NICOLAU SAIÃO

Mimos de sábado

Chegou-me ontem - e eu envio-vos hoje para dois minutos de fruição - este segmento de colaboração que Floriano Martins, habitante do Brasil e do mundo,tem estado a levar a cabo com diversos/as autores, neste caso com Manuel Íris. Uma junção feliz, a meu ver, entre o poeta do surpreendente "Alma em chamas" e o do não menos notável "Cuaderno de los sueños" que valeu a este mexcicano de Yucatán, actualmente professor de literatura na Univ. de Cincinatti, o Prémio Nacional de Poesia, Mérida 2010. 

Quiseram juntar-lhe as minhas ilustrações, dando-me assim um mimo de sábado-para-domingo... 

Para eles e para todos vós, o firme abrqs de estima com desejos de excelente semana!

  ns  

 

SO SWEET MY LITTLE GIRL

si tengo suerte 

un verso que no he dicho va a reír en tu muñeca

como si fuera una pulsera loca     un adelanto 

de la lluvia triste     de la urgencia de que sigas 

de que nunca sepas lo que esconde esa mañana

que bajaste de un columpio sin sentir

esa niñez que habías dejado atrás 

 

ve buscar tu larga risa que repite sin cesar las cuadernillas de misterio

por las alfombras del mismo sueño     mi dulce niña siempre cuida calentar las piedras de la lluvia     el mar que golpea su ventana     las pocas notas del relámpago

 

el olvido que se hace encanto y siempre regresa a la misma puerta 

en que una vez lloraste por un globo un pajarito muerto 

era ese llanto repetido y monótono de una tristeza ciega 

y no lloraste así cuando bajaste del columpio 

y  te quedaste allí     por siempre balanceándote     mi niña triste y dulce     

 

trilce   

                niña mía

 

SO SWEET MY LITTLE GIRL

se tenho sorte

um verso que não disse rirá em teu pulso

como se fosse uma pulseira louca     uma antecipação

da chuva triste     da urgência de que sigas

de que nunca saibas o que esconde essa manhã

em que desceste de um balanço sem sentir

essa infância que havias deixado para trás

 

busca teu longo riso que repete sem cessar os caderninhos de mistério

pelos travesseiros do mesmo sonho     minha doce menina sempre cuida de aquecer as pedras da chuva     o mar que bate em sua janela     as poucas notas do relâmpago

 

o esquecimento que se torna encanto e sempre regressa à mesma porta

em que uma vez choraste por um globo um passarinho morto

era esse pranto repetido e monótono de uma tristeza cega

e não choraste assim quando desceste do balanço

e ficaste ali     para sempre balançando-se     minha menina triste e doce

 

trilce

 

menina minha

 

SO SWEET MY LITTLE GIRL

If I’m lucky

a verse you didn’t say will laugh in your wrist

as if it were a crazy wristlet     an anticipation

of the blue rain     of the urgency that you move on

that you never know what this morning hides

in which you descended from a rocking without feeling

this childhood you had left behind

 

seek your long laughter which repeats without ceasing the small notebooks of mystery

through pillows of the same dream     my sweet girl always  handles warming the rains’ stones     the sea that hits your window     the few notes of the lightning

the oblivion that becomes charm and always returns to the same door

in which you once cried for a globe a dead bird

it was this repeated and monotonous mourning of a blind sadness

and you didn’t cry like this when you descended from the rocking

and stayed there     forever rocking yourself     my sad and sweet girl

 trilce 

girl of mine

 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.