“Estou firmemente convicto de que o desporto é o melhor meio de produzir
uma geração de cretinos perniciosos”, escrevia Léon Bloy, sem suspeitar de
que estas palavras proféticas poderiam em breve ser aplicadas a numerosas
gerações de todos os continentes. Sob a máscara do jogo, de que é a
caricatura senão mesmo a negação, ou, melhor ainda, do apolitismo e desta
forma falaciosa do internacionalismo acerca do qual já Charles Maurras
dizia: «esse internacionalismo não eliminará as pátrias, antes as
fortificará», o desporto alastra desde há um século como uma elefantíase
imunda. Nele não poupam os dirigentes de todos os países, não somente por
o considerarem um complemento do serviço militar mas porque – denuncia-o
também Benjamin Péret – enquanto «meio de embrutecimento» leva seguramente
a palma aos demais. O célebre treinador americano Knut Rockne não
imaginava até que ponto era certeiro quando afirmava: «Logo a seguir à
Igreja, a melhor coisa é o futebol». Mais explícito ainda, o barão Pierre
de Coubertin, promotor dos Jogos Olímpicos modernos, esclarece: «A
primeira característica essencial do antigo olimpismo bem como do
olimpismo moderno é o de ser uma religião. Ao cinzelar o corpo pelo
exercício à semelhança do escultor modelando a sua estátua, o atleta
antigo “honrava os deuses”. Copiando-o, o atleta dos nossos dias exalta a
pátria, a raça, a bandeira». Esta passagem torna-se tanto mais
significativa quanto é extraída de um prefácio à escandalosa olimpíada de
1936, inaugurada em Berlim por Hitler, onde o barão desportivo, promotor
da «arte de criar o puro-sangue humano», saudará «um dos maiores espíritos
construtores do nosso tempo», que «serviu magnificamente, sem o
desfigurar, o ideal olímpico».
Os ensurdecedores espectáculos dos ringues e dos estádios retratam a
organização da vida contemporânea, baseada na rivalidade e na
concorrência, numa palavra, na competição, cujos efeitos não poderiam ser
mais prejudiciais ao associativismo de Fourier. O campeão torna-se, em
geral, graças a ela, num profissional, num trabalhador modelo que, à força
de abstinência, paciência e suor, conquista o seu lugar ao sol poeirento
das grandes provas. Far-se-á dele um homem-sanduíche à escala da grande
imprensa e da televisão ou, melhor ainda, uma vedeta nacional, desde que,
note-se, a sua vida em família seja exemplar. Quer para o adepto activo
quer para o infame passivo, a suposta cultura física é habilmente erguida
numa barragem aos excessos da vitalidade libertadora do indivíduo, que
tenta escapar às garras do progresso técnico sem derramamento de sangue ou
aos danos de uma educação esclerosada. De origem escolar, o desporto
transforma-se numa dura escola onde, sob a orientação do instrutor
técnico, se aprende «a paixão da docilidade». O estádio é a porta grande
que leva ao mundo dos robots.
No centro desta exposição, a máquina de lavar todos os jornais, de
L’Aurore ao
L’Humanité, e do
New York Herald Tribune ao
Quotidiano do Povo, de Pequim,
terá de branquear, entre outras, uma profusão de omnipresentes páginas
desportivas. Tanto pior para algumas raras e, por vezes, magníficas fotos
de bólides em chamas invadindo arquibancadas a transbordar, antes de
explodirem: tal flash solene é a única luz apropriada a estes locais
sinistros.
Radovan Ivsic
Trad. Joaquim Simões
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |