Nova Série

 
 

 

 

 

 

 

Derek Soames

Dereck Soames (1968). Geógrafo e poeta, nasceu em Ashbury. Autor de “Paths of wrath and life”. Vive em Belle Island, South Africa. Em Portugal foi publicado pela DiVersos.

DEREK SOAMES
Conselhos a um jovem poeta

Traduzido por Nicolau Saião

No Outono, como és um bom rapaz

e a estação incita às boas maneiras

antes do entardecer, à hora do jantar

ouves tal qual na Rádio os amados Mestres

dizendo com meiguice  com majestosa serenidade:

 

Fala do que sabes, do que vês

Olha além o Oceano  Principe das fábulas

Uma resma de angústias de espantos de alegrias.

Faz isto assim e assim e depois deita-lhe molho.

Fala com voz franzida como os companheiros de bulício.

Prepara-te para resistir aos séculos.

 

Mas eu digo-te moço: atenção aos sinais

Põe-te um bocadinho na retranca

Cria fôlego, desatrela os joelhos

Prepara-te para correr.

 

Como és um bom e amável companheiro

de mão aberta no ar

como pequena planta ou flor primaveril

em dias de alegre sol os teus ouvidos amplificam-se

e começam a chegar-te maviosas vozes do éter:

A nossa voz é bela como o recado duma amante

Estamos deste lado  onde florescem as roseiras

Maridião Setentrião  Temos os segredos das auroras

Etc. e tal

 

Mas eu digo-te e desculpa lá o mau jeito

- raspa-te, pula, sê mesmo uma lebre dos matos

dá às de vila diogo e não olhes para trás.

 

A rapariga formosa com um espelhinho na dextra

e um pente de marfim na sinistra

não lhe achas mesmo um ar esquisito?

Bom, é lá contigo

 

Mas eu digo-te e desculpa lá se te estorvo:

- dá o fora, desarranca-te, põe-te n’alheta

Em suma, desaparece a sete pés

Sê mesmo como corça dos velhos bosques

Pula corre todo o cuidado é pouco.

 

És um belo parceiro, atento arguto

quiçá um poucochinho um poucochinho palonço

- uma coisa como sabes às vezes inclui a outra –

calmo lendo devotamente os anjos e os arcanjos

da santa época literária

 

Mas eu digo-te e perdoa lá se te atravanco:

- salta já, arrebimba, dá sebo nas canelas

safa-te antes que seja tarde.

 

Não tens notado umas figuras evanescentes

nas ruas que, julgas tu, tão bem conheces?

Não notas que a dama do lado ou o senhor vagaroso

parecem ter na face umas sombras mais que suspeitas?

Quando transpões a porta quando olhas em redor

não sentes os minutos assim a modos que encolhidos?

 

Sim, és um bom sujeito. Repleto de conceitos

tão fiáveis e perfeitos como os de Séneca ou Pascal.

Mas não tens notado algures presenças algo difusas

c’um ar um pouco estranho como no cinema os monstros?

 

 

(Trad. ns)

 

 
 
 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.

Blog : Ablogando, em: http://ab-logando.blogspot.pt/