova Série | Página Principal  
SÍTIOS ALIADOS  
O Bule  
TriploII - Blog do TriploV  
Domador de Sonhos  
Arditura  
Jornal de Poesia  
Agulha Hispânica  
TriploV  
O Contrário do Tempo  
   

 

Gabriela Rocha Martins

 

Poesia e Ciência

(2ª Intervenção)

                                                       

 
 
 
 
 
 
 

- deliberada

mente

olho o vagabundo do outro lado da rua e

tenho pena

não dele

mas de mim

sentado no chão tem o absoluto do nada e

eu?

reservo.me na serventia de tudo

 

olho a cigana do outro lado do passeio

invejo as palavras com que tece

nas mãos

ilusões e

eu?

presa ao presente em que o nada se compraz

no absurdo das intenções

 

a cabeça reserva.me a dúvida

o cansaço das estórias recriadas e

repisadas

ninguém tem o direito de ser

míseros ímpios feitos em deuses

 

senhora

o vinho corre!

deixá.lo correr

alguém pergunta

porquê?

 

o bêbado bebe

na solidão de si

se for o caso

ou talvez não e

porque não?

 

o vagabundo olha.me

estendo a mão a que a cigana revestiu de cacos

deixo.lhe um sorriso

preso à imensidão de um olhar

profundo

que não ouso

 

não sei colar os cacos que a cigana

forjou

 

o não é a palavra proscrita

no sim de uma vida

sem desígnio

perseguem.me os fantasmas da escrita

a maledicência transfere o golpe mortal

choro o animal ferido

rio.me do pontapé dado a um irmão

de raça

alimento.me de ossos

de peles que devoro

como a predadora imersa

em ladaínhas de bem querer

 

não ouso ninguém

 

prefiro o salto do vagabundo que

me estende a mão para segui.lo

ao encontro oculto da cigana

sou

sapato

gato

rato

a ínfima parcela de um choro

que não choro

de uma gargalhada

que não dou

 

coloco a cabeça entre mãos

aperto.a

não me detenho em nada

não ouço nada

 

prefiro a algazarra do demónio

onde encontro o absurdo do não ser

em perfeição

 

não dói

 

matei a alegria

matei a cigana

matei o vagabundo e

não percebi que ao fazê.lo

me matava a mim

reduzida ao nada

in feliz

no espaço que circunda

o estar no meio do conflito

 

deixem.me entregue às minhas loucas

fantasias onde bebo

( e porque não? )

os néctares que me aprouver

deixem.me

ser

a verdade

falsa do trio que desenhei

o vagabundo

a cigana e eu

três marginais no destino

 

estou tão cansada de ser bem comportada

 

valorizo hoje

amanhã destruo

a sobreposição de comportamentos e

de atitudes

como manda a santa madre igreja

os anjos

os arcanjos

os santos

os demónios

el.rei e

senhor

 

sou muito bem comportada

 

respeito a cor

o grito

o silêncio

o absurdo

a redundância

tudo começa a fazer sentido

 

ausento.me em cansaço

 

olho o outro lado da rua

não vejo o vagabundo

terei sonhado?

a cigana sumiu

terei efabulado?

não me revejo

estarei acordada?

 

é necessário que alguém vigie

os extra.terrestres acabam de ocupar

o centro da avenida

têm olhos redondos

nariz redondo

orelhas redondas

barriga redonda

a boca

é afiada

ah! têm duas línguas

bífidas

como as serpentes que procuram a estrada

cabeças erguidas na morte

as cadeiras

aprumadas

continuam à espera que o espectáculo comece

os actores não comparecem

 

[ alguém inverteu os papéis ]

 

apagam.se os projectores

 

deliberada

               mente

 

antes de retomar a minha intervenção ,tendo como ponto de partida a origem grega da palavra POIESIS – como substantivo ,género feminino - traduzindo acção de fazer e concebida em quatro tempos distintos ,a saber 

1 .criação ( como oposição à praxis ),

2 .acção de compor poesia ( reportando.nos à inteligência )

3 .arte da poesia

4 .obra poética

 

diferenciando.a de POIEMA - substantivo, género neutro -  “o que se faz” –

isto é

1 .obra,

2 .“produção” de poesia ,de poema ,de versos isolados

3 .ficção
4 .acção de fazer a obra.


se atendermos à evolução da palavra até aos dias de hoje ,verificamos que as diversas acepções de POEMA nem sempre são muito precisas, e, em muitos casos, confundem-se com o conceito de POESIA, muito embora e ,de um modo geral ,POEMA seja entendido como uma das expressões possíveis da POESIA. 

consideremos algumas definições ,normalmente ,aceites:

1. obra literária em verso;

2. obra literária em prosa ,mas de estilo poético;

3. arte de escrever em versos;

4. maneira de versejar própria de um autor ou de um determinado estilo;

5. o que desperta o sentimento estético do “belo”;

7. actividade linguística que procura criar com a linguagem um estado psíquico de emoções estéticas

neste último caso ,a língua transcende a função de meio de comunicação ,para tornar.se ,ela mesma ,objecto de comunicação ,servindo de matéria-prima para a obra de arte literária

assim ,a aplicação artística de uma língua torna.se espontânea ,e ,encontra.se em todos os tipos de sociedades ,mesmo as mais rudimentares ,quer na sua vida material ,quer espiritual.

como expressão linguística ,o poema tende a organizar.se em frases ritmadas ,com base na entonação ,no número de sílabas ,na distribuição mais ou menos regular ,ou até mesmo irregular ,das sílabas acentuadas ,tornando.se ,destarte ,numa série de versos.

para o poeta e diplomata mexicano Octavio Paz

- “o poema” é uma palavra semanticamente instável, que se vincula, pela etimologia e por natureza, à poesia ,e ,o poema é uma composição literária de índole poética ,isto é ,“um organismo verbal que contém, suscita ou segrega poesia” ( sic ).

a conexão ortodoxa entre poema e poesia implica ,ainda para o referido poeta ,um juízo de valor, ainda que de primeiro grau ,porque todo o poema encerra poesia, e vice-versa ,e ,assim ,sistematicamente, a poesia identifica.se com o poema.

a correlação, no entanto ,observa.se ,apenas ,como tendência histórica ,já que “existem poemas sem poesia”,e a poesia pode surgir ( e porque não? ) no âmbito da estrutura formal de um romance ou de um conto, de modo que muitos autores consideram que um poema pode ser estruturado não apenas em versos, mas também em prosa.

o mesmo Octavio Paz ,numa forma assaz poética ,acresce: “[...] o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, colectiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tenha nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!

então ,que conexão existe entre poesia e poema?

será que se confundem?

Aristóteles dizia que “nada há de comum, excepto a métrica, entre Homero e Empédocles e por isso ,chama.se poeta ao primeiro e filósofo ao segundo

e ,de facto ,assim é

nem todo o poema contém poesia ,do mesmo modo que há poesia sem poemas .mas é no poema que a poesia se recolhe e/ou se revela ,plena

é lícito ,então ,perguntar ao poema pelo ser da poesia ,porque o poema não é apenas uma forma literária ,mas o lugar de encontro entre a poesia e o ser humano

por excelência ,o poema é um organismo verbal que contém, suscita e emite poesia

 

logo ,forma e substância são a mesma coisa


algumas teorias da literatura ,mais redutoras ,pretendem reduzir a géneros a vertiginosa pluralidade de um poema .no entanto ,esta pretensão ,em nosso entender ,padece de uma dupla insuficiência:

1º - porque reduz a poesia a umas tantas formas  - épicas ,líricas ,dramáticas

[ então ,e ,como muito bem pergunta Octavio Paz – que continuará a acompanhar.nos esta noite - o que faremos com os romances ,os poemas em prosa ou ,por exemplo ,Os Cantos de Maldoror (de Lautréamont) ou Nadja (de Andre Breton)? ]

2º - todas as actividades verbais ,para não abandonar o âmbito da linguagem ,são susceptíveis de mudar de signo e transformar.se em poemas ,pelo que as classificações mais tradicionais e mais fechadas podem tornar.se demasiado redutoras
 

cada poema é um ser único, especial e irrepetível

a única característica que os poemas têm em comum consiste em serem obras humanas, como o quadro de um artista plástico ou a cadeira  de um marceneiro.

são ,no entanto ,obras diferentes ,porque entre os poemas não há  uma relação de causa e efeito ,como se verifica com os instrumentos de trabalho

 

eis.nos chegadas ao cerne da nossa presente intervenção .ao seu título .ao repto que nos foi lançado

                                        Diálogos com a Ciência –

                   haverá entre a Poesia e a Ciência diálogos possíveis?

 

como realidades distintas ,todavia ,comunicáveis ,claro que sim .ambas pressupõem o outro .quem lê

todavia ,técnica e criação ,utensílio e poema são realidades distintas

cada poema é um objecto único ,criado por uma “técnica” que morre no instante da criação 

além disso ,aquilo que se pode chamar “técnica poética” não é transmissível ,porque não é feita de receitas ou de fórmulas ,mas sim de invenções e subtis jogos com a linguagem que servem ,essencialmente ou tão só ,o poeta

na construção formal de um poema ,exploram-se as possibilidades da linguagem em geral e de uma língua ,em particular

1 .no som

2 .nas palavras

3 .na associação de ideias

4 .na construção de  versos -  utilizando-se o ritmo ,a harmonia ,a rima ,a assonância ,a aliteração ,as figuras de estilo ou as figuras de sintaxe

para Jean Cohen ,por exemplo ,um poema deve ser breve ,limitado e obediente a certos requisitos formais ,visto traduzir.se  numa “técnica linguística de produção de um tipo de consciência que o espectáculo do mundo não produz ordinariamente”.

por outro lado ,Antonio Quilis, define o poema “como um contexto linguístico no qual a linguagem, tomada no seu conjunto de significante e significado ,alcança uma nova dimensão formal ,que ,segundo a vontade do poeta ,realiza-se potenciando os valores da linguagem através do ritmo”.
o poema é feito de palavras ,seres equívocos que connosco brincam e que, sendo cor e som ,também são significado, do mesmo modo que um quadro também será um “poema” , se for algo mais que uma mera linguagem pictórica
para além de ser palavra ,o poema constitui.se  na História ,sem deixar de transcender a própria História ,na medida em que todo o poema se manifesta num determinado tempo ,numa certa realidade ,num preciso contexto social

para alguns ,o poema é a experiência do abandono .para outros ,do rigor e da alteridade ,porque cada um procura algo no poema ,algo que ,no entanto e sem o saber ,traz dentro de si

o poema é de facto ,uma possibilidade aberta a todos ,independentemente do eu ,mas que só toma corpo ,quando encontra um leitor ou um ouvinte .há ,assim ,uma característica comum a todos os poemas ,sem a qual nunca haverá POESIA – a comunicação
o poema é ,ainda ,mediação ,porque graças a ele ,o tempo original - “pai dos tempos” – intervêm no momento em que se alimenta a si próprio e transmuta o homem ,e ,assim ,a leitura de um poema mostra uma enorme similitude com a criação poética ,como nos afirma a poeta brasileira ,Sílvia Regina Pinto ,“O poeta cria imagens ,poemas .o poema faz do leitor imagem, poesia, pois é via de acesso ao tempo puro, imersão nas águas originais da existência. A poesia não é nada senão tempo, impulso rítmico perpetuamente criador”

vejamos como exemplo ,as duas primeiras estrofe do ‘metapoema’ Motivo ,de Cecília Meireles:

 

“Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidia,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
No vento.”

há ,no entanto que levar em linha de conta que o tempo do poema não tem nada a ver com o tempo cronológico

comumente ,diz.se -  “o que passou, passou”

para o poeta ,porém ,o que passou volta a materializar.se

senão vejamos -

“o poeta - disse o centauro Quíron a Fausto - não está amarrado pelo tempo”.

e este responde: “Aquiles encontrou Helena fora do tempo”.

“Fora do tempo? Melhor ,no tempo original”.

destarte o poema ,inicialmente ,um arquétipo ,converte.se quando alguém repete os seus versos ,cuja função é recriar o tempo

vejamos um pequeno exemplo poético dessa questão temporal, destacado do Cancioneiro de Fernando Pessoa:

“Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
nessa minha infância
que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva
quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
fui-o outrora agora.”

deste modo ,o poema é uma totalidade encerrada dentro de si mesma ,cuja unidade não é o sentido ou a direcção significativa ,mas sim o ritmo ,havido não apenas  como medida, mas, fundamentalmente ,como visão do mundo ,e ,assim ,Moral ,Política ,Técnica ,Filosofia ,enfim ,tudo o que chamamos Ciência tem as suas raízes no ritmo...

recorremos ,mais uma vez ,ao Cancioneiro de Fernando Pessoa:

“No piano anónimo da praia
tocam nenhuma melodia

De cujo ritmo por fim saia
todo o sentido deste dia.”

à laia de conclusão e partindo de tais pressupostos ,não há a mais pequena sombra de dúvida que a Ciência e a Poesia ,se bem que  pertencentes à mesma busca imaginativa do Homem ,se encontram ligadas a domínios diferentes de conhecimento e de valor.

o poema cresce da intuição criativa ,da experiência humana singular e do conhecimento do poeta.

a ciência ,por seu lado ,gira em torno do fazer concreto ,da construção de imagens comuns ,da experiência compartilhada e da edificação do conhecimento colectivo sobre o mundo circundante .tem como vínculo ,ao contrário do poema ,representar o comportamento material .mais do que a leitura poética ,tem a capacidade de permitir a previsão e a transformação directa do entorno material

mas - em tudo há sempre um MAS - as aproximações entre a Ciência e a Poesia ,se vistas dentro do mesmo sentimento do mundo ,revelam.se riquíssimas ,porque a criatividade e a imaginação têm em comum o “húmus” com que se nutrem

além disso ,as incertezas de uma realidade complexa que podem transformar.se em versos ,também podem ser representadas por formas matemáticas

nos tempos actuais ,em que a Ciência e a Tecnologia impregnam a nossa Cultura e o nosso quotidiano ,o poema pode parecer um anacronismo ,do mesmo modo que as muitas pequenas verdades científicas constituem uma abordagem incompleta e limitada do mundo
há ,todavia ,um aspecto ,no que concerne ainda ao poema que gostaria de destacar ,antes de terminar a minha intervenção

respeita à métrica e ao ritmo

não são a mesma coisa .o ritmo é inseparável da frase - não é composto só de palavras soltas ,acentos e pausas ,de imagem e sentido - e apresenta.se como uma unidade indivisível e compacta que constitui o verso

a métrica ,pelo contrário ,é uma medida abstracta e independente da imagem 

esta distinção é assaz pertinente ,porque inibe chamar poemas a um grande número de obras que, por pura inércia ,ainda constam ,como tais ,nos Manuais de Literatura ,ao contrário de outras ,como “Alice no País das Maravilhas” ,de Lewis Carroll ,ou “El Jardín de los Senderos que se bifurcam” ,de Jorge Luis Borges ,para só referir estas duas ,que deveriam ser classificadas como poemas ,porque nelas a prosa nega.se a si mesma e as frases não se sucedem obedecendo a uma ordem conceptual ou narrativa ,mas são ,tão só ,presididas pelas leis da imagem e do ritmo

e agora sim ,a terminar ,eis a minha provocação ,lançada a todos ,público e mesa - ou não me chamasse gabriela rocha martins - inserida no dicionário de Joseph Shipley:
 

-qualquer composição em verso -  e nenhuma que não o seja -  é sempre definida ,seja ela boa ou má ,poema ,por todos os que não possuem outra forma de a classificar.

 

muito obrigada. 

 

 

bibliografia consultada:

 

BOSI ,Alfredo .O ser e o tempo da poesia :1983;

COHEN ,Jean .Structure du langage poétique :1966;

MEIRELES ,Cecília .Obra Poética ,1958; 

PAZ ,Octávio .O Arco e a Lira ,1982;

PAZ ,Octávio .Signos em Rotação , 2ª ed. ,1976;

PESSOA ,Fernando .Obra Poética ,1983;

QUILIS ,António .Métrica Espanhola, Barcelona :2ª ed. corrigida y aumentada, 1985;

SHIPLEY ,Joseph .Dictionary of World Literature ,New Jersey: Littleford ,Adams & Co.

 

 

Porto ,11 de Fevereiro de 2010

-gabriela rocha martins.

 

 

Gabriela Rocha Martins (Portugal)
Formação na área do Direito (Universidade Clássica de Lisboa) e em Ciências da Educação (na área de Bibliotecas e Centros de Documentação) tem várias publicações – Ensaio – obra vária; comunicações em congressos ,conferências, encontros e palestras ,nacionais e internacionais -  Artigos em Revistas -  Crónicas em Jornais – Poesia – premiada em concursos nacionais .Tem obra editada – .delite.me.,colabora em Revistas e encontra-se representada em várias Antologias a destacar – I Antologia dos Poetas Lusófonos; Os Dias do Amor; Entre o Sono e o Sonho ,e ,no poema “O Estado do Mundo”, criado no ciberespaço.
Blogues

https://sites.google.com/site/vozsul/ - ao sul | gabriela r martins
https://sites.google.com/site/ahnametra/ - Novas Ítacas
http://cantochao.blogspot.com - .cante.chão.
http://casamuseujoaodedeus.blogspot.com
– Casa Museu João de Deus

 

 

© Maria Estela Guedes
estela@triplov.com
Rua Direita, 131
5100-344 Britiande
PORTUGAL