DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS
Numa sociedade democrática, ainda que ela seja frequentemente mais formal
que real, assiste a qualquer cidadão o direito de manifestar as suas
opiniões sobre os diferentes acontecimentos de diversa índole que
constituem o quotidiano quer dos indivíduos em si, quer destes na sua
relação com a polis. Com vossa
permissão, que desde já agradeço, vou usar desse direito, que aliás me
perece constituir a pedra de toque de uma comunidade verdadeiramente
civilizada.
Esclareço, em primeiro lugar, que a minha participação neste evento se
deve antes de mais á consideração pessoal que me merece a individualidade
por quem fui convidado. Depois, faço questão de esclarecer que a palavra
Paz – como diria André Breton –
é uma das que ainda me comunica funda comoção. Como
Liberdade, por exemplo. Como
cultura e
humanização, também.
Não vos escondo que, provavelmente como cada um de vós, tenho da Paz uma
ideia que não é condicionável e, por isso, é ela para mim algo a encarar
sempre de maneira alargada que, na verdade, me parece a única a justificar
a nossa acção de cidadãos, de homens e de artistas.
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Numa
cidade como Portalegre, onde campeia por infelicidade de todos um certo
vazio que tem causas facilmente descriptáveis – quais sejam o incremento
da incultura coberta por jaculatórias totalitárias, do preconceito
intelectual e mental a que um fideísmo retrógrado dá cobertura, do
isolamento provinciano a que o anterior regime nos forçou, do desinteresse
novo-rico pelos valores mais lídimos do espírito, do compadrio e da
astúcia – levar-se a efeito uma iniciativa deste género, posto que com
compreensíveis limitações que a reduzem, não pode ser um acontecimento de
cunho apenas formal. Gostaria, pelo menos, e faço a justiça de considerar
que os demais participantes tém o mesmo fito, de que se entendesse
a minha participação nesta Mostra
como um fundo sinal de adesão aos valores que norteiam a Paz encarada em
sentido lato – não só a paz desejável entre os povos mas também a paz, que
pode levar á denominada Grande Paz
dos Rosacruz, que é estimulada nos actos diários através da nossa
sensibilidade para com o que nos rodeia, mesmo que tenham de se executar
críticas fundamentadas ao que não está bem, ao que permanece mal.
Se a crítica é uma das razões da nossa permanência, como dizia António
Maria Lisboa, há ainda e paralelamente a nossa existência pela positiva –
estimulando a capacidade, que em todo o ser humano reside, para aderir á
arte, á beleza das coisas e da Natureza, ao fulcro de maior humanidade. E
de tal dar testemunho convicto – como artistas, como homens ou como
cidadãos do quotidiano, que é diverso e rico de manifestações solares.
Se assim não se fizer, continuaremos a ter no dia-a-dia um simples
sucedâneo, mais semelhante á inércia e ao imobilismo entorpecente
possivelmente criminal, que a uma verdadeira PAZ.
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |