NICOLAU SAIÃO
NO DIA DO SEU FALECIMENTO
Saravah, hermano Saraiva

Irmão Saraiva, amigo Saraiva, compadre Saraiva, Dr. Saraiva ou, tão simplesmente, José Hermano Saraiva.

Companhia proveitosa de tantos programas televisivos com cabeça, tronco e membros, este era um homem que aqui neste espaço se estimava. Creio dizer bem – e foi há cerca de meia hora que soube do seu falecimento.

Eu hoje andei por fora, com amigos de fresca data e só há bocadinho voltei ao ninho portalegrense do Atalaião. E foi a minha neta, que também gostava dele, quem me deu a notícia.

Conheci este homem em 2001, quando me deu o gosto de entrar num programa dele, desta feita sobre José Régio, em vista de eu ser nessa altura o responsável do Centro de Estudos da Casa-Museu do autor de “Davam grandes passeios ao domingo…”.

Maria José Maçãs, responsável da Casa José Régio, José Hermano Saraiva e Nicolau Saião no átrio do museu

Durante uma manhã e uma tarde – tempo usado nas filmagens e num almoço à maneira na apreciada “Casa Poeiras”, mesmo ao lado do Palácio dos condes de Avilez – conversámos as três conversadas, como se diz em vernáculo alentejano. Ou para ser mais exacto: eu ouvi-o principalmente, não porque ele monopolizasse a conversa mas sim porque era um gosto ouvir o seu discurso entusiasmado, interessante e vivo, repleto ora de imagens ora de informações cheias de propósito. A vitalidade daquele homem, na altura já com 82 anos, era impressionante. E era uma coisa extraordinária contemplá-lo ali ao vivo, com os maneirismos e características celebrizadas pela tv…!

Um personagem, um historiador e um ser humano que me foi grato conhecer.

Aqui o evoco e celebro, hermano nosso.

Saravah, Dr. Saraiva!

  ns

 

 

Nicolau Saião – Monforte do Alentejo (Portalegre) 1946. É poeta, publicista, actor-declamador e artista plástico.  

Participou em mostras de Arte Postal em países como Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e Austrália, além de ter exposto individual e colectivamente em lugares como Lisboa, Paris, Porto, Badajoz, Cáceres, Estremoz, Figueira da Foz, Almada, Tiblissi, Sevilha, etc.   

Em 1992 a Associação Portuguesa de Escritores atribuiu o prémio Revelação/Poesia ao seu livro “Os objectos inquietantes”. Autor ainda de “Assembleia geral” (1990), “Passagem de nível”, teatro (1992), “Flauta de Pan” (1998), “Os olhares perdidos” (2001), “O desejo dança na poeira do tempo”, “Escrita e o seu contrário” (a sair).    

No Brasil foi editada em finais de 2006 uma antologia da sua obra poética e plástica (“Olhares perdidos”) organizada por Floriano Martins para a Ed. Escrituras. Pela mão de António Cabrita saiu em Moçambique (2008), “O armário de Midas”, estando para sair “Poemas dos quatro cantos”(antologia).       

Fez para a “Black Sun Editores” a primeira tradução mundial integral de “Os fungos de Yuggoth” de H.P.Lovecraft (2002), que anotou, prefaciou e ilustrou, o mesmo se dando com o livro do poeta brasileiro Renato Suttana “Bichos” (2005).  

Organizou, coordenou e prefaciou a antologia internacional “Poetas na surrealidade em Estremoz” (2007) e co-organizou/prefaciou ”Na Liberdade – poemas sobre o 25 de Abril”. 

Tem colaborado em  espaços culturais de vários países: “DiVersos” (Bruxelas/Porto), “Albatroz” (Paris), “Os arquivos de Renato Suttana”, “Agulha”, Cronópios, “Jornal de Poesia”, “António Miranda” (Brasil), Mele (Honolulu), “Bicicleta”, “Espacio/Espaço Escrito (Badajoz), “Bíblia”, “Saudade”, “Callipolle”, “La Lupe”(Argentina) “A cidade”, “Petrínea”, “Sílex”, “Colóquio Letras”, “Velocipédica Fundação”, “Jornal de Poetas e Trovadores”, “A Xanela” (Betanzos), “Revista 365”, “Laboratório de poéticas” (Brasil), “Revista Decires” (Argentina), “Botella del Náufrago”(Chile)...  

Prefaciou os livros “O pirata Zig-Zag” de Manuel de Almeida e Sousa, “Fora de portas” de Carlos Garcia de Castro, “Mansões abandonadas” de José do Carmo Francisco (Editorial Escrituras), “Estravagários” de Nuno Rebocho e “Chão de Papel” de Maria Estela Guedes (Apenas Livros Editora). 

Nos anos 90 orientou e dirigiu o suplemento literário “Miradouro”, saído no “Notícias de Elvas”. Co-coordenou “Fanal”, suplemento cultural publicado mensalmente no semanário alentejano ”O Distrito de Portalegre”, de Março de 2000 a Julho de 2003. 

Organizou, com Mário Cesariny e C. Martins, a exposição “O Fantástico e o Maravilhoso” (1984) e, com João Garção, a mostra de mail art “O futebol” (1995).  

Concebeu, realizou e apresentou o programa radiofónico “Mapa de Viagens”, na Rádio Portalegre (36 emissões) e está representado em antologias de poesia e pintura. O cantor espanhol Miguel Naharro incluiu-o no álbum “Canciones lusitanas”.  

Até se aposentar em 2005, foi durante 14 anos o responsável pelo Centro de Estudos José Régio, na dependência do município de Portalegre.  

É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. Em 1992 o município da sua terra natal atribuiu-lhe o galardão de Cidadão Honorário e, em 2001, a cidade de Portalegre comemorou os seus 30 anos de actividade cívica e cultural outorgando-lhe a medalha de prata de Mérito Municipal.