Nova Série

 
 

 

 

 

 

NICOLAU SAIÃO
Um adeus brasileiro... um até à vista português

  Edson Cruz, editor e poeta, enviou anteontem aos colaboradores e confrades do seu espaço MUSA RARA – alguns dos quais também o haviam acompanhado noutros lugares e, ainda, nas jornadas da Bienal de Fortaleza – o seguinte texto: 

Olá,

até 29/12, colocarei uma última edição no ar da Musa Rara.

em 2015, vou dar uma parada e ficar um pouco distante de internet, para ler, escrever e estudar.

se quiser enviar um texto de despedida, será muito bem-vindo.

abraço e valeu por tudo. 

Paz e Vida Plena, 

                              edson cruz 

Eu respondi como segue: 

Meu caro Edson 

Recebi a notícia do próximo término da MUSA RARA e, na verdade, fico consternado.  Ainda que perceba perfeitamente e concorde que são lídimas as razões que aduz, encaro com tristeza o futuro desaparecimento de mais este espaço cultural. 

  Na verdade, num tempo em que um certo negrume da parte de instituições visa acorrentar o ser humano a novas prepotências e, pior ainda, em que novos e perigosos abusos partem frequentemente das mais altas instâncias do Estado, os espaços como a MUSA RARA são um lugar onde a salubridade e a limpeza da cultura viva pode constituir o contraponto fecundo e a oposição a esses ordálios que se acumulam contra a convivência de qualidade de pessoas apostadas num recto pensar e agir. 

  A dignidade e a honradez de propósitos não são passíveis de negociação. A Cultura viva e autêntica não pode ser tomada como um exigência incómoda e indevida, mas sim como uma naturalidade de seres livres num mundo onde a honestidade seja a regra.

 

 O abraço cordialíssimo e de apreço do seu 

 

                                                                                  nicolau saião

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.

Blog : Ablogando, em: http://ab-logando.blogspot.pt/