Vejamos com ternura, calma e ponderação…e algum senso de humor de
carinhosa frescura: Eusébio de novo no Hospital com uma alegada
cervicalgia (raio de nome!); Mitt Romney a ganhar por oito votos ao seu
adversário mais directo e, como ele, candidato à Casa Branca que, tanto
por eles como por Obama, está em vias de ficar lívida; a notícia, que
circulou um pouco por todo o lado, que afinal a luz que se viu no céu de
Roma quando o nosso estimado Bento VI efectivava a sua compenetrada
declaração de fim de ano, não era como alguns mais seráficos alvitraram
(sem se comprometerem muito, como é apanágio de crentes de topo…) uma
dica do Ser Sagrado em apoio do discurso mas sim, mais prosaicamente, um
pedaço do satélite que está a cair aos poucos no corpo geral do terceiro
planeta; finalmente, algo que me diz respeito por meu mal: a primeira
vez que participei, aliás com uma quantia mínima, no Euromilhões, tive a
vergonha de acertar apenas num número – o que, dizem-me os entendidos –
revela uma extraordinária inabilidade para andar a tentar ficar fora da
crise por aqueles meios específicos.
Mas não é só por aqui que as coisas andam…peludas.
Hoje mesmo foi divulgado aos órgãos de comunicação, com gáudio de
alguns e franco repúdio de outros (e certa estupefacção da maioria pela
eventual perda de tempo e de energias por parte das entidade
propiciadora) que o MP tinha mandado abrir um inquérito a umas
declarações de Otelo Saraiva de Carvalho que, a meu ver, não primaram
pelo bom senso.
Foi caso, e cito,
que
“em
declarações à agência Lusa, a propósito de uma manifestação de militares
que estava marcada para dia 12 de Novembro, Otelo Saraiva de Carvalho
afirmou ser contra essas manifestações, mas defendeu que, se fossem
ultrapassados os limites, com perda de mais direitos, a resposta poderia
ser um golpe militar, que a concretizar-se seria mais fácil do que em
1974.
"Para mim, a
manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma
operação militar e derrubar o Governo", defendeu Otelo num comentário à
"manifestação da família militar".
Como habitualmente
- e o País sabe-o bem – o nosso homem mais uma vez colocou, como se diz
em vernáculo imaginativo “o carro à frente dos bois” ou, se preferirem
desta forma, “o pé na pôça”.
Posta assim a
traquitana noticiosa, achei que devia escrever uma coisinha no fórum do
Diário de Notícias e, tirando-me de meus cuidados, escrevi o que vai a
seguir:
“Fico surpreendido -
mas não muito - com este afã de abrirem um inquérito a um velho, por
muito desconchavado que este seja eventualmente.
E mais: Otelo, que é
um ingénuo (se o não fôsse não falaria, agiria pela sombra) limitou-se a
dizer o que muita gente pensa, pois o ambiente do País é uma vergonha:
de abuso, arrogancia e prepotencia.
Pergunto: porque não
se mostraram tão lépidos em relação a um aventureiro, Sócrates, e à sua
"entourage" - eles que tanto prejudicaram a Pátria e buscam continuar?
Acho esta atitude da PGR um acto discriminatório - mesmo sendo, como
sou, opositor de Otelo.
Temo que tudo isto
acabe mal para a Nação!”.
Dito isto, urge
tecer algumas considerações: os militares, os do activo (jovens, fortes,
galhardos) que se manifestaram, imediatamente desaprovaram as palavras
de Otelo. No seu entender, num país democrático (pelo menos que se rege
ainda por algumas regras que os cleptocratas e abusadores
nefandos deixaram por enquanto de pé) as Forças Armadas respeitam a
legalidade expressa pelo voto popular. Ademais, tal como por exemplo eu
e muitos (estou seguro) milhões, não acreditam que isto “vá ao sítio”
através de golpes de Estado ou outra parafernália do catálogo prafrentex.
O que de facto faz
falta é primeiramente limpar-se o Sistema Judicial, para a seguir se
poder proceder a reformas controladas pelos representantes livres do
Povo (e não me refiro apenas a deputados, mas a grupos legais de
cidadãos, também) e incrementadas pelo governo eleito laborando em
sãos propósitos.
Creio que todos os
cidadãos sensatos concordarão, com o sem outro articulado específico.
Aduza-.se, ainda,
que o sr.Bastonário da OA – e não acredito que ele não perceba de Leis!
– declarou de pronto e acertadamente a meu ver que, e cito, discorda
de Otelo mas diz que ter opinião "não é crime".
A esta luz, como entender a abertura do
inquérito que se antolha?
Receio de que as
palavras do velho abrilista tenham dado ideias fundibulárias aos moços
guerreiros mais espevitados? Tentativa de os morigerar mediante um toque
a sentido com o espectro dum cacete por detrás? Recadinho ao Povo para
que não tente desagachar-se e continue a dar o pêlo, a lã e a carne aos
que nos ensanduicharam na troika? Forma hábil de mostrar que se alguém
piar muito a repressão e os seus filhos dilectos, os tribunais desta
nação, lhes farão a folha?
Tudo isto se pode
conjecturar – mas eu prefiro concluir que deve ter sido por complexo
(ainda) interiorizado nos escaninhos espirituais de antigos partidários
da” velha senhora” reciclados em democratas. Mas para quê “gritar lobo”?
Ou talvez me engane
– e seja por razões muito diferentes. Quais?
Não sei, francamente
– se eu nem sequer sirvo para acertar em mais que um dos números do
Euromilhões…!
Recebam
o proverbial abrqson de Janeiro do vosso et nunc et semper
ns |