REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências


Nova Série | 2010 | Número 05

 

 

O antropólogo Aurélio Lopes (que se estreou em 1995 em livro com «Religião Popular do Ribatejo») apresentou na FNAC do Chiado no passado dia 13 de Maio o seu mais recente livro «Videntes e Confidentes» – uma publicação da Editora COSMOS. Embora subintitulada «Um estudo sobre as aparições de Fátima» a obra engloba outros três aspectos: «Mulheres e Deusas», «Aparições» e «A construção do Sagrado».

Um dos temas mais curiosos tem a ver com a multiplicação quase milagrosa de testemunhos muitos deles até contraditórios, como refere o escritor fatimita Sebastião Martins dos Reis ou seja, «ao sabor do critério estreito de uma interpretação pessoalíssima».

Na verdade Lúcia, nas entrevistas e inquéritos a que é submetida em 1917 e nos diálogos breves e simples que ao tempo estabelece, responde quando lhe solicitam um maior rigor nas declarações: «não me recordo já bem», «podia ter sido isso, não sei», «cuido que sim», «cuido que foi em», «talvez não entendesse bem», «parece-me que não» ou simplesmente não responde.

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JOSÉ DO CARMO FRANCISCO

Aurélio Lopes -  «Videntes e confidentes»

(Um estudo sobre as aparições de Fátima)

     José do Carmo Francisco

 
 
 
 
 
 
 

Várias décadas depois rememora diálogos complexos, compridos e eruditos com a maior das facilidades. A título de exemplo veja-se o extracto de um pretenso diálogo entre Lúcia e Jacinta em 1917: «Ó Lúcia, aquela Senhora disse que o seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do seu coração! – É o Coração Imaculado de Maria, ultrajado pelos pecados da Humanidade e que deseja reparação».

Esta será uma conversa entre duas crianças de sete e dez anos, rurais, incultas e analfabetas em início do século XX – observa Aurélio Lopes na página 342 do livro.

Outro aspecto que muito nos interessa neste livro é que o autor não se limita a «reler» Fátima mas junta às suas reflexões outros acontecimentos da mesma natureza verificados nos tempos modernos. São eles (entre outras) as aparições em Vilar Chão - Alfândega da Fé, na Ladeira do Pinheiro - Torres Novas e os recentes acontecimentos no Escorial, perto de Madrid. Explica o autor: «Não por acaso nenhum dos três foi reconhecido pela Igreja Católica: Vilar Chão foi desacreditada, a Ladeira do Pinheiro (objecto de intenções análogas) adoptada depois por uma Igreja Ortodoxa e o Escorial encontra-se numa situação ambígua, desencadeando a oposição cerrada de diverso grupos católicos mas merecendo do Cardeal de Madrid (eventualmente interessado na emergência de uma grande santuário espanhol) um apoio disfarçado, perante o olhar contemplativo do Vaticano».

Para Frei Bento Domingues, O.P., autor do prefácio, «este livro estuda com isenção um fenómeno mais complexo do que a ignorância e a crendice podem supor».

Em apêndice o autor juntou o inquérito do cónego Formigão a Lúcia em 27-9-1917 e uma cronologia de Fátima desde 1907 (nascimento de Lúcia) até 2007 (inauguração da igreja modernista da Santíssima Trindade no recinto do Santuário sem esquecer 1929, o ano da morte do Cardeal Patriarca de Lisboa Mendes Belo - que nunca foi a Fátima.

 

 

JOSÉ DO CARMO FRANCISCO (Portugal,1951).
Prêmio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Colaborou no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses do Instituto Português do Livro. Poeta. Possui uma antologia da sua poesia publicada no Brasil. Jornalista, colaborou entre outros em "A Bola", "Jornal do Sporting", "Remate", "Atlantico Expresso"... Autor de "Universário", "Jogos Olímpicos", "Iniciais", "Os guarda-redes morrem ao domingo", etc., bem como de antologias como "O trabalho", "O desporto na poesia portuguesa e "As palavras em jogo", entre outras. É secretário da Associação Portuguesa de Críticos Literários.
Vive em Lisboa.
Contacto: jcfrancisco@mail.pt

 

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