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Revista TriploV
de
Artes, Religiões e Ciências |
Nova Série |
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NICOLAU SAIÃO
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Vemos, ouvimos e lemos -
Não podemos ignorar!” |
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Nos princípios da década de 80 participei num
Encontro, numa das cidades transtaganas, sobre aspectos do Alentejo
apresentando uma Comunicação intitulada “A
Cultura do Pobre – um perfil do Alentejo”.
(Como o TriploV é um espaço de cultura – e de liberdade! – conto em breve
dá-lo a lume (pois creio que tem algum interesse) nesta Página que estimo
e onde sempre me tenho sentido bem já pela sua estrutura
já pela ética que o caracteriza e a que a sua direcção dá corpo).
A leitura do texto em causa foi seguida de um profundo silêncio.
Nalgumas faces, tanto dos organizadores como de certos assistentes, lia-se
uma indisfarçável incomodidade.
Um dos participantes, provavelmente mais afoito, ou mais veloz na
desinibição, atreveu-se digamos a umas leves palmas…
Algumas outras se seguiram. Desencontradas, se assim o digo agora – pois
na altura não lhe pus nome especial…
O facto acontecido entrou-me na bruma da memória, como se percebe.
Ademais, não tivera vulto de maior – pois a consequência fôra apenas que,
da parte de alguns assistentes, eu senti que dessa altura em diante
recebia menos atenções. Mas senti isso de forma longínqua – creio que me
faço entender.
Só anteontem se me fez luz no espírito, assim como num pequeno
flash.
E senti isso ao ler o bloco que aqui vos deixo.
Um bloco iluminante e significativo, se me permitem o comentário.
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“Os inimigos da liberdade (dos outros)”
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(…) A
liberdade volta a estar ameaçada, agora que um novo governo jacobino está
no poleiro. A história dos governos socialistas tem sido sempre marcada
por ataques à liberdade de expressão e opinião, com os inúmeros casos de
perseguição a jornalistas cometidos pelo governo Sócrates em destaque.
O António Costa quer policiar a
Internet, como na China. Quer proibir o anonimato. Já proibiram piadas com
o Primeiro-Ministro (lembram-se do caso Charrua?). A Esquerda que prega as
"amplas liberdades" é intolerante à Liberdade.
Prof. Oliveira de Figueira
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Um excelente e esclarecedor artigo este, de Alexandre
Homem Cristo, no Observador:
“Agosto de 2014. Publico, no Observador, um
artigo de opinião sobre
a (falta de) exigência no acesso à carreira de professor e o seu efeito na
degradação da qualidade do ensino público. Nesse dia, um vulcão de ódio
explode nas minhas contas de e-mail e facebook. Na caixa de comentários do
jornal, dezenas ocupam-se a escrutinar (e a inventar) a minha biografia –
quem são os meus pais, onde cresci, onde estudei, onde trabalhei, com quem
fui visto. A difamação (pessoal e profissional) estende-se aos blogs e às
redes sociais. Recebo ameaças de agressão, vindas de quem afirma saber
onde moro. Sou insultado e alvo de todo o tipo de calúnias. E, nos meus
locais de trabalho, e-mails, cartas e abaixo-assinados exigem o meu
despedimento. A discordância não bastou, quem não gostou do que leu tentou
lixar-me a vida.
Bem sei que este episódio pessoal nada tem de excepcional. Quem escreve
nos jornais colecciona episódios similares com professores, enfermeiros,
ambientalistas, defensores dos animais. Ou alentejanos, como aconteceu
nestes dias com o (meu amigo) Henrique Raposo, a propósito do seu livro
“Alentejo Prometido” (FFMS, 2016). De facto, situações do género, com
diferentes graus de gravidade, sucedem vezes demais para que ainda haja
quem se faça desentendido quanto ao essencial – estar-se do lado da
liberdade de pensar, dizer e escrever, mesmo quando se discorda do que os
outros pensam, dizem e escrevem. E, no entanto, desentendidos há.
O ódio existe e existirá sempre. Daí que a questão não esteja tanto no
asco incorrigível e efémero que habita as redes sociais, mas em quem o
legitima e se alimenta dele. É simplista apontar o dedo às redes sociais,
dizer cobras e lagartos do facebook e jurar desprezo eterno à internet.
Mas não é eficaz. O culpado das proporções que o ódio cibernético atinge
não se chama Mark Zuckerberg nem facebook. E, por maior impacto que tenha
a sua boçalidade, os principais inimigos da liberdade não são os idiotas
anónimos que berram, queimam escritos ou insultam quem os escreveu. São,
afinal, os que se calam, os que receiam enfrentar a multidão, os que
justificam as agressões com um “ele pôs-se a jeito”, os que toleram o
intolerável e encontram um ângulo para encaixar a violência desde que os
violentados pensem de maneira diferente da sua.
Infelizmente, muita gente que deambula no espaço público demonstrou viver
num tempo que é mais velho do que novo. Não é de agora e a perseguição ao
Henrique Raposo só serviu para nos avivar a memória. Que vários
alentejanos não tenham reconhecido as suas raízes no livro do Henrique é
respeitável, embora se lamente que o tenham expressado por via da
intimidação. Mas que outros (e foram tantos) tenham validado essa
intimidação ultrapassa os limites da intolerância. Por exemplo, a
Galeria Tintos e Tintas,
onde em Lisboa deveria decorrer o lançamento do livro, não quis estar
envolvida na polémica, encolheu-se e cancelou. Por exemplo, Nicolau
Breyner,
em declarações ao DN, gracejou sem graça: “fazem bem os alentejanos em
ameaçá-lo. Estou a brincar, ninguém deve ser ameaçado, mas devia pensar
bem no que escreve”. Por exemplo, Francisco
Louçã reduziu
o assunto a um não-assunto e, sem uma palavra acerca das ameaças ao
Henrique e à família, sentenciou que “fazer desta coisa que foi cometida
por Raposo um caso nacional é que só mesmo por desfastio”. Os cobardes, os
que acham que se deve “pensar bem” antes de escrever, e os que
desdramatizam a violência contra os seus adversários políticos. Eis
aqueles que dão força à intimidação das redes sociais. São eles os maiores
inimigos da liberdade de expressão.
Habituámo-nos a que o exercício da liberdade seja um acto trabalhoso, de
bravura e de resistência
contra a javardice.
Mas habituámo-nos mal. A liberdade tem um preço, já se sabe, mesmo que não
devesse ser assim. Mas o que poucas vezes se assinala é que esse preço só
se cobra a alguns, já que as liberdades que se reconhecem a uns não se
toleram a outros. O Henrique Raposo não foi o primeiro a escrever sobre a
relação amoral da região com o suicídio ou sobre a opressão das mulheres
no Alentejo dos seus avós (e, de resto, ainda hoje). Mas ao Henrique não
se perdoa que o tenha feito. Afinal, tudo o que separa a tolerância da
intolerância é um nome – o do autor. Pode ser que, da próxima vez que se
marchar pelos direitos conquistados no passado de Abril, haja alguém que
lembre a batalha concreta do presente: a liberdade no Portugal de 2016,
porque depende de quem a exerce, ainda não é um valor absoluto.”
ns
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |
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