(ao meu filho Pedro,
cientista)
Julian
P.Snyders, biólogo
do
Instituto Federal da velha terra dos
Iroqueses - os olhos
inteiramente iguais a qualquer de nós – observa
pelo
microscópio e vê: o cendrado da cor química
como as
folhas de uma tília às quatro da
manhã,
no pequeno espelho suporte do
aparelho desaparece – pouco a pouco. O instrumento
é assim
uma presença
viva. O
ruído
como de
aluvião em perpétuo movimento: a mosca
sobre a
mesa. Julian P.Snyders, marca
de
carne na sala mobilada, ou
António, Ezequiel, Isaías
Joaquim, Moisés, Absalão
nomes
muitos, como aves na noite e
na
encosta norte do seu próprio corpo
para
utensílios raros.
Julian
nota qualquer coisa incerta.
Rosada
na tarde
branca
de madrugada
como
máquina folicular ou elemento
primordial, sobe enfim a seus olhos o minúsculo
foco
sensível. Vega ou Hiperyon, a madeira e o
tempo
destruído. Em 22 de Fevereiro de 1952, um
jardim
cobria-se de novos silêncios e a
neve
era de novo a cicatriz aberta
na
cidade. Uma
lembrança de pastores, o
braseiro junto a muros derrocados, branco
fora e
dentro do mundo. Íntima devastação.
Antes
dizer: que esse
inteiramente só o achariam, surdos
trabalhos de alma, como objectos quebrados.
Julian
P.Snyders, olhando
retendo, erguendo, buscando
a quem
o deve atribuir, enquanto
cataclismo e criação? Nada
como
parede onde um prego susteve
imagem
e momento.
Aqui
estive, então
morto e
humilhado, acto
como
sombra e destino, imagem em nós
projectada. Julian, etc., incomum
a mim
como eu a ele – a natureza e sinal –
dissolve-se no tempo como um ardido
bosque
em
alto
caminho impossível.
(Nota – Julian P. Snyders, cientista
que trabalhou intensamente na descoberta do “sistema integrado cerebral”,
desapareceu no mar, por naufrágio do seu pequeno barco, pouco depois de
ter enviado uma carta ao director geral do seu Estado natal referindo que
estava à beira de criar um novo medicamento que resolveria graves
problemas neurológicos da sua especialidade).
ns
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Nicolau Saião –
Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista,
actor-declamador e artista plástico.
Participou em
mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia,
Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto
individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto,
Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha,
etc.
Em 1992 a
Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia
ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia
geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan”
(1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do
tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).
No Brasil foi
editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica
(“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed.
Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O
armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro
cantos”(antologia).
Fez para a
“Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos
de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o
mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos”
(2005).
Organizou,
coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade
em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas
sobre o 25 de Abril”.
Tem colaborado
em espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto),
“Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios,
“Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu),
“Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”,
“La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”,
“Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos),
“Revista 365”, “Laboratório de poéticas”(Brasil), “Revista Decires”
(Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...
Prefaciou os
livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas”
de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo
Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e
“Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora).
Nos anos 90
orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no
“Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado
mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março
de 2000 a Julho de 2003.
Organizou, com
Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso”
(1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).
Concebeu,
realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio
Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e
pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones
lusitanas”.
Até se
aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de
Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.
É membro
honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da
sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001,
a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e
cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.
Blog : Ablogando, em:
http://ab-logando.blogspot.pt/ |