Caros/as amigas/os
O nosso
confrade José do Carmo Francisco, num texto dado a lume há alguns
anos, relembrou a frase "não
é o mesmo ser conhecido e ser importante...", ainda que em certos
contextos de certos países, geralmente de índole
partidocrática-cleptocrática, ser conhecido sobreleve, dada a
maravilhosa capacidade que neles existe, em sectores específicos da
casta dominante - e dominante pelas mais sórdidas razões - criar
talentarrões e génios por
via
administrativa...
(Quando
digo importante não digo
importantão,
como os importantões que com terrível frequência nos vêm seringar os
olhos, os ouvidos e a paciência, sujeitos que estamos à mentira
sistemática e à hipocrisia bem badalada nas tvs, veículo com que por
cá se condicionam os espíritos e os imaginários colectivos da nação).
Os 3 poemas
que aqui vos deixo, de José Carlos Breia - nos seus 84 anos bem
conservados e dinâmicos - são a meu ver uma prova do que ali acima se
diz.
Eles aqui
ficam para vossa leitura -
tal como o
bloquinho em anexo - leitores qualitativos que sois.
O abraço
firme de sempre do
ns
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DICIONÁRIO
Este é o livro
onde as palavras
cristalizam.
Do livro agora
aberto
- do
preciso rigor das suas linhas,
retiro algumas
dessas formas frias.
Rodeio, lento, a
sua geometria.
Paciente,
procuro, ponto-a-ponto
a cruz axial em
que se animam.
Os pequenos
cristais
revelam ângulos,
planos
que a sua dura
forma escurecia.
Secreto,
fecho depois o
livro em que o poema,
recomeçado
sempre,
ausente fica.
RETRATOS
Olho os retratos
que nesta velha sala me rodeiam.
Entre quadros e livros muito lidos
eles cercam-me
e pedem-me cuidados:
que lhes tire o pó dos vidros
e a mancha das molduras.
Brilham agora, limpos,
mas ainda inseguros.
Eles querem também que os reconheça:
querem, da minha vida,
a vida que me resta.
(Mesmo o meu gato preto,
por quem chorei talvez
mais do que por ninguém,
me lança a fina fresta dos seus olhos
pedindo-me que o deixe ronronar).
Mas são,
contudo, os vivos
- os
que ainda se arrastam lá por fora
que mais me
preocupam.
Eram belos e
plenos
seus corpos.
Pareciam
eternos.
Mas há muito
morreram
nos retratos
que nesta velha sala me rodeiam.
in “LUGAR NENHUM” (distrb. Assírio& Alvim)
DAS PEDRAS 1
A pedra na mão.
Na minha mão
Disse-o Décio, o romano,
que com ela matou.
Disse-o o nómada Ben Zir
quando ao meditar
a rolou.
Devraux, o arqueólogo,
disse que se tratava de…
Von Zeint, o geólogo,
contestou
Se enobreceu túmulos
ou palácios
não sabemos.
Mas,
talhada por mãos
hábeis,
foi arte,
é vida.
Passou por
muitas mãos
e de todas, um
pouco, ficou.
A pedra na mão.
Na minha mão.
Milhares de
histórias
entre os dedos.
in “DAS MÍNIMAS
COISAS" (a publicar)
JCB
PScriptum - Dedico este envio a um "velho" confrade amigo, hoje nos
seus 94 anos todavia lúcidos e íntegros. Artur do Cruzeiro Seixas,
principe da imaginação e da dignidade como JCBreia, sabe muito bem as
linhas com que a sua decência cidadã se continua a coser - para
incómodo e até desespero de alguns fulanos que gostariam de se
aproveitar da sua generosidade comparticipativa.
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |