Não nos deixemos equivocar: o caso Sócrates não é fundamentalmente
um caso de polícia ou de justiça, mas sim eminentemente e no mais alto e
triste grau um caso de política.
De política especiosa ou, mesmo, especial? Talvez… Mas claramente um caso
onde o que emerge é a panorâmica de uma prática política que pelos anos
fora - nos lugares expressos em que este sedutor aventureiro político pôde
estribar a sua maneira de estar e de fazer estar – foi criando um estilo
entre a arrogância, a agressividade e o descaramento demagógico
que não só colocaram o País à beira da bancarrota mas, ainda pior,
à beira da falência ética e moral.
Basta termos acompanhado, com algum pormenor, durante o par de anos
transactos, os espaços públicos onde a mentalidade do condottieri (pois
não é verdadeiramente, nem nunca foi, um líder, mas claramente um
condottieri, com toda a carga ideológica e pessoal que essa condição
arrastava) extravasava no exemplo dos seus partidários e áulicos, para se
entender tudo: a agressividade compulsiva, a arrogância pesporrente, a
ausência de ética nos escritos e nos ataques aos oponentes, em suma: a
sombra extremamente perceptível de um posicionamento a que poderemos dar a
classificação de cripto-fascista típica, jogando no revanchismo, na
postergação de uma atitude tolerante, muitas vezes descendo ao enxovalho e
à violência verbal desbragada.
O indivíduo político em causa cifrou na sua figura e no seu estilo tudo o
que de pior tem existido no ambiente conceptual da nação. Por isso não
admira que tenha sido o chefe sonhado e amado pelos seus asseclas, para
quem os antónios josés seguros e os antónios costas não passam de
passageiros secundários para a ocupação provisória da barca em que
apostavam por não terem outro remédio, mas que os não fazia esquecer do
“chefe” real onde se concentravam as suas nostalgias e as suas esperanças
de poderem voltar a dominar intengivelmente, mas muito consistentemente, o
País que ajudaram a depredar.
Os elogios e as declarações sistemáticas de reverência ao condottieri,
propiciadas pelos seus partidários intransigentes, seduzidos pelo seu
carisma de “animal feroz da política”
(expressão que traz bem o selo de um discurso cripto-fascista típico, pela
brutalidade da frase) não traduz senão a captura por um tipo de prática
política contra os interesses do Povo e da nação.
Não podem portanto os membros do Partido Socialista, que por excesso ou
por diferença consentiram no domínio interiorizado da mentalidade e da
postura material socrática, virem agora eximir-se a responsabilidades
alegando que uma coisa é a política em que se mergulham e, outra, as
responsabilidades do foro judicial em que ele – o político que sempre
epigrafaram e desculpabilizaram – está metido.
O caso de Sócrates é directamente dependente de um estilo e uma prática
política evidente, muito própria e muito marcada.
Pretenderem convencer-nos do contrário é apenas uma simulação mais que
agora tentam para sacudirem do capote a água pantanosa em que se deixaram
ir existindo!
ns
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |