a
Jean Pierre Andrevon
Lembra-se, confrade leitor?
Tempos atrás – 20, 30,
quarenta anos atrás – os jornais e os comics bd costumavam dar a lume uns
concursos peculiares e muito populares: forneciam-se pequenas estorietas e
os leitores tinham apenas de escolher entre o certo e o errado. Era real
ou apenas cenário?
Ou então era posta uma série
de afirmações e tinha, apenas, de se escolher a exacta entre várias
possíveis respostas avulsas.
Quem acertasse ficava
habilitado a receber geralmente uns livritos ou uns bilhetes p'rá bola.
Era compensador, claro.
Hoje vou, com nostalgia,
propor-vos um remake, digamos assim, dum desses amenos concursos.
Mas como, mau grado a minha
vontade, não disponho de livros ou de bilhetes para oferecer, substituo-os
por algo menos ponderável mas muito mais conveniente – pelo menos para
mim.
Ofereço-vos algo de
espiritual! E que vem a ser – a célebre satisfação do dever cumprido.
E vamos ao Concurso. Mas dou
já de barato, como usa dizer-se no proverbial ante-propósito de romances e
filmes americanos, que qualquer semelhança com a realidade é pura e
evidente coincidência!
No final oferecem-se, com muito gosto, as soluções.
|
1. Em certa localidade um cidadão apresenta queixa
contra um magistrado, por alegadamente este ter tentado fazer chantagem
com ele (Gregório) e um sócio (André). Uma brigada de agentes da
autoridade investiga o assunto durante o tempo necessário, tendo ficado
provado que o suspeito tentou entretanto mandar prender sob alegações
aleivosas uma das testemunhas nucleares. Na sequência do posterior
julgamento, extremamente emotivo, o magistrado é absolvido e reconduzido.
É-lhe paga uma vultuosa indemnização. Cerca de um ano depois os dois
sócios têm o que merecem - vêem a sua empresa ser investigada e um deles é
preso. A mulher de um deles suicida-se e a filha foge de casa, acabando
viciada em último grau numa viela da capital.
2. Num dado local dois indivíduos de meia idade batem à
porta de uma vivenda. A dona
da casa (Helena) vem abrir e dizem-lhe ao fazerem-se entrados: “Foi a
senhora que nos mandou chamar para arranjarmos o sistema eléctrico?”.
Enquanto ela, interdita, procura afirmar-se na memória ocasional, um deles
cerra a porta, empurra-a e tapa-lhe brutalmente a boca. O colega, com um
trejeito e de revólver aperrado, entra numa das salas laterais. Nesse
momento a pessoa que ali estava (Amadeu) e se acobertara agilmente tenta
aplicar-lhe um vigoroso golpe de savate. Um tiro certeiro prostra-o
ferido de imediato. O outro desfecha através da porta dois
tiros que colhem a mulher, que lograra escapar-se à investida, numa perna
e num ombro. Com a respiração opressa, ela consegue mediante o telemóvel
chamar a polícia. Os assaltantes põem-se em fuga.
Juntam-se
alguns vizinhos. A polícia chega em
bom tempo, cerca de 1 hora depois. vNenhum dos agentes se intimida
ante os vizinhos que protestam pela demora e, pelo contrário, levam um
deles bem algemado por alegadamente ter insultado a autoridade.
Três meses
depois é julgado. Apanha 1 ano de prisão, que é para não ser
desrespeitador.
O caso
tem outros interessantes
desenvolvimentos.
3. Numa povoação do interior o comandante da Polícia
denuncia publicamente que subordinados seus andaram a roubar, através de
conluios com destacados comerciantes locais, o erário público.
Oito
deles são suspensos. O caso vai para as instâncias próprias.
O tempo
vai passando e nunca mais se sabe de nada. Silencio total. Então, um belo
dia, chega à cidade um forasteiro que se põe a fazer perguntas... Dias
depois desaparece. Deve ter ido para o estrangeiro, pois ninguém mais lhe
pôs a vista em cima. Os suspeitos são ou transferidos com garantias de
permanência ou continuam a exercer no seu posto/lugar de trabalho.
4. Num lugar xis um destacado médico é aleivosamente
acusado de ter tentado espancar um colega e roubar segredos da clínica de
alta qualidade onde oficiava. Entretanto a sua esposa falece e ele vê-se
forçado a fugir para escapar à polícia. Passa-se um considerável lapso de
tempo e, devido à acção dum jornalista local, descobre-se que tudo fôra
congeminado por um poderoso político daquela região, comprometido num
escândalo de tráfico de influencias envolvendo muito dinheiro.
Nenhum
órgão de comunicação tem necessidade de um eficaz e habitual cover-up,
dado que o protagonista é pessoa com bons apoios.
(Intervalo para raciocínio)
|
Como praticamente todos os leitores entenderam de
imediato (os que calharam de não acertar estavam obviamente distraídos)
todas estas estorinhas são tiradas da ficção – e não se passaram,
evidentemente, no nosso país!
O segredo – e a eventual piada, digamos, da coisa –
consiste nisto: limitei-me a reproduzir abreviadamente e com ligeiríssimas
variantes o argumento de 4 conhecidos filmes, a saber: “Horas sombrias”,
de Lance Gordon; “Colorado Springs”, de Bob Sinclair; “Armadilha mortal”,
de John Preston e, por último, a primeira versão de “O Fugitivo”, de
Malcolm Heskel e Bill Welmanns, que depois iria ter uma outra de grande
êxito protagonizada por Harrison Ford .
…/…
*
Título de um dos mais famosos livros de Jean Pierre Andrevon
ns
|
Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |