ANDAVAM OS BOROGOVES DESDITOSOS
Mas isso era lá na
antiga Borogóvia e eram só alguns. Os outros andavam, naquela altura
estival, mais ou menos bem - pois os olhos, colados pela propaganda
incessante dos aparatchikis do costume, parece que finalmente começavam a
abrir-se. E vai daí, fizeram saber às gentes do mando, mediante uma
manifestaçãozinha com alguns bons milhares, uma coisa absolutamente
intuitiva, fundacional: que os filhos da casa, proletas dos quatro
costados, têm, devem ter, precedência sobre os contratados que chegam de
fora e que, por norma, ainda por cima cospem no anzol depois de terem
comido a isca...
Puseram-se
desditosos os manos reaccionários, politicamente correctos que usam
apanhar bofetadas para não apanharem pontapés. Mas desta vez os proletas
não cederam e o “poor fellow prime minister” teve de se conformar e apanhar os
bonés todos. Assim o
fizesse também por cá o arteiro e manhoso premier e outro galo nos
cantaria. Mas este jovem cheio de talento prefere estomagar os reformados
e os outros demais portugueses, incluindo - chegou-se até a isto! - os
membros da ótoridade e do sistema judicial, que também não são,
convenhamos, flores que se cheirem
por aí além.
Mas
adiante: foram 4 dias muito bem passados, com gente fixe e talentosa e com
uma assisteência interessada que não me fez perder o meu tempo.
A funçanata teve lugar numa galeria perto do Strand, sítio que sempre me
emociona. Ainda ali perpassam as silhuetas do dr. Watson e do seu amigo do
cachimbo, do boné de abas e do amplo sobretudo em tecido príncipe de
Gales... O que tinha um faro mais acerado que um cão pisteiro...O nosso
"velho" Sherlock!
E as algumas iguarias, fornecidas por um entreposto luso pela mão, obra e
graça do alentejano compicha Manuel Caldeira, também estiveram muito
acertadas…
Custou-me
foi o regressar.
Sempre
que saio/entro neste belo, alegre e triste Portugal, é o mesmo panorama:
feliz por tornar ao lar mas curtidinho por dentro, como um couro, por ter
de voltar à "piolheira" - como dizia com vernáculo humor, nos seus tempos, o
juvenil príncipe D.Carlos... que depois deus teve em sua guarda.
Tenho de me deixar destas viagens. Transtornam-me, fazem-me sentir cada
vez menos português. E eu não queria, raios, porque até sou muito
patriota…
Para amenizar, aqui vos deixo um poema do acervo que lá fui apresentar.
Com, já e agora, uma certa enorme
saudade!
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |